A Sala da Paz, que junta organizações da sociedade civil para a observação eleitoral em Moçambique, alertou hoje para o "agravamento de intolerância política" e pediu "menos participação" de menores na campanha para as eleições de 09 de outubro.
"Há registo de atos de intolerância política que têm como protagonistas o empresariado local, especialmente os que operam no ramo de hotelaria e turismo, que de forma discriminatória tem estado a impedir e a abster-se de prestar serviços de hotelaria a representantes de algumas formações políticas", denunciou hoje Teresa Xavier, da Associação das Mulheres na Comunicação Social, que faz parte da plataforma Sala da Paz.
Em conferência de imprensa para apresentar o relatório sobre os primeiros 30 dias de campanha eleitoral, a responsável detalhou que "os casos mais graves" de intolerância política foram registados nas províncias de Sofala, Manica, Inhambane, Nampula e Tete.
"Os casos de intolerância política tendem a agravar-se, com casos recentes ligados à destruição de material de propaganda, incêndio de viaturas e residências de membros de partidos políticos", declarou Teresa Xavier, acrescentando que a plataforma está preocupada com a ocorrência de ilícitos eleitorais e vandalização de material de propaganda, sobretudo na província de Sofala, com mais casos.
A organização de sociedade civil denunciou igualmente a participação de menores, referindo que observou o seu envolvimento em 44% dos eventos de atividades de "caça ao voto".
"Deste número, 27% aparentavam integrar ações de campanha voluntariamente e outros 17% aparentavam ter recebido instruções partidárias para o efeito. As crianças e adolescentes têm sido vistas carregando bandeiras e participando ativamente das manifestações", declarou a responsável.
Ainda no seu balanço, a Sala da Paz voltou a denunciar o envolvimento de funcionários públicos em atividades de campanha, referindo igualmente que persiste o uso de meios públicos, sobretudo pelas formações políticas com representação no Parlamento moçambicano.
"As províncias de Nampula, Inhambane e Gaza têm registado maior número de irregularidades desta natureza, em que a Sala da Paz constatou que o partido Frelimo, embora com alguma redução de casos na primeira quinzena da campanha eleitoral, continua a ser o partido que mais beneficia do uso dos bens e funcionários públicos", referiu Teresa Xavier.
Moçambique realiza em 09 de outubro as eleições presidenciais, que vão decorrer em simultâneo com as legislativas e eleições dos governadores e das assembleias provinciais.
Mais de 17 milhões de eleitores estão inscritos para votar, incluindo 333.839 recenseados no estrangeiro, segundo dados oficiais.
Concorrem à Presidência Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), no poder, Ossufo Momade, apoiado pela Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), maior partido da oposição, Lutero Simango, apoiado pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceira força parlamentar, e Venâncio Mondlane, apoiado pelo Partido Otimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos).