A estatal Electricidade de Moçambique (EDM) anunciou hoje que foi "restabelecida a produção" de energia em duas centrais termoelétricas cuja atividade tinha sido suspensa no sábado, após "consensos com os manifestantes", que protestam contra o processo eleitoral.
Em causa, explicou a EDM, estava o fornecimento de energia "de forma condicionada" que se verificava nas centrais térmicas de Ressano Garcia (CTRG) e da Gigawatt, na vila de Ressano Garcia, província de Maputo, devido a ameaças de manifestantes.
"Após trabalho de sensibilização no terreno e consensos com os manifestantes, foi restabelecida a produção de energia nas referidas centrais, bem como o normal fornecimento de energia a todos os clientes na região sul do país", refere a EDM, em comunicado divulgado hoje.
A elétrica estatal acrescenta que "continua a monitorar a situação de perto e apela ao público em geral a devida colaboração e apoio, de modo a garantir a proteção das infraestruturas de produção e fornecimento de eletricidade, sendo a energia elétrica um bem público indispensável para o dia-a-dia de todos os cidadãos".
"Receando consequências inesperadas", tanto a central da CTRG como da Gigawatt, "viram-se forçadas a interromper a produção de energia, na ordem de 250 Megawatts (MW) no total, por um período indeterminado", anunciou no sábado a EDM, em comunicado, reconhecendo então que a situação estava a "provocar um défice da capacidade de fornecimento de energia elétrica às províncias de Maputo, Gaza, Inhambane, bem como à cidade de Maputo, na ordem de 150MW, capacidade que alimenta cerca de 30% da demanda das províncias da região sul".
O comunicado referia também que "face ao ocorrido, a EDM viu-se forçada a fazer restrições de fornecimento de energia a zona sul do país, de forma programada e rotativa, visando minimizar o impacto da paralisação daquelas centrais sobre os consumidores".
A Plataforma Eleitoral Decide, Organização Não-Governamental (ONG) moçambicana que monitoriza os processos eleitorais, divulgou na sexta-feira que pelo menos 90 pessoas morreram nas manifestações pós-eleitorais no país desde 21 de outubro, além de 294 pessoas baleadas e 3.496 detidas.
O candidato presidencial Venâncio Mondlane apelou para uma nova fase de contestação eleitoral de uma semana, de 04 a 11 de dezembro, em "todos os bairros" de Moçambique, com paralisação da circulação automóvel das 08:00 às 16:00 locais.
"Todos os bairros em atividade forte", disse Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados anunciados das eleições gerais de 09 de outubro, numa intervenção através da conta oficial na rede social Facebook.
Tal como aconteceu na fase anterior de contestação, de 27 a 29 de novembro, o candidato presidencial pediu que as viaturas parem de circular das 08:00 às 15:30, seguindo-se então 30 minutos para se entoar os hinos de Moçambique e de África nas ruas, o que se verificou nos últimos quatro dias em várias artérias centrais, nomeadamente, de Maputo.
"Vamo-nos manifestar de forma ininterrupta, sem descanso. Vão ser sete dias cheios (...). Todas as viaturas, tudo o que se move, fica parado", insistiu, pedindo aos automobilistas para colarem cartazes de contestação nas viaturas que circulem até às 08:00 e depois das 16:00.
O anúncio pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) de Moçambique, em 24 de outubro, dos resultados das eleições de 09 de outubro, em que atribuiu a vitória a Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido no poder desde 1975) na eleição para Presidente da República, com 70,67% dos votos, espoletou protestos populares, convocados pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane e que têm degenerado em confrontos violentos com a polícia.
Segundo a CNE, Mondlane ficou em segundo lugar, com 20,32%, mas este não reconhece os resultados, que ainda têm de ser validados e proclamados pelo Conselho Constitucional.