Moçambique. Reitor da Católica pede aos juízes do Constitucional para despirem "capa política"
O reitor da Universidade Católica de Moçambique (UCM) pediu aos juízes do Conselho Constitucional para despirem a "capa política" e apurarem a "verdade eleitoral", para resolver os conflitos no país desde as eleições de outubro.
"É chegada a hora dos juízes do Conselho Constitucional renunciarem e despirem-se da capa política para credibilizar todo este processo, divulgar os resultados a partir das evidências que até agora estão sendo apresentadas e que sirvam de matéria de análise. O Conselho Constitucional tem a responsabilidade de analisar e dizer à sociedade sobre a verdade eleitoral, de uma forma mais técnica para credibilizar aquele órgão", afirmou, na segunda-feira, na Beira, o reitor da UCM, Filipe Sungo.
"Neste momento de crise, enquanto se aguarda a proclamação dos resultados pelo Conselho Constitucional, toda a sociedade moçambicana devia promover encontros de paz e apelar à não a violência em Moçambique", defendeu.
O candidato presidencial Venâncio Mondlane apelou na segunda-feira para um novo período de manifestações em Moçambique, durante três dias, a partir de quarta-feira, em todas as capitais provinciais, contestando o processo eleitoral.
"Vamos nos manifestar nas fronteiras, nos portos e nas capitais provinciais. Todas as 11 capitais provinciais (...) Vamos paralisar todas as atividades para que percebam que o povo está cansado", pediu Venâncio Mondlane, numa transmissão em direto na conta oficial na rede social Facebook.
O responsável falava sobre a "quarta etapa" de contestação ao processo das eleições gerais de 09 de outubro, a qual terá "várias fases", a anunciar posteriormente, sendo também contra os "raptos e sequestros" e "contra o assassinato do povo".
"Durante três dias vamos nos manifestar. Depois faremos uma pausa", afirmou, na mesma intervenção, que disse ser feita desde "o exílio", pedindo a concentração da população de todos os distritos, até sexta-feira, em cada capital provincial, incluindo Maputo.
Um protesto que pediu para ser alargado aos portos e às fronteiras do país, e aos corredores de transporte que ligam estas infraestruturas, apelando à adesão dos camionistas: "Não obrigamos ninguém a aderir à manifestação. Passamos os valores da manifestação e quem quiser adere".
Sobre o impacto da manifestação nacional de 07 de novembro em Maputo, que levou a capital moçambicana a um dia de caos, afirmou que nunca foi intenção realizar um golpe de Estado.
"Se quiséssemos fazer um golpe de Estado, teríamos feito", disse, garantindo: "Nós não vamos desistir, nós não vamos recuar. Já mataram muita gente".
Pelo menos cinco pessoas morreram, 38 foram baleadas e 164 detidas em Moçambique em 07 de novembro, último dia da terceira etapa das manifestações convocadas pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, divulgou hoje a organização não-governamental (ONG) moçambicana Plataforma Eleitoral Decide.
Moçambique, e sobretudo Maputo, viveram paralisações de atividades e manifestações convocadas desde 21 de outubro por Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados das eleições gerais anunciados pela Comissão Nacional de Eleições, e de acordo com os quais Daniel Chapo e a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido no poder) venceram o escrutínio.
As manifestações, maioritariamente violentas, deixaram um rastro de destruição em Maputo, com registo de mortos, feridos, detidos, infraestruturas destruídas e estabelecimentos comerciais saqueados, sobretudo em 07 de novembro.
Segundo dados apresentados por aquela ONG moçambicana, três das mortes ocorreram em Maputo, uma na província de Inhambane (sul), e outra na província de Tete (centro).
A plataforma Decide contabilizou igualmente 38 baleados, apresentando a cidade de Maputo o maior número de casos (32), seguida da província de Inhambane com três, província de Maputo com um, em igual número com as províncias da Zambézia, no centro do país e de Tete.
A ONG indicou ainda que das 164 pessoas detidas, em confrontos entre manifestantes e a polícia, 61 casos foram registados na capital do país.