Pelo menos 280 reclusos foram recapturados, de um total 1.534 que fugiram de estabelecimentos penitenciários de Maputo, capital moçambicana, e foi criada uma comissão de inquérito para investigar o caso, anunciou hoje o vice-ministro da Justiça de Moçambique.
"Tivemos cerca de 1.534 evadidos, dos quais 100 do lado do estabelecimento penitenciário de máxima segurança e os restantes (...) do estabelecimento provincial de Maputo. [Do total], já foram recapturados 280 [reclusos]", disse à comunicação social Filimão Suaze, vice-ministro da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos de Moçambique, após visitar os estabelecimentos penitenciários, em Maputo.
Dos 280 reclusos, mais de 100 foram recapturados na sexta-feira, avançou o governante, referindo que a maior parte dos fugidos foram devolvidos à prisão pelos seus familiares e outros apresentaram-se às autoridades voluntariamente.
"Boa parte destes números têm sido [registados] graças à colaboração das famílias que denunciam a chegada a casa dos seus familiares fora do tempo [de reclusão] previsto e facilmente percebem que é dentro deste esquema de fuga", disse.
O vice-ministro da Justiça rebateu ainda as alegações sobre a colaboração das autoridades na fuga dos reclusos, avançando que foi instaurada uma comissão de inquérito para perceber como terá sido preparada a evasão.
"Se a intenção fosse nossa, que nunca seria mesmo porque seria estranho, de simplesmente abrir os portões e libertar reclusos, teríamos feito porque as chaves estão connosco, é uma questão de abrir as portas e permitir que as pessoas saiam e não tínhamos de passar por um exercício de destruição massiva como se passou aqui", disse Suaze.
De acordo com o responsável, durante a evasão foram incendiadas algumas "instalações tecnicamente chave" dos estabelecimentos penitenciários, entre os quais o setor de controlo penal, processos e computadores, em alguns dos quais foram retiradas unidades de disco rígido.
"O curioso é que em algumas situações, antes de incendiar os computadores, retiraram as [unidades de disco rígido], sinal de que se tratou de uma operação feita com alguma preparação. Sob o ponto de vista tecnológico, não é qualquer recluso que sabe da utilidade de uma [unidade de disco rígido], pelo menos a maior parte", referiu Filimão Suaze.
Moçambique vive desde segunda-feira uma nova fase de tensão social, na sequência de protestos contra os resultados das eleições gerais que culminaram com confrontos entre manifestantes e a polícia.
Os 1.534 reclusos evadiram-se das cadeias na tarde de 25 de dezembro, anunciou, no mesmo dia, o comandante-geral da polícia, afirmando tratar-se de uma ação "premeditada" e da responsabilidade de manifestantes pós-eleitorais e em que morreram 33 pessoas.
"Esperamos nas próximas 48 horas uma subida vertiginosa de todo o tipo de criminalidade na cidade de Maputo", afirmou Bernardino Rafael, garantindo que entre os reclusos em fuga estão 29 "terroristas", alguns "altamente perigosos".
O Conselho Constitucional (CC) proclamou na segunda-feira Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), como vencedor da eleição a Presidente da República, com 65,17% dos votos, sucedendo no cargo a Filipe Nyusi, bem como a vitória da Frelimo, que manteve a maioria parlamentar, nas eleições gerais de 09 de outubro.
Este anúncio provocou novo caos em todo o país, com manifestantes pró-Venâncio Mondlane - que obteve apenas 24% dos votos - nas ruas, barricadas, pilhagens e confrontos com a polícia, que tem vindo a realizar disparos para tentar a desmobilização.
Pelo menos 134 pessoas morreram desde segunda-feira nas manifestações pós-eleitorais em Moçambique, elevando a 261 o total de óbitos desde 21 de outubro, e 573 baleados, segundo o último balanço feito pela plataforma eleitoral Decide.