Uma pessoa morreu e outras três ficaram feridas na quarta-feira em resultado de uma rebelião na cadeia regional de Mabalane, na província moçambicana de Gaza, sul do país, anunciou hoje a Polícia da República de Moçambique (PRM).
"A rebelião aconteceu no maior pavilhão penitenciário de Mabalane. Cerca de 20 reclusos incendiaram quatro pavilhões, para tentar fragilizar o sistema de segurança e evadir-se. A confrontação resultou em óbito", disse Júlio Nhamussua, porta-voz da PRM em Gaza, em declarações à comunicação social.
Segundo o porta-voz, o grupo pretendia colocar em liberdade cerca de 300 reclusos e, de seguida, fugir para se juntar aos manifestantes que protestam contra os resultados eleitorais quase por todo o país.
"Na confrontação direta com os reclusos no interior da cadeia, três ficaram gravemente feridos e um conseguiu fugir. Há operações seguintes de busca para a sua recaptura", acrescentou Júlio Nhamussua.
Também na quarta-feira, na capital moçambicana, pelo menos 1.534 reclusos evadiram-se da Cadeia Central de Maputo, de máxima segurança, disse o comandante-geral da polícia, afirmando tratar-se de uma ação "premeditada" e da responsabilidade de manifestantes pós-eleitorais em que morreram 33 pessoas.
Numa intervenção a partir da rede social Facebook, Venâncio Mondlane acusou as autoridades de terem propositadamente deixado sair estes reclusos, com o objetivo de manipular as massas e desviar o foco da sociedade.
"Foi tudo propositado. São técnicas de manipulação de massas à moda dos serviços secretos soviéticos (...) para que as pessoas parem de falar na fraude eleitoral. Querem desviar o nosso foco", declarou Mondlane, acusando também as autoridades de terem "sacrificado" alguns dos reclusos evadidos.
O Conselho Constitucional de Moçambique proclamou na segunda-feira Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), como vencedor da eleição a Presidente da República, com 65,17% dos votos, sucedendo no cargo a Filipe Nyusi, assim como a vitória da Frelimo, que manteve a maioria parlamentar, nas eleições gerais de 09 de outubro.
Este anúncio provocou o caos em todo o país, com manifestantes pró-Venâncio Mondlane - que segundo o Conselho Constitucional obteve apenas 24% dos votos - nas ruas, barricadas, pilhagens e confrontos com a polícia, que tem vindo a realizar disparos para tentar a desmobilização.
Pelo menos 252 pessoas morreram nas manifestações pós-eleitorais em Moçambique desde 21 de outubro, metade das quais apenas desde o anúncio dos resultados finais, segundo novo balanço feito na quinta-feira pela plataforma eleitoral Decide.
De acordo com o mais recente balanço daquela Organização Não-Governamental (ONG) moçambicana que monitoriza os processos eleitorais, com dados até às 09:00 (menos duas horas em Lisboa) de quinta-feira, só desde 23 de dezembro já morreram nestas manifestações 125 pessoas, das quais 34 na província de Maputo e 18 na cidade capital, sul do país.
Há ainda registo de 26 mortos na província de Nampula (norte) e 33 em Sofala em menos de três dias.