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Moçambique. Portugal vai enviar militares para formação e embaixada presta apoio

por RTP
Luís Miguel Fonseca - EPA

Augusto Santos Silva confirmou, em entrevista ao Telejornal, que Portugal vai enviar uma equipa de 60 militares para ações de formação com as Forças Armadas moçambicanas, num plano bilateral de cooperação com Moçambique para ajudar a combater os jihadistas na cidade de Palma. O ministro dos Negócios Estrangeiros explicou que os serviços diplomáticos já estão a estabelecer contactos com os portugueses que vivem e trabalham na cidade de Pemba, na região de Cabo Delgado. A situação dos deslocados é preocupante e as agências humanitárias enfrentam dificuldades.

De acordo com o ministro dos Negócios Estrangeiros, foi criada uma equipa liderada pela cônsul-geral em Maputo, que se encontra em Pemba e vai referenciar os portugueses que se encontram no local.

Vai ser estudado quem precisa de apoios sociais e humanitários e as 15 empresas portugueses que se encontram no local vão ser contactadas.

Sobre o português que sofreu ferimentos, Santos Silva explicou que o mesmo se encontra em Joanesburgo e que o seu tratamento está a ser seguido.

Quanto ao envio de tropas para o terreno, para ajudar Moçambique a travar a ameaça jihadista em Cabo Delgado, o chefe da diplomacia portuguesa explica que isso só poderia ser considerado se houvesse um pedido das autoridades moçambicanas. Algo que não acontece.
Os primeiros elementos do contingente português que vai ajudar na formação das forças militares moçambicanas partirão na primeira quinzena de abril.
A vila sede de distrito com 42 mil habitantes, que acolhe os grandes projetos de gás do norte de Moçambique foi atacada na quarta-feira por grupos insurgentes que há três anos e meio aterrorizam a região. Dezenas de civis, incluindo sete pessoas que tentavam fugir do principal hotel, foram mortos pelo grupo armado.

O ataque foi reivindicado pelo grupo terrorista Estado Islâmico.

São já 700 mil deslocados no norte de Moçambique. O ataque dos jihadistas à povoação de Palma provocou o maior número de sempre de deslocados desde o início da ofensiva dos fundamentalistas islâmicos.

Muitas pessoas refugiaram-se no mato e passaram vários dias sem água nem alimentos, havendo operações de resgate para os levar em segurança para Pemba.

A violência já causou mais de 2.000 mortes e quase 700 mil deslocados.
Pentágono disponível na luta contra ISIS
O ministro português dos Negócios Estrangeiros revelou que ainda falta saber a decisão europeia para haver missões de apoio logístico e sanitário em Moçambique.

Entretanto, o Pentágono já se mostrou determinado em apoiar a luta contra o Daesh ou ISIS. Os Estados Unidos pretendem cooperar com o governo moçambicano para atingir esse objetivo.

A disponibilidade foi afirmada pelo porta-voz do Pentágono, John Kirby.

O responsável do Departamento de Defesa reagia, em Washington, ao ataque dos insurgentes que os Estados Unidos designam de ISIS-Moçambique (também conhecidos como Ansar al-Sunna) contra a vila de Palma, que terá feito dezenas de mortos entre civis.

"Continuamos determinados a cooperar com o governo de Moçambique no contraterrorismo e no combate ao extremismo violento e a derrotar o ISIS", afirmou Kirby, numa declaração condenando o ataque.

Os ataques "demonstram uma total falta de respeito pelo bem-estar e segurança da população local, que sofre terrivelmente com as táticas brutais e indiscriminadas dos terroristas", adiantou.

O Estado Islâmico já reivindicou o ataque e até o controlo da vila, próxima da península de Afungi, epicentro dos projetos de gás natural moçambicanos.

Kirby não explicitou de que forma o Departamento de Defesa poderá apoiar no caso específico de Palma. Em meados de março, o Departamento de Estado norte-americano designou como terroristas o ISIS-Moçambique e o seu líder Abu Yasir Hassan, estimando a morte de mais de duas mil pessoas.

Também a Organização das Nações Unidas (ONU) condenou "veementemente" os ataques ocorridos em Palma. Mostrou-se disponível para "proteger os civis, restaurar a estabilidade e levar os autores" dos "atos hediondos à justiça".

A ONU assegurou que está a ser realizada uma estreita coordenação "com as autoridades locais para prestar assistência às pessoas afetadas pela violência".

Também o Ministério das Relações Exteriores do Brasil ofereceu pronta cooperação ao Governo de Moçambique para combater os ataques terroristas perpetrados, na última semana, na província de Cabo Delgado, no norte moçambicano.

A África do Sul enviou um avião militar ao norte de Moçambique onde há pelo menos 43 sul-africanos afetados pelos recentes atentados terroristas
Palma é uma cidade fantasma
De acordo com o repórter da RTP em Moçambique, Pedro Martins, a cidade de Palma é um local fantasma após os ataques do autoproclamado Estado Islâmico e da fuga de muitas pessoas para Pemba.

São milhares de pessoas os que fogem da vila de Palma, em Moçambique. Depois de enfrentar o perigo da morte pelos grupos terroristas islâmicos que assolam a região, agora estão a enfrentar outras dificuldades como a fome e a sede.

Dormem ao relento, em condições muito precárias, para escapar dos ataques terroristas, que começaram há quase uma semana, naquela localidade da região de Cabo Delgado.

Pelo menos mil pessoas que fugiram de Palma, incluindo muitas crianças, estavam até segunda-feira refugiadas na península de Afungi a pedir água, comida e transporte à petrolífera Total e às autoridades moçambicanas.

Além de Afungi, a população fugiu também em direção ao norte.

Os residentes passam dias a caminhar, sem comida e sem água, um relato que se repetiu durante 2020 após cada grande ataque que fez do ano o mais grave da crise humanitária em Cabo Delgado - levando o número de deslocados de 156.400 para quase 700.000, quatro vezes mais.
Agências humanitárias sem apoios
Sem ajuda, a fome ganha terreno e há pessoas que passam mais de dois dias sem comer.

As agências humanitárias das Nações Unidas enfrentam falta de dinheiro para socorrer o norte de Moçambique e faltam 'stocks' de itens essenciais, como comida e medicamentos, disserem à agência Lusa duas fontes da organização.

Os doadores ainda só cobriram 10% do apelo de 254,4 milhões de dólares (216,31 milhões de euros) feito em dezembro para apoiar Cabo Delgado, numa altura em que ainda não se contava com o agravamento decorrente do ataque a Palma, referiu fonte oficial.

A situação é crítica, acrescentou à Lusa outra fonte humanitária no terreno: nalguns casos, os itens à disposição da assistência humanitária satisfazem 30% das necessidades identificadas.

Algumas comunidades deslocadas já nem aceitam receber equipas técnicas para realização de levantamentos caso não levem comida. "Se não tem comida, não vale a pena", disse.

No terreno, quem presta ajuda humanitária pede um reforço de 'stocks' que, para já, não se sabe de onde virá, alertando em especial para o impacto da desnutrição infantil, que terá reflexos por muitos anos.

Além de comida (o kit habitual inclui arroz, milho ou feijão e óleo), faltam os itens não alimentares (roupa, abrigo e utensílios básicos para cozinhar) e medicamentos.

Antibióticos fazem parte da lista de necessidades, além de antidiarreicos (baseados em zinco) e antimaláricos, específicos para Cabo Delgado onde a cólera está sempre à espreita e a malária está entre as principais causas de morte.

"O que está em armazém não chega", disse a fonte ligada à ONU, temendo o impacto acrescido dos deslocados pelo ataque a Palma.

A coordenadora residente das Nações Unidas em Moçambique, Myrta Kaulard, chega entretanto a Pemba para acompanhar a situação juntamente com as autoridades moçambicanas.
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