Moçambique. O que se pode esperar dos protestos "ponta de lança" de Mondlane?
O líder da oposição moçambicana, Venâncio Mondlane, tinha anunciado que iria começar no país mais uma ronda de tumultos já a partir desta segunda-feira, numa operação que definiu como "ponta de lança". Ao final de domingo, porém, pediu à população que votasse para adiar ou não por cinco dias o avanço de novas medidas de protesto, depois de pedidos de várias instituições internacionais. Para além do caos, reina agora também a imprevisibilidade no país.
"O nosso alvo vai ser um alvo muito certeiro: ministérios, governos provinciais, governos distritais, órgãos eleitorais, sedes do partido Frelimo, Presidência da República", enumerou.
O líder da oposição apelou também a uma greve geral, pedindo que ninguém vá trabalhar nesta segunda-feira.
Forças Armadas poderão defender manifestantes
Entrevista à CNN Portugal, Mondlane explicou que esta fase antecipa “o momento derradeiro do processo do calendário eleitoral”, já que até meados de janeiro deve tomar posse o presidente da República.
“Nesta fase derradeira, nós vamos ter um conjunto de medidas, de manifestações de repúdio, de protestos e serão totalmente diferentes das cerca de quatro fases anteriores, que iniciaram praticamente no dia 21 de outubro até à última sexta-feira”, declarou.
“Certamente que não vou dar detalhes sobre isso, por razões óbvias, mas não passam nem mais, nem menos do que a continuidade dos protestos”.
Mondlane disse estar “mais do que provado” que o acórdão do Conselho Constitucional que confirmou a vitória de Daniel Chapo não é válido.
O líder da oposição negou ainda a intenção de armar a população de Moçambique. “Não me referi propriamente a armar a população, aliás, desde início sempre nos identificámos como um movimento meramente civil”, assegurou.
“O que eu disse é que está a acontecer uma chacina em Moçambique em relação aos manifestantes. Os números que são dados a conhecer oficialmente são os convenientes”, elucidou.
“Existe um Governo armado até aos dentes que, de forma desproporcional, está a lidar com o direito constitucional à manifestação. Está a chacinar cidadãos, está a matar indiscriminadamente cidadãos”.
“E o que eu disse é que existem várias forças em Moçambique, incluindo dentro das Forças Armadas e outras forças militarmente treinadas que, neste momento, estão a colocar-se na disposição de defender a população quando esta estiver a exercer o seu direito à manifestação”, acrescentou Mondlane.
Corrida aos supermercados e combustível
Entretanto, começa a regressar às ruas destruídas alguma normalidade. Na manhã de sexta-feira não havia transportes de passageiros disponíveis em Maputo, mas a meio da tarde alguns dos autocarros voltaram às estradas.
Deixaram também de ser erguidas barricadas e, com as estradas mais desimpedidas, o trânsito começou a fluir. No entanto, a crise de combustíveis está a preocupar a população.
Segundo a Agência de Informação de Moçambique, a maior parte das estações de serviço de Maputo e da cidade vizinha, Matola, fecharam por receio de serem atacadas em atos de vandalismo. Nas estações abertas, formam-se longas filas de veículos.
Também em supermercados e bancos se têm observado longas filas.