Moçambique. Mais de 200 manifestações "violentas" provocaram 807 feridos e 19 mortos

por Lusa

O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, disse hoje que se registaram nos "últimos dias" mais de 200 manifestações pós-eleitorais "violentas", que provocaram 807 feridos e 19 mortos, pedindo que adolescentes e crianças deixem de ser "usados" nesta contestação.

"Apelo para que os mais jovens, repito os mais jovens, adolescentes e crianças, não sejam mais usados para disputas que devem-se resolver nas instituições, nos momentos próprios", afirmou Nyusi, numa mensagem à nação, de cerca de 45 minutos, sobre a "situação do país no período pós-eleitoral".

O chefe de Estado apresentou um "balanço preliminar", apontando que "nestes últimos dias ocorreram mais de 200 manifestações marcadas pela vandalização de bens públicos e privados, roubo, saques em estabelecimentos comerciais, queima de pneus, bloqueio das vias públicas", entre outros.

"Em paralelo, ocorreram atos de sabotagem contra antenas de telefones móveis e postos de energia. Para onde vamos?", questionou.

"Estes dados dizem respeito à consequência indireta da onda de violência. Mas os tumultos provocaram danos diretos nas pessoas. Em consequência, ficaram feridos 807 cidadãos, dos quais 66 membros da PRM [Polícia da República de Moçambique]. Lamentamos a perda da vida de 19 concidadãos, cinco dos quais membros da PRM", disse ainda.

Sublinhando as irregularidades das manifestações e protestos, convocados desde 21 de outubro pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane - que não reconhece os resultados anunciados das eleições gerais de 09 de outubro, ainda à espera de validação pelo Conselho Constitucional -, Nyusi apelou, no entanto, à polícia para privilegiar a "contenção" e "uma intervenção não violenta".

"As Forças de Defesa e Segurança devem continuar a servir o seu povo. O recurso ao uso da força deve ser apenas em situações extremas para defender vidas e a economia nacional. Não queremos que ocorram situações de que todos sairemos a perder", disse.

Contudo, referiu que "ninguém, em nome de qualquer causa, pode impedir um cidadão de ir trabalhar para garantir o sustento das suas famílias" ou "impedir o funcionamento dos serviços públicos, dos hospitais, das escolas, dos mercados e dos transportes públicos", aludindo aos efeitos da convocação destas paralisações e protestos.

Considerando os efeitos económicos de quase um mês de contestação pós-eleitoral, Nyusi admitiu que a previsão de crescimento de 5,5% em 2024 "pode" vir a ser revista, cenário que também coloca em causa os "trabalhadores mais desprotegidos e os cidadãos mais vulneráveis".

Outro dos exemplos dessas consequências sentiu-se na saúde, com o Presidente da República a apontar uma redução de 60% no número de pacientes atendidos nos serviços de urgência, de pediatria e de adultos, e de 54% em doações de sangue, além de 6.500 crianças que "perderam ou adiaram" a respetiva vacinação.

"Para além de uma redução de mais de 60% dos profissionais de saúde nas unidades sanitárias", disse.

Com os mais jovens fortemente envolvidos nestes protestos, Filipe Nyusi reconheceu tratar-se de uma população em que "se acumulam mais os sentimentos de frustração pela persistência de dificuldades estruturais que afetam Moçambique".

"Esses sentimentos, por mais legítimos que sejam, não podem constituir motivo para destruir o frágil património do nosso país", apelou.

Ao início da tarde, antes desta mensagem à nação, Venâncio Mondlane apelou aos moçambicanos para cumprirem três dias de luto nacional pelas "50 vítimas mortais" que contabiliza nas manifestações pós-eleitorais, a partir de quarta-feira, incluindo uma paragem e buzinão dos carros por 15 minutos.

"Vamos parar todas as viaturas e buzinar em homenagem aos nossos heróis (...) os que não têm viaturas, das 12:00 às 12:15 [menos duas horas em Lisboa], levantem cartazes, da reposição da verdade eleitoral, nos semáforos, no meio das ruas, como se fossem sinaleiros", apelou.

Venâncio Mondlane contesta a atribuição da vitória a Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), com 70,67% dos votos, segundo os resultados anunciados em 24 de outubro pela Comissão Nacional de Eleições.

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