Moçambique. Jovem baleado em direto gera revolta popular em Ressano Garcia

por Lusa

As imagens em direto de um jovem que filmava operações da polícia contra manifestantes na fronteira de Ressano Garcia geraram uma revolta popular na noite de quinta-feira, com os manifestantes a atearam fogo a infraestruturas.

"Os populares revoltaram-se" após ter sido baleado o jovem, "que era um `blogueiro` e que trabalhava em benefício das próprias pessoas", declarou à Lusa André Mulungo, editor do boletim do Centro para Democracia e Direitos Humanos, Organização Não-Governamental (ONG) que vai prestar apoio jurídico à família da vítima.

O jovem, produtor de conteúdos na internet, estava em direto na rede social Facebook quando foi alvejado, minutos após registar o momento em que as forças policias dispararam para dispersar um grupo de manifestantes nas proximidades da principal fronteira entre Moçambique e África do Sul: Ressano Garcia.

"Estou a morrer", disse o jovem poucos minutos após ser alvejado no meio da estrada, enquanto a gravação continuava, entre gritos de populares que estavam no local e o som de mais disparos.

"É mais um ato bárbaro e que a polícia deve responder por ele. Estamos a organizar uma ação contra o Estado para que ele responda por isto. É mais uma prova que é ação violenta da polícia que gera revolta nas pessoas", acrescentou Mulungo.

Após o jovem ser baleado, e cuja evolução do estado de saúde não foi ainda possível apurar, populares em Ressano Garcia atearam fogo a algumas infraestruturas, com prejuízos ainda por calcular.

A Lusa tentou, sem sucessos, contactar a Polícia da República de Moçambique.

Um total de 16 pessoas, entre as quais quatro membros da polícia, morreram nos últimos sete dias nos confrontos entre as autoridades e manifestantes, que protestam contra os resultados eleitorais em Moçambique, indica o mais recente balanço do Comando geral da Polícia da República de Moçambique (PRM), apontando para existência de 73 feridos.

Os protestos contra os resultados eleitorais têm sido convocados pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane e levaram o caos às ruas em diversos pontos do país, com pelo menos 110 pessoas mortas e mais de 300 feridas em resultado dos confrontos entre polícia e manifestantes desde 21 de outubro, segundo um balanço atualizado pela ONG Plataforma Eleitoral Decide.

Os resultados das eleições de 09 de outubro anunciados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) deram a vitória, com 70,67% dos votos, a Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), no poder, mas precisam ainda de ser validados pelo Conselho Constitucional, última instância de recurso em contenciosos eleitorais.

Num dos seus últimos diretos a partir da rede social Facebook, Mondlane prometeu estar em Maputo para tomar posse como Presidente de Moçambique no dia 15 janeiro, data prevista para a tomada de posse do novo chefe de Estado.

Tópicos
PUB