O ministro do Interior de Moçambique disse hoje que os grupos terroristas que atuam em Cabo Delgado têm uma nova liderança e adotaram novas estratégias, face à sua expulsão das principais bases e à morte dos antigos cabecilhas.
"A adoção do novo ´modus operandi` pelos terroristas demonstra haver, no seio do grupo, uma nova liderança", afirmou Pascoal Ronda, falando no parlamento, em resposta a perguntas da oposição sobre a nova vaga de ataques armados na província de Cabo Delgado, norte de Moçambique.
"A maior parte dos líderes terroristas encontra-se nos distritos de Macomia e de Quissanga, sendo de destacar Óscar, Dardai, Zubair, Mane, Sheik, Amisse e Machude", avançou Ronda.
Os novos cabecilhas dos insurgentes substituíram Ibn Omar, Abu Kital, Ali Mahando e Amurane Adamo, mortos em 2023, pelas Forças de Defesa e Segurança (FDS) moçambicanas e contingentes dos países da África Austral e do Ruanda, envolvidos no combate aos rebeldes em Cabo Delgado, acrescentou o ministro do Interior.
Pascoal Ronda avançou que os terroristas foram expulsos das suas antigas bases nos distritos do norte de Cabo Delgado, dispersaram-se em pequenos grupos, criaram novos acampamentos e concentraram os seus ataques nos distritos do sul, nomeadamente Ancuabe, Chiúre e Quissanga.
"Nestes locais, os terroristas têm protagonizado assaltos, emboscadas contra as FDS, assassinato de cidadãos, saque de produtos alimentares, destruição de escolas, igrejas e residências, raptos e recrutamento de novos membros", declarou Pascoal Ronda.
As recentes ações dos insurgentes, prosseguiu, criaram uma nova vaga de deslocados, que atinge 60 mil.
O ministro do Interior disse que as forças governamentais responderam às novas incursões rebeldes, travando o alastramento da violência armada.
Defendeu maiores investimentos no combate ao terrorismo e ao radicalismo, através do apetrechamento das FDS, mas também por via do desenvolvimento social e económico, visando "eliminar as raízes" da insurgência.
Pascoal Ronda apelou ainda à cooperação internacional no combate ao terrorismo, assinalando que se trata de um fenómeno complexo e com caráter transnacional.
O grupo terrorista Estado Islâmico (EI) reivindicou no final de fevereiro a autoria de 27 ataques no mesmo mês, em vilas no distrito de Chiùre, Cabo Delgado, em que afirma terem morrido 70 pessoas, além da destruição de 500 igrejas, casas, e edifícios públicos naquele distrito.
A província de Cabo Delgado enfrenta há seis anos uma insurgência armada com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico. Depois de uma ligeira acalmia em 2023, estes ataques multiplicaram-se nas últimas semanas, criando cerca de 100 mil deslocados só em fevereiro, além de um rasto de destruição, morte e famílias desencontradas.
Esta insurgência levou a uma resposta militar desde julho de 2021, com o apoio do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás, mas surgiram novas vagas de ataques a sul da região.
Desde 2017, o conflito já fez mais de milhão de deslocados, de acordo com as agências das Nações Unidas, e cerca de quatro mil mortes, indicou o Projeto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED, na sigla em inglês).