Moçambique. Escola e fábrica queimadas em ataque a aldeia em Cabo Delgado

por Lusa

A população da aldeia de Nanduli, na província moçambicana de Cabo Delgado, denunciou hoje à Lusa que uma escola e uma pequena fábrica de bebidas caseiras foram queimadas num ataque de insurgentes.

O ataque à aldeia, o segundo do género desde 2022, a oito quilómetros da estrada Nacional 380 e a 25 quilómetros da sede distrital de Ancuabe, aconteceu por volta das 12:00 (11:00 em Lisboa) de terça-feira. O grupo visou ainda uma posição das Forças de Defesa e Segurança de Moçambique.

"Queimaram a escola local e uma fábrica de bebida caseira, e depois abandonaram", descreveu à Lusa um popular, que entretanto retornou à comunidade depois de ter fugido para a aldeia de Ngeue devido ao ataque.

A população começou entretanto a retornar à aldeia após o grupo insurgente ter abandonado o local, mas o medo prevalece, segundo relatos.

"Ouvimos que abandonaram, por isso decidi voltar. Mas é inseguro ainda, são estratégias, mas não temos como, há muita comida nas machambas [campos agrícolas] e não podemos vacilar", descreveu outro popular, após retornar à aldeia.

Algumas pessoas disseram à Lusa que a incursão do grupo insurgente, na terça-feira, na comunidade de Nanduli, apanhou a população de surpresa, numa altura em que muitos se encontravam a descamisar e a debulhar milho, feijão e gergelim.

"Entraram a disparar e o primeiro alvo foi a posição militar. Eles fugiram e nós também. É triste porque deixámos tudo para trás e isso pode vir a provocar fome", disse outra fonte, também em fuga, a partir de Ngeue.

Até ao momento não há relatos sobre mortes entre residentes e militares ou baixas nos atacantes, apesar do intenso tiroteio.

Esta é a segunda vez em menos de três dias que estes grupos terroristas atacam o distrito de Ancuabe. O ataque anterior naquele distrito aconteceu em 11 de maio, na aldeia de Missufine, na estrada Nacional 1 (N1), a quase 70 quilómetros da cidade de Pemba, capital da província de Cabo Delgado, tendo durado quase quatro horas, com disparos indiscriminados por parte dos insurgentes, enquanto incendiavam casas, na sua maioria de construção precária.

"A minha casa foi queimada, assim como a do meu vizinho. Os terroristas entraram na sua máxima força e nem se deixaram intimidar por a aldeia estar na via mais movimentada da N1", descreveu na altura um popular.

O ataque a Missufine precipitou a fuga da população da aldeia e comunidades vizinhas para a localidade de Sunate (Silva Macua), bem como para a sede distrital de Ancuabe, para o distrito de Chiúre e para cidade de Pemba.

A província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, enfrenta desde outubro de 2017 uma insurgência armada com ataques reclamados por grupos associados ao Estado Islâmico.

A insurgência levou a uma resposta militar desde julho de 2021, com apoio do Ruanda, com mais de 2.000 militares, e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, libertando distritos junto aos projetos de gás natural.

Depois de vários meses de relativa acalmia nos distritos afetados, a província de Cabo Delgado tem registado, desde praticamente o início do ano, novas movimentações e ataques de grupos rebeldes.

 

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