Moçambique. Crianças de 11 anos decapitadas por terroristas do ISIS
A província moçambicana de Cabo Delgado tem sido palco de um drama humanitário: há crianças que estão a ser assassinadas. A organização Save the Children denunciou a situação, esta terça-feira, revelando que as vítimas têm entre 11 e 12 anos e são decapitadas por grupos terroristas pertencentes ao Estado Islâmico.
As necessidades das crianças deslocadas nesta província do norte de Moçambique "superam em muito os recursos disponíveis para apoiá-las" e muitas vezes são alvo de violência.
New Release from Save the Children International : Armed groups are beheading children as young as 11 in Mozambique's northern province of Cabo Delgado. Heartbreaking testimonies from devastated parents. Read more here: https://t.co/NPl9yMD3Ol pic.twitter.com/PxIhA3b8Dw
— Save the Children in Mozambique (@savechildrenMoz) March 16, 2021
"Enquanto o mundo estava focado na covid-19, a crise de Cabo Delgado cresceu e foi menosprezada", acrescentou.
A organização não-governamental esteve na região e a denúncia surge a partir dos relatos de famílias deslocadas que descreveram "cenas horríveis" de assassinato, incluindo mães cujos filhos foram mortos.
"Naquela noite, a nossa aldeia foi atacada e as casas foram queimadas. Quando tudo começou, eu estava em casa com meus quatro filhos. Tentamos escapar para a floresta, mas eles apanharam o meu filho mais velho e decapitaram-no. Não podíamos fazer nada porque também seríamos mortos", contou à Save the Children.
Outra mãe de quatro filhos, uma jovem de 29 anos com nome fictício de Amelia, relatou à ONG que o filho mais novo tinha apenas 11 anos quando foi morto por homens armados.
A Save the Children considera que a crise humanitária em Cabo Delgado foi "menosprezada" e alerta para a falta de ajuda para a população afetada.
A província de Cabo Delgado está, paralelamente, ainda a recuperar de fenómenos climáticos, incluindo o ciclone Kenneth de 2019, o ciclone mais forte a atingir a parte norte de Moçambique, e as inundações que abalaram a região no início de 2020.
A Save the Children está, por isso, a tentar dar resposta às necessidades urgentes das crianças e às famílias deslocadas tanto pelos conflitos como pelos ciclones em Cabo Delgado.
"A resposta da organização atingiu mais de 70 mil pessoas, incluindo mais de 50 mil crianças, com programas de educação, proteção infantil, saúde (incluindo medidas contra a Covid-19) e água e saneamento", lê-se ainda no comunicado da ONG.
Os rebeldes que reivindicam estes ataques são conhecidos localmente como al-Shabab e declararam lealdade ao Daesh em 2019 - Al-Shabab significa "A Juventude" em árabe, e segundo Aljazeera, o nome reflete que o grupo extremista é composto e apoiado principalmente por jovens desempregados na região predominantemente muçulmana de Cabo Delgado.
A embaixada dos Estados Unidos em Moçambique disse, na segunda-feira, que as forças especiais norte-americanas vão treinar fuzileiros navais moçambicanos durante dois meses, com o país também a fornecer equipamento médico e de comunicações para ajudar no combater à insurgência.
Já a Amnistia Internacional concluiu, no início deste mês, que têm sido cometidos crimes de guerra por todas as partes envolvidas no conflito, acusando as forças governamentais de serem também responsáveis pelos abusos contra civis - uma acusação que o Governo moçambicano nega.