Moçambique. Chapo quer renegociar contratos nos megaprojetos

por Lusa

O candidato presidencial Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido no poder), defendeu hoje a renegociação dos contratos dos megaprojetos no país, essencialmente mineração e gás natural, para proteger os interesses do Estado.

"É um aspeto que vamos ter que sentar, ver caso a caso. Há casos que realmente não dá para fazer alguma revisão, mas há casos que vai ter que se fazer, que é para, em função disso, podermos aumentar as receitas do Estado e, com base nisso, podermos desenvolver este nosso Moçambique com mais receitas", disse Daniel Chapo, num encontro de campanha eleitoral em Maputo.

"Mas isto é caso a caso, não é uma tábua rasa que possa se dizer que vamos fazer em todos os projetos", advertiu.

A consultora Deloitte concluiu este ano que as reservas de gás natural de Moçambique, das maiores em África, representam receitas potenciais de 100 mil milhões de dólares (92,7 mil milhões de euros), envolvendo multinacionais como a Eni, TotalEnergies e ExxonMobil, entre outras.

O candidato apoiado pela Frelimo à Presidência da República nas eleições gerais de 09 de outubro dedicou o dia a encontros com vários setores da sociedade moçambicana, na capital, incluindo centenas de líderes e membros de várias confissões religiosas, alguns dos quais colocaram a tónica na necessidade de "independência económica" do país.

"É o objetivo principal da nossa governação. Mas é um processo que, à semelhança da luta de libertação nacional, que levou 10 anos, e podia levar mais, precisa de ser desencadeada", retorquiu Chapo.

Sublinhou igualmente a prioridade à educação, num ano escolar marcado por polémicas em torno de erros grosseiros nos manuais escolares, impressos fora do país e financiados por doadores internacionais.

"Não se faz educação com dinheiro dos outros. A educação é uma questão de soberania. Sendo uma questão de soberania precisamos de, aos poucos, alocar recursos próprios para termos uma educação de qualidade, que todos nós almejamos. É só ver a questão do livro que se falou aqui. O livro é feito fora, exatamente porque é o dono do dinheiro que dita aonde é que deve ser feito o livro e com todas as consequências que nós temos conhecimento", alertou.

"Há necessidade de realmente de reforçarmos a nossa independência económica no sentido do Estado ter recursos próprios e definirmos aonde é que realmente deve ser feito o livro, que tipo de livro nós pretendemos. Porque mesmo as matérias que aparecem no livro, às vezes, são impostas pelo doador (...). Quando o doador dá o dinheiro, em troca o que exige pode ser mais caro do que a nossa própria independência", reconheceu.

Num tema igualmente colocado em cima da mesa pelos líderes religiosos no encontro de hoje, que afeta sobretudo a comunidade e empresários muçulmanos, o candidato da Frelimo admitiu a prioridade que deve ser dada à segurança, face aos raptos que continuam a assolar, sobretudo, Maputo.

"Qualquer investimento, seja nacional ou estrangeiro, precisa de se sentir seguro no local onde está. A segurança é muito importante, tal como a paz, para o nosso desenvolvimento (...). Temos muitos investidores nacionais e estrangeiros, nacionais que até deixaram de fazer investimentos, deixaram de viver no país. Estrangeiros também que querem vir, mas quando ouvem essa situação, acabam não vindo, à semelhança do terrorismo. Então, são males que precisamos de combater, restabelecer a paz e a segurança para podermos desenvolver o nosso país", apontou.

Neste encontro, o maulana Nazir Loonat, referência na liderança muçulmana local, dirigiu-se a Chapo pedindo-lhe "força": "Significa firmeza. Firmeza nas suas decisões futuras. Quando é que deve ser duro e quando é que tem de ser mole. Se o senhor só for mole, este país não vai andar, para esse país andar é preciso ser duro em certas ocasiões".

E acrescentou: "Um líder tem de ser honesto e a honestidade passa por si. Se o senhor só for líder para fomentar sua família e seus amigos, então esse país não vai andar".

Numa intervenção fortemente ovacionada, Loonat apelou a Chapo, em caso de vitória, para "saber" tudo o que se passa no Governo: "Para o senhor saber que aqueles que o senhor nomear não vão aldrabar a si".

"E o senhor tem que ter uma independência económica. Se o senhor não tiver uma independência económica, então vai procurar dentro do seu mandato para sustentar a si próprio. Portanto, o senhor, para trabalhar para o povo, tem que ter uma independência económica (...). Tem de saber que o senhor não pode levar água de todo o mar, não há de ser para si. Tem de deixar para o povo. O senhor pode levar o rio, alguma parte, uma fonte, mas não tenta levar toda a água do mar", apelou.

Um pedido que teve resposta pronta de Chapo: "Quero concordar com o maulana Nazir quando diz que `não beba sozinho a água do mar, pelo menos do rio`. Mas nem do rio, não quero. Quero dar aos outros para beber. Água do mar é muita água e se a pessoa quiser beber sozinho até engasga-se, não é?"

"Também concordo que temos que trabalhar com pessoas de confiança, mas esta confiança eu entendi, não é confiança, amizade, é confiança técnica. Pessoas com responsabilidade, com competência", concluiu Chapo.

PVJ // MLL

Lusa/Fim

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