Moçambique. Ausência de Mondlane no encontro entre PR e candidatos é "perigosa", considera oposição
Os candidatos presidenciais apoiados pelos principais partidos de oposição moçambicana questionaram hoje a ausência de Venâncio Mondlane nas negociações para o fim da tensão pós-eleitoral, considerando "perigoso" que o diálogo ocorra sem o político, que está fora do país.
"Se nós os três aqui reunirmo-nos [com o Presidente moçambicano] não estaremos a tratar nada porque ele [Venâncio Mondlane] é o centro do problema, isto porque ele foi quem convocou as manifestações e a sua ausência é perigosa", declarou Ossufo Momade (Renamo), durante a reunião convocada por Filipe Nyusi com os quatro candidatos presidenciais às eleições para discutir o momento pós-eleitoral.
Em causa estão uma série de manifestações convocadas por Mondlane e que têm culminado em conflitos entre a polícia e grupos de manifestantes em diferentes pontos do país, episódios que já deixaram dezenas de mortos e feridos, além de paralisarem diversos centros urbanos.
Para travar os conflitos, Nyusi convocou um encontro com os quatro candidatos presidenciais para debater o momento, uma reunião marcada pela ausência de Mondlane, que está fora do país há mais um mês, alegando ser "por segurança", à qual compareceram os candidatos Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), Ossufo Momade, apoiado pela Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), e Lutero Simango, apoiado pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM).
Entre outros aspetos, Mondlane exige a eliminação imediata dos processos judiciais de que é alvo, movidos pelo Ministério Público moçambicano, e a sua participação por meios virtuais como condição para participar no encontro.
"Há uma necessidade de o senhor Presidente da República, como alto magistrado da nação, fazer tudo para que ele esteja no país. Mas há uma coisa, a Procuradoria tem processos contra este cidadão e é preciso que se faça alguma coisa para que ele esteja no país", declarou Ossufo Momade, durante a reunião.
A preocupação sobre a ausência de Mondlane na reunião de hoje foi primeiro levantada pelo candidato Lutero Simango, apoiado pela terceira força parlamentar moçambicana, o Movimento Democrático de Moçambique (MDM).
"Como é do conhecimento de todos, deviam estar aqui quatro candidatos para permitir que esta reunião fosse ao encontro da situação para o bem da sociedade moçambicana. Não sei se há uma justificação para a ausência do quarto candidato", questionou Lutero Simango.
Em resposta à questão, o chefe de Estado destacou que Mondlane não foi expulso de Moçambique, considerando que se soubesse onde ele se encontra estaria até disponível para ir ao seu encontro.
"Se ele estivesse num sítio conhecido, se calhar, até sugerisse a esta equipa, que está interessada em resolver o problema, a irmos ter com ele lá. Não era problema, mas ninguém sabe onde ele está", declarou Filipe Nyusi.
Daniel Chapo, apoiado pela Frelimo, no poder desde a independência (1975), declarou que a força política a que pertence está aberta ao diálogo, congratulando a iniciativa do chefe de Estado moçambicano.
"Nós achámos que devíamos estar presentes neste diálogo, de forma que pudéssemos falar, para encontrarmos uma solução para este tema que aqui foi colocado", declarou Daniel Chapo.
A onda de manifestações em Moçambique tem sido convocada por Mondlane, que contesta a atribuição da vitória a Chapo nas presidenciais, com 70,67% dos votos, e, nas legislativas, a Frelimo, que reforçou sua maioria absoluta com mais 11 deputados, totalizando 195 mandatos no universo de 250 deputados que integram o parlamento, segundo os resultados anunciados em 24 de outubro pela Comissão Nacional de Eleições (CNE).
O Conselho Constitucional (CC), última instância em contenciosos eleitorais, afirmou na segunda-feira estar a "trabalhar afincadamente" para alcançar a "verdade eleitoral" sobre as eleições gerais de outubro, antevendo a proclamação dos resultados finais por volta de 23 de dezembro.
No final da tarde de hoje, após a reunião entre o Presidente Nyusi e os três outros candidatos, Mondlane anunciou novas medidas para os próximos três dias, pedindo aos moçambicanos para colocarem cartazes de contestação eleitoral nos veículos e os abandonarem na rua, a partir das 08:00 de quarta-feira.