MNE português insiste na solução de dois Estados como "única via possível" e descarta ideia "lírica" de ministro israelita
Em declarações aos jornalistas no final da reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros da UE, João Gomes Cravinho insistiu na defesa da solução de dois Estados como "a única possível", apesar do posicionamento de Benjamin Netanyahu. O ministro português dos Negócios Estrangeiros descartou ainda um plano apresentado pelo Governo israelita que previa a criação de uma ilha que seria usada como "base logística", considerando que este plano não contemplava o "reconhecimento dos direitos palestinianos".
O ministro português considerou que a solução dos dois Estados é “a única possível, a única viável” e destacou a “situação desesperada” que se vive em Gaza.
“É fundamental que haja um cessar-fogo para que a população não continue a ser fustigada da maneira como tem sido”, argumentou, insistindo que “não há outra via possível” que não a da criação de dois Estados.
João Gomes Cravinho adiantou aos jornalistas que essa foi a mensagem transmitida “quase em uníssimo” ao ministro israelita, mas que este “não estava em condições (…) para responder a questões fundamentais”.
Manifestou ainda a expectativa de que este esteja “mais bem preparado” quando voltar a falar com os ministros da UE.
Em resposta aos comentários recentes do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que vão no sentido de uma oposição à solução dos dois Estados, João Gomes Cravinho considerou que “dizer que é contra quer dizer que é contra a paz”.
“A nossa expetativa é que o primeiro-ministro israelita reveja a sua posição e que tenha uma abordagem construtiva em relação à paz e não uma abordagem de bloqueio. (…) Não podemos estar dependentes daquilo que é a vontade de uma parte, de um homem”, reiterou ainda.
O plano de criação de uma “ilha” do ministro israelita
Questionado sobre a ideia que teria sido proposta de transferir palestinianos de Gaza para uma ilha artificial no Mediterrâneo, divulgada nas últimas horas pela imprensa internacional, João Gomes Cravinho disse aos jornalistas que o plano proposto não previ a transferência da população de Gaza.
Trata-se antes de um “plano para a criação de uma ilha a três ou quatro quilómetros da costa de Gaza, que permitiria criar uma base logística, uma plataforma logística de paz, que alimentaria tanto Israel como Gaza”.
Em resposta ao governante israelita, vários ministros, incluindo o português, consideraram que “não vale a pena estarmos a trazer ideias líricas sobre um futuro de paz e harmonia se não houver disponibilidade no imediato para trabalhar no reconhecimento dos direitos palestinianos, que estavam inteiramente ausentes da forma como ele apresentou as suas ideias”, acrescentou João Gomes Cravinho.
Estas ideias, de resto, remontam aos anos em que o MNE israelita era ministro dos Transportes e que são “ideias completamente irrelevantes” se não tiverem em conta um contexto de “reconhecimento do Estado da Palestina e dos direitos dos palestinianos”.
“Não há forma desses planos avançarem”, assegurou, e indicou mesmo que essa foi a resposta dos líderes europeus “de formas mais diplomáticas e menos diplomáticas”.
E acrescentou: “Talvez até tenha havido alguma frustração por estarmos a perder tempo com ideias que não são adequadas ao tempo de urgência que vivemos”.
Portugal vai participar em missão no Mar Vermelho
O ministro dos Negócios Estrangeiros anunciou esta segunda-feira que Portugal vai participar na missão da União Europeia para acompanhar navios no Mar Vermelho sob ameaça das milícias houthis. João Gomes Cravinho acrescentou que os moldes da participação portuguesa ainda estão por definir.
"Portugal apoiará esta missão [...], incluirá uma componente de capacidade de intervenção em defesa de navios que estejam a ser ameaçados e do nosso lado o Ministério da Defesa dirá qual é a disponibilidade para apoiarmos. Não será seguramente com uma fragata ou um navio, mas haverá alguma participação do nosso lado", adiantou o MNE português no final de uma reunião dos ministros da União Europeia com a pasta da diplomacia, em Bruxelas.
A diplomacia dos 27 discutiu esta segunda-feira a criação de uma missão no Mar Vermelho para repelir os ataques das milícias houthis do Iémen à navegação internacional.
Para que essa missão avance, seria necessário tratar de etapas relativas ao mandato e ao plano militar da missão, à necessidade de participação do Comité Militar da UE e ao adiamento do lançamento para fevereiro, de acordo fontes comunitárias.
A ideia seria tornar de âmbito europeu a operação conjunta da Bélgica, Dinamarca, França, Alemanha, Grécia, Itália, Noruega, Países Baixos e Portugal, com comandos e fundos da UE, que existe desde 2020 no Estreito de Ormuz e no Golfo de Omã para proteger a navegação internacional.
Nas últimas semanas, os rebeldes iemenitas têm atacado embarcações como resposta à intervenção militar de Israel contra o Hamas na Faixa de Gaza. Estas milícias têm reiterado que só o fim dos bombardeamentos israelitas em Gaza colocará um ponto final às hostilidades no Mar Vermelho.
(com Lusa)