O ministro paquistanês dos Negócios Estrangeiros protestou hoje junto do seu homólogo iraniano, numa conversa telefónica, pela "violação grave de soberania" cometida por forças iranianas com o bombardeamento de terça-feira em território do Paquistão.
Na conversa com o ministro iraniano Hossein Amir Abdollahian, o homólogo paquistanês Jalil Abbas Jilani indicou que o ataque "não foi apenas uma violação grave da soberania do Paquistão, mas também uma flagrante violação do direito internacional e do espírito das relações bilaterais entre o Paquistão e o Irão", segundo um comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Paquistão.
O chefe da diplomacia do Paquistão garantiu que o incidente causou danos graves nas relações bilaterais e sublinhou que "as ações unilaterais podem minar gravemente a paz e a estabilidade regionais".
"Nenhum país da região deveria seguir este caminho perigoso", foi acrescentado.
A chamada telefónica entre os dois ministros ocorreu depois da ordem dada esta tarde para o embaixador do Paquistão em Teerão regressar e à suspensão de todas as visitas de alto nível ao Irão.
A resposta de Islamabad surgiu depois de bombardeamentos com mísseis e drones contra alvos do grupo terrorista sunita Jaish al-Adl, em solo paquistanês, terça-feira, aparentemente sem conhecimento do Paquistão.
O governo paquistanês afirmou esta manhã que os bombardeamentos resultaram em, pelo menos, dois jovens mortos, enquanto outras três jovens ficaram feridas.
O Irão atacou posições no Paquistão que afirma serem bases do grupo jihadista Jaish al-Adl ("Exército da Justiça", em árabe), divulgou na terça-feira a agência de notícias iraniana IRNA. As notícias sobre o ataque foram posteriormente retiradas pelos órgãos de comunicação iranianos.
O grupo jihadista tem reivindicado vários ataques e atentados na província do Sistão-Baluchistão, uma das mais pobres do Irão junto à fronteira com o Paquistão.
A região é palco de frequentes confrontos entre as forças de segurança, por um lado, e os rebeldes da minoria baluchi, grupos radicais sunitas e traficantes de droga, por outro.
Este ataque aumenta ainda mais as tensões no Médio Oriente após o início da guerra entre Israel e o movimento palestiniano Hamas na Faixa de Gaza, em 07 de outubro, e das investidas de um grupo de países ocidentais, liderados por Estados Unidos e Reino Unido, contra posições dos rebeldes Huthis do Iémen para manter a segurança da navegação comercial no Mar Vermelho.
Formado em 2012 por antigos membros de uma organização sunita radical, o grupo Jaish al-Adl ficou conhecido por ter reivindicado a responsabilidade pelo rapto de 12 polícias e soldados iranianos em outubro de 2018.
Na noite de segunda-feira, o Irão disparou mísseis contra o norte da Síria e Iraque visando o grupo Estado Islâmico. Entre os seus alvos, a Guarda Revolucionária iraniana reivindicou um ataque a uma suposta sede da Mossad, a agência de informações israelita, na região curda do Iraque.
O Iraque classificou na terça-feira os ataques, que mataram vários civis, como uma "violação flagrante" da sua soberania e chamou o seu embaixador em Teerão.