Missionário católico em Roma apanhado de surpresa com morte de Francisco
O missionário português Tony Neves, da direção dos Espiritanos, mostrou-se hoje surpreso com a morte do Papa Francisco, com quem esteve ainda no domingo, na Praça de São Pedro.
"Fui colhido de surpresa com a notícia, até porque eu ontem [domingo]estive na Praça de São Pedro e ele passou à minha beira de carro sorridente a saudar toda a gente, a abraçar os bebés que iam chegar ao papamóvel", recordou o dirigente dos espiritanos.
Na ocasião, "só disse duas coisinhas `Bonna Pascoa` e `Em nome de nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo`", naquela que foi a sua "última bênção".
"O que eu guardo dele é esta coragem mesmo na fragilidade", ao ter decidido aparecer em público, mesmo com a saúde muito precária", disse.
"Ele achou que numa semana com uma Semana Santa era para aparecer e ele apareceu: no domingo de ramos, na quinta-feira Santa para ir à prisão e no domingo quis inclusivamente dar a volta" à praça de São Pedro.
Em Roma há sete anos e conselheiro há quatro, Tony Neves passa grande parte da vida em visitas às missões da ordem, que tem 2.500 elementos ativos e mil jovens em formação, com presença em 63 países de cinco continentes.
Sobre o seu sucessor e o futuro da Igreja, Tony Neves não tem dúvidas: "o caminho que ele lançou é um caminho sem retorno a dinâmica da sinodalidade tem que continuar, tem que ser aprofundada e aplicada".
O caminho sinodal é um projeto de Francisco que implica diálogo interno em todos os setores da Igreja e em todo o mundo para discutir o futuro da instituição, que se debate com uma tensão interna entre movimentos mais conservadores e progressistas.
"A abertura desta igreja para todos, todos, todos", mostra uma "proximidade muito grande aos pobres, um combate sem tréguas à às economias que matam", acrescentou Tony Neves, que elogia a "perspetiva de ecologia integral do Papa Francisco".
"Muitas vezes estamos todos na mesma barca a enfrentar a mesma tempestade: ou nos afogamos todos ou nos salvamos todos", acrescentou o missionário, considerando que são "legados enormes que é preciso aprofundar e, sobretudo, aplicar" na Igreja.
O Papa Francisco morreu hoje aos 88 anos, após 12 anos de um pontificado marcado pelo combate aos abusos sexuais, guerras e uma pandemia.
Nascido em Buenos Aires, a 17 de dezembro de 1936, Francisco foi o primeiro jesuíta a chegar à liderança da Igreja Católica.
O Papa Francisco esteve internado durante 38 dias devido a uma pneumonia bilateral, tendo tido alta em 23 de março. A sua última aparição pública foi no domingo de Páscoa, no Vaticano, na véspera de morrer.