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Missão da ONU preocupada com onda repressiva na Venezuela

por Lusa
Vivem-se dias difíceis na Venezuela Henry Chirinos - EPA

A Missão internacional independente da ONU para a Venezuela está "extremamente preocupada" com a nova onda de repressão de manifestações populares a contestar os resultados das eleições presidenciais de domingo, assumiu a presidente do organismo em entrevista à Lusa.

"Como missão de investigação das Nações Unidas, nós estamos extremamente preocupados com a situação atual na Venezuela", ainda que aquilo a que se assiste hoje "em termos de manifestações populares espontâneas e nível da repressão por parte das forças públicas do Estado" seja algo que "infelizmente não é novo", diz Marta Valiñas, que preside à comissão tripartida criada em 2019 para investigar as violações dos direitos humanos cometidas desde 2014 no país.

Assinalando que o mandato da missão independente de inquérito à qual preside e que opera sob a égide do Conselho de Direitos Humanos da ONU permitiu investigar "aquilo que se passou já nas manifestações de 2014, 2017, 2019, entre outras em menor escala", incluindo algumas que tiveram lugar no ano passado já "devido à insatisfação de grande parte da população" com o regime de Nicolás Maduro, Marta Valiñas afirma que está a repetir-se "um `modus operandi` que já se viu no passado".

"Ou seja, (assistimos a) intervenção das forças de segurança públicas, incluindo não só a polícia, que tem um mandato mais direto de manter a ordem pública, mas também da Guarda Nacional Bolivariana, que pertence às Forças Armadas, e, além destas, a participação daquilo que se chamam os 'colectivos', que são civis armados, ideologicamente pró-governo atual, pró-Maduro, e que atuam quase como que a ajudar as forças de segurança do Estado", indica.

"Portanto, o que vemos são níveis de repressão que incluem não só as mortes que já foram registadas, mas também um elevadíssimo número de detenções de manifestantes e várias pessoas feridas. E é isto que nos preocupa: preocupa-nos ver mais uma vez este mesmo modo de atuação", lamenta a jurista especializada em direitos humanos, particularmente preocupada por a repressão sistemática, incluindo a detenção de ativistas de direitos humanos, acabar por ser "uma estratégia muito eficaz por parte das autoridades para silenciar aqueles que se atrevem a denunciar ou relatar o que lhes aconteceu".

De acordo com os dados oficiais do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela, o Presidente cessante, Nicolás Maduro, foi reeleito para um terceiro mandato consecutivo, ao obter 51,20% dos votos, contra 44,2% do candidato da oposição Edmundo Gonzalez Urrutia.

A oposição venezuelana reivindica a vitória nas eleições presidenciais de domingo, com 70% dos votos, disse à imprensa María Corina Machado, a líder da oposição, impedida de participar no ato eleitoral, e que se recusa a reconhecer os resultados proclamados pelo CNE.

Marta Valiñas diz esperar "profundamente" que "não se chegue ao ponto de uma guerra civil, de mais violência" na Venezuela, mas alerta que "é evidente o desgaste da população e é evidente a revolta".

"Além do desgaste com a situação que têm vivido nos últimos anos, penso que esta revolta se deve ao facto de terem tentado pela via democrática fazer valer a sua voz e a sua vontade, veem que os obstáculos são imensos, e sentem que realmente as instituições não são confiáveis, não são independentes e, portanto, sentem-se desprotegidos", afirma.


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