Milhares de membros da minoria Yadizi continuam a sofrer violações, dez anos após os ataques do grupo Estado Islâmico (EI), estando centenas detidos por tempo indeterminado ou desaparecidos no nordeste da Síria, denunciou hoje a Amnistia Internacional (AI).
A denúncia consta de um relatório da organização de defesa e promoção dos direitos humanos, a que a agência Lusa teve acesso, sobre a situação trágica de milhares de sobreviventes do ataque do EI no Iraque há 10 anos, que as Nações Unidas reconheceram já como um "genocídio".
Segundo a Amnistia, mais de 3.000 homens, mulheres e crianças Yazidi foram mortos indiscriminadamente e pelo menos 6.800 outros, sobretudo mulheres e crianças, foram raptados pelo EI, que perpetrou uma série de "violações horríveis", submetendo-as "a formas de escravatura sexual e outras e obrigando os rapazes a combater como crianças-soldado".
A Amnistia Internacional entrevistou organizações de defesa dos direitos dos Yazidi e ativistas que estimam que há um grande número de yazidis apanhados no vasto sistema de detenção criado para deter pessoas com alegada filiação no EI, gerido pela Administração Autónoma da Região Norte e Leste da Síria (autoridades autónomas), com apoio da coligação militar anti-EI liderada pelos Estados Unidos.
Após a derrota territorial do EI, em março de 2019, estima-se que 2.600 yazidis continuem desaparecidos, acreditando-se que uma parte significativa esteja no nordeste da Síria, depois de ter sido raptada e transportada pelo EI, segundo o Gabinete para os Yazidi Raptados em Dohuk, Iraque.
"Dez anos depois de o EI ter lançado o seu primeiro ataque contra os Yazidi, o seu sofrimento continua continua até hoje, uma vez que milhares de pessoas continuam desaparecidas", afirmou Lauren Aarons, conselheira sénior da Amnistia Internacional para as para as questões de Género, Conflitos e Justiça Internacional.
"Muitos Yazidis que foram erroneamente apanhados após o colapso do EI têm estado a definhar em detenção indefinida em condições terríveis e de risco de vida no nordeste da Síria" e "devem agora ser identificados, libertados e receber o apoio contínuo de que necessitam", acrescentou.
Segundo a Amnistia, acredita-se que centenas de mulheres e crianças Yazidi estão no campo de detenção de al-Hol, no nordeste da Síria, algumas das quais presas em condições de cativeiro, escravatura e outros abusos por parte de membros do EI.
Um número desconhecido de rapazes e jovens Yazidi, raptados quando eram crianças, está também detido numa rede interligada de 27 centros de detenção, pelo menos, mantendo-se muitos obstáculos à sua libertação, denuncia o relatório.
"Todas as pessoas detidas em al-Hol estão a ser mantidas pelas autoridades autónomas por tempo indeterminado, sem acusação ou julgamento, a grande maioria há mais de cinco anos, em violação do direito internacional", adianta. As autoridades autónomas disseram à Amnistia que não têm o controlo total de al-Hol e que o EI se reagrupou no campo.
Para a AI, as autoridades autónomas devem igualmente garantir que as organizações de defesa dos direitos dos Yazidi e outras organizações relevantes de direitos humanos tenham acesso aos centros de detenção e em particular a al-Hol e a Jeddah 1, além de iniciarem esforços para identificar os yazidis entre os iraquianos que regressam.
A Amnistia apelou a outros Estados, em especial os governos dos Estados Unidos e do Reino Unido, a apoiar todas as iniciativas de identificação dos Yazidi e as agências das Nações Unidas, como o ACNUR, a UNICEF, a ONU Mulheres e a Instituição Independente para os Desaparecidos na Síria, "devendo intensificar drasticamente os esforços em prol dos desaparecidos".