Ministro guineense da Presidência acusa Lisboa de politizar caso de sírios
Governo português, Presidente da República e TAP são duramente criticados pelo ministro da Presidência do Executivo de transição da Guiné-Bissau, que acusa o primeiro de dar cobertura ao antigo primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior, o segundo de ter sido “extremamente infantil” no caso do embarque de 74 sírios num voo para Lisboa e a terceira de ter um sistema com “inúmeras fragilidades”. Em entrevista à TSF, Fernando Vaz sugere mesmo que o incidente “foi oportuno para ser politizado”.
O caso ocorrido a 10 de dezembro no aeroporto de Bissau teria sido “oportuno” para a diplomacia portuguesa, no entender do ministro guineense de Estado e da Presidência. Fernando Vaz enquadra a sequência de posições assumidas pelo Governo português no que considera ser a proteção de Lisboa a Carlos Gomes Júnior, antigo primeiro-ministro da Guiné-Bissau, deposto em 2012.
Numa outra entrevista, ao semanário Expresso, Fernando Vaz considera infelizes as declarações do ministro português dos Negócios Estrangeiros sobre o controverso voo da TAP de Bissau para Lisboa.
O ministro guineense refere-se da mesma forma a declarações públicas de Rui Machete sobre Angola.
“Portugal sempre apoiou o ex-primeiro-ministro. Não reconhece o atual Governo de transição, onde o partido do ex-primeiro-ministro, o PAIGC, tem cinco ministros. Portugal continua a insistir em apoiar o ex-primeiro-ministro e talvez porque nós tivéssemos começado o processo de recenseamento e ele ficaria de fora, não se recenseando não seria candidato, foi oportuno este incidente para ser politizado e ganhar mais tempo, provocando, portanto, o adiamento das eleições mais uma vez e Carlos Gomes Júnior ter mais uma vez a hipótese de participar”, sustentou o governante guineense na entrevista agora emitida pela rádio TSF.
Fernando Vaz não se fica pela acusação ao Governo português e, em particular, ao posicionamento do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Belém está igualmente no ponto de mira. Cavaco Silva, reprovou o ministro guineense, revelou precipitação.
“Portugal entende que não há segurança. Primeiro começaram por dizer que havia, inclusive, artilharia pesada na pista do aeroporto e que a tripulação foi ameaçada, coação, não sei quantos, uma data de histórias, e inclusive o senhor Presidente da República Portuguesa, face a essas declarações, sem comprovar, sem fiabilidade das fontes, aparece publicamente a fazer uma declaração tendo como suporte essa falácias e calúnias em relação à Guiné. Foi bastante triste, o que aconteceu”, afirmou.
“Não estava à espera disso, pela experiência política que tem o doutor Cavaco Silva. Eu acho que foi extremamente infantil, esse posicionamento do Presidente da República de Portugal”, estimou Fernando Vaz.
“Falhas de ambas as partes”
Também a operação da TAP, que ontem anunciou o fim dos voos extraordinários para o Senegal, com ligação posterior à capital guineense, é alvo das críticas de Fernando Vaz. Para quem a transportadora deve partilhar com Bissau as responsabilidades pelas “falhas” de 10 de dezembro.
“A TAP, a companhia, tem a responsabilidade de fazer o controlo e tem a responsabilidade de impedir o embarque de pessoas indevidamente documentadas”, começou por sublinhar o governante guineense, para depois argumentar que “houve falhas de ambas as partes”. Mesmo que os 74 sírios tenham chegado a território guineense “legalmente”, com passaportes do seu país, e embarcado com documentação dada como forjada no avião da companhia portuguesa.
“Há um primeiro controlo e as pessoas entraram legalmente na Guiné, entraram com passaportes sírios, com vistos concedidos na nossa embaixada em Marrocos”, alegou Fernando Faz. Na sua perspetiva, “o problema” está nas “fragilidades do processo e do sistema TAP, que permite que as pessoas façam check-in online, sem notificação dos vistos, dizendo se tem ou não tem vistos de entrada”.
“Há que admitir que o sistema TAP tem inúmeras fragilidades”, rematou.
A comissão de inquérito formada pelo próprio Executivo guineense de transição apurou que foi do ministro do Interior que partiu uma “pressão” por via telefónica sobre o pessoal da TAP, exigindo o embarque de 74 cidadãos sírios num voo com destino a Lisboa. António Suca Ntchama foi ouvido na passada segunda-feira, durante mais de seis horas, por dois magistrados do Ministério Público em Bissau. Mas ainda não se conhece qualquer decisão judicial.
“Inaceitável”
A tensão diplomática levou António Suca Ntchama e o ministro guineense dos Negócios Estrangeiros, Delfim Silva, a colocarem os seus lugares à disposição. Todavia, ambos permanecem em funções. Outro desenvolvimento deste caso foi a libertação, na véspera de Natal, do comerciante guineense de 51 anos suspeito de responsabilidade pela ida dos 74 sírios para a Guiné-Bissau. Ao fim de 14 dias de detenção em instalações da Polícia Judiciária guineense.
Em comunicado emitido na terça-feira, o gabinete de Rui Machete, que chegou a classificar o incidente de Bissau como próximo de um ato de terrorismo, voltava a considerar “inaceitável” o “embarque forçado, através de pressão e coerção por parte das autoridades guineenses sobre funcionários da TAP, de 74 passageiros com documentação reconhecidamente falsa numa aeronave portuguesa com destino a Lisboa”.
“Portugal aguarda ainda que as autoridades guineenses retirem todas as necessárias ilações e consequências do ocorrido, incluindo, conforme anunciado, a responsabilização dos intervenientes no processo. Também ainda não foi cabalmente garantido que situações similares não se poderão repetir no futuro, questão essencial no nosso processo de reavaliação sobre a existência de condições de segurança no aeroporto de Bissau para a retoma da rota”, enfatizava ainda a nota do Palácio das Necessidades.
O Presidente guineense de transição, Serifo Nhamadjo, disse ontem estar à espera de uma decisão do primeiro-ministro do país para tomar posição sobre as demissões de Delfim da Silva e António Suca Ntchama: “O Governo é dirigido por um primeiro-ministro e consequentemente será ele a enviar ao Presidente as propostas de substituição ou não dos ministros demissionários. Eu, da minha parte, cumprirei as minhas obrigações, desde que sejam propostas concretas do Governo”.
Numa outra entrevista, ao semanário Expresso, Fernando Vaz considera infelizes as declarações do ministro português dos Negócios Estrangeiros sobre o controverso voo da TAP de Bissau para Lisboa.
O ministro guineense refere-se da mesma forma a declarações públicas de Rui Machete sobre Angola.
“Portugal sempre apoiou o ex-primeiro-ministro. Não reconhece o atual Governo de transição, onde o partido do ex-primeiro-ministro, o PAIGC, tem cinco ministros. Portugal continua a insistir em apoiar o ex-primeiro-ministro e talvez porque nós tivéssemos começado o processo de recenseamento e ele ficaria de fora, não se recenseando não seria candidato, foi oportuno este incidente para ser politizado e ganhar mais tempo, provocando, portanto, o adiamento das eleições mais uma vez e Carlos Gomes Júnior ter mais uma vez a hipótese de participar”, sustentou o governante guineense na entrevista agora emitida pela rádio TSF.
Fernando Vaz não se fica pela acusação ao Governo português e, em particular, ao posicionamento do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Belém está igualmente no ponto de mira. Cavaco Silva, reprovou o ministro guineense, revelou precipitação.
“Portugal entende que não há segurança. Primeiro começaram por dizer que havia, inclusive, artilharia pesada na pista do aeroporto e que a tripulação foi ameaçada, coação, não sei quantos, uma data de histórias, e inclusive o senhor Presidente da República Portuguesa, face a essas declarações, sem comprovar, sem fiabilidade das fontes, aparece publicamente a fazer uma declaração tendo como suporte essa falácias e calúnias em relação à Guiné. Foi bastante triste, o que aconteceu”, afirmou.
“Não estava à espera disso, pela experiência política que tem o doutor Cavaco Silva. Eu acho que foi extremamente infantil, esse posicionamento do Presidente da República de Portugal”, estimou Fernando Vaz.
“Falhas de ambas as partes”
Também a operação da TAP, que ontem anunciou o fim dos voos extraordinários para o Senegal, com ligação posterior à capital guineense, é alvo das críticas de Fernando Vaz. Para quem a transportadora deve partilhar com Bissau as responsabilidades pelas “falhas” de 10 de dezembro.
“A TAP, a companhia, tem a responsabilidade de fazer o controlo e tem a responsabilidade de impedir o embarque de pessoas indevidamente documentadas”, começou por sublinhar o governante guineense, para depois argumentar que “houve falhas de ambas as partes”. Mesmo que os 74 sírios tenham chegado a território guineense “legalmente”, com passaportes do seu país, e embarcado com documentação dada como forjada no avião da companhia portuguesa.
“Há um primeiro controlo e as pessoas entraram legalmente na Guiné, entraram com passaportes sírios, com vistos concedidos na nossa embaixada em Marrocos”, alegou Fernando Faz. Na sua perspetiva, “o problema” está nas “fragilidades do processo e do sistema TAP, que permite que as pessoas façam check-in online, sem notificação dos vistos, dizendo se tem ou não tem vistos de entrada”.
“Há que admitir que o sistema TAP tem inúmeras fragilidades”, rematou.
A comissão de inquérito formada pelo próprio Executivo guineense de transição apurou que foi do ministro do Interior que partiu uma “pressão” por via telefónica sobre o pessoal da TAP, exigindo o embarque de 74 cidadãos sírios num voo com destino a Lisboa. António Suca Ntchama foi ouvido na passada segunda-feira, durante mais de seis horas, por dois magistrados do Ministério Público em Bissau. Mas ainda não se conhece qualquer decisão judicial.
“Inaceitável”
A tensão diplomática levou António Suca Ntchama e o ministro guineense dos Negócios Estrangeiros, Delfim Silva, a colocarem os seus lugares à disposição. Todavia, ambos permanecem em funções. Outro desenvolvimento deste caso foi a libertação, na véspera de Natal, do comerciante guineense de 51 anos suspeito de responsabilidade pela ida dos 74 sírios para a Guiné-Bissau. Ao fim de 14 dias de detenção em instalações da Polícia Judiciária guineense.
Em comunicado emitido na terça-feira, o gabinete de Rui Machete, que chegou a classificar o incidente de Bissau como próximo de um ato de terrorismo, voltava a considerar “inaceitável” o “embarque forçado, através de pressão e coerção por parte das autoridades guineenses sobre funcionários da TAP, de 74 passageiros com documentação reconhecidamente falsa numa aeronave portuguesa com destino a Lisboa”.
“Portugal aguarda ainda que as autoridades guineenses retirem todas as necessárias ilações e consequências do ocorrido, incluindo, conforme anunciado, a responsabilização dos intervenientes no processo. Também ainda não foi cabalmente garantido que situações similares não se poderão repetir no futuro, questão essencial no nosso processo de reavaliação sobre a existência de condições de segurança no aeroporto de Bissau para a retoma da rota”, enfatizava ainda a nota do Palácio das Necessidades.
O Presidente guineense de transição, Serifo Nhamadjo, disse ontem estar à espera de uma decisão do primeiro-ministro do país para tomar posição sobre as demissões de Delfim da Silva e António Suca Ntchama: “O Governo é dirigido por um primeiro-ministro e consequentemente será ele a enviar ao Presidente as propostas de substituição ou não dos ministros demissionários. Eu, da minha parte, cumprirei as minhas obrigações, desde que sejam propostas concretas do Governo”.
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