Ministra holandesa dos Negócios Estrangeiros demitiu-se devido à gestão da crise no Afeganistão

por Inês Moreira Santos - RTP
Sem van der Wal - EPA

A ministra dos Negócios Estrangeiros dos Países Baixos demitiu-se, na quinta-feira, depois de o parlamento ter aprovado uma moção de censura contra a forma como geriu as evacuações do Afeganistão no mês passado, responsabilizando o Governo pelos erros cometidos na retirada de holandeses e de afegãos de Cabul. Sigrid Kaag renunciou ao cargo afirmando que o parlamento decidira "que o executivo agiu irresponsavelmente" quando os talibãs tomaram o poder.

Num debate parlamentar na quarta-feira à noite, Sigrid Kaag reconheceu que a resposta lenta e confusa do Governo holandês aos alertas sobre a situação no Afeganistão teve como consequência que alguns funcionários locais e pessoas que trabalharam como intérpretes para as tropas holandesas no país não tenham sido de lá retirados.

"A câmara entendeu que o governo agiu de forma irresponsável. Embora eu mantenha o nosso compromisso, só posso aceitar as consequências deste julgamento enquanto ministra com a responsabilidade final", escreveu Kaag em comunicado, quando se demitiu.

Depois de a câmara baixa do parlamento ter aprovado a moção de censura, na quinta-feira, a ministra de imediato declarou que apresentava a demissão.

"De acordo com a minha opinião sobre o que deve ser a democracia e a cultura da nossa administração, um ministro deve sair se a sua política for reprovada".



Sigrid Kaag ocupou o cargo de chefe da diplomacia num Governo interino holandês em exercício enquanto decorrerem as negociações para formar uma nova coligação de Governo, após as eleições gerais realizadas em março na Holanda.

Kaag vai, no entanto, manter-se como líder do partido de centro-esquerda D66, que é parte da coligação em negociações com o primeiro-ministro Mark Rutte após a vitória eleitoral de março. Para Rutte, a saída de Kaag do atual executivo "é uma grande perda".

O pedido de demissão da ministra holandesa surge um dia após do afastamento do homólogo Dominic Raab pelo Govermo britânico, alegadamente também devido à forma como geriu a crise no Afeganistão.

Apesar de também ter sido censurada pelo parlamento, a ministra da Defesa dos Países Baixos, Ank Bijleveld, decidiu manter-se em funções.
O que falhou em Cabul?
Os Países Baixos retiraram mais de 1.500 pessoas, tanto holandeses como afegãos qualificados, nos dias antes de os militares dos Estados Unidos saírem definitivamente do Afeganistão. Mas muitos afegãos, que trabalhavam com a Embaixada holandesa em Cabul, foram deixados para trás, incluindo 22 intérpretes, apesar dos apelos dos parlamentares para os retirar meses antes.

Kaag admitiu durante o debate paralmentar de quarta-feira que o Governo holandês "tinha um ponto cego sobre a rapidez com que as coisas iriam piorar" no Afeganistão, mas disse que outros países estavam numa posição semelhante.

Mas os deputados holandeses, de todo o espectro político, não deixaram de criticar o Governo durante o debate parlamentar sobre o Afeganistão.

"Como é possível que ainda haja dezenas de intérpretes de defesa em Cabul?", questionou Jeroen van Wijngaarden, um deputado do partido VVD do primeiro-ministro Rutte.

Os ministros foram acusados ​​de serem "apáticos" e de estarem presoas à "lentidão e imprecisão" durante a crise em Cabul.

As criticas foram reforçadas pelo cenário caótico, descrito pela imprensa holandesa, ao divulgar que a Embaixada pedia desde março de 2020 ao Governo para preparar a evacuação, mas que os ministros decidiram apenas dois dias antes da queda de Cabul para os talibãs.
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