Os Estados Unidos começaram a deportar, no domingo, milhares de migrantes aglomerados há dias nas zonas fronteiriças do sul do país. Depois de, nesse mesmo dia, terem sido divulgadas imagens de um militar norte-americano, destacado para guardar a fronteira com o México, a atacar migrantes haitianos com "rédeas de cavalo" perto de um acampamento no Texas, a Casa Branca condenou a "horrível" atitude e abriu uma investigação sobre os possíveis excessos cometidos no processo de deportação.
Alguns dos milhares de migrantes haitianos que atravessaram o território do México para um campo fronteiriço do Texas começaram a ser enviados de avião, no domingo, para o Haiti pelos EUA, num esforço de impedir outros de entrarem no país. Mas uma grande maioria tem cruzado, nos
últimos dias, a cidade de Acuna, no México, e o acampamento na
fronteira em Del Rio para comprar comida e água, que já está a escassear
no lado norte-americano.
As imagens que circularam nas redes sociais revelavam oficiais norte-americanos, na fronteira entre os Estados Unidos e o México, montados a cavalo, com chapéus de cowboy, a tentar bloquear a passagem dos migrantes e a usar as rédeas dos cavalos como chicotes para afastar os refugiados haitianos. Um dos videos que se tornou viral mostra ainda um dos guardas da Patrulha de Fronteira a ameaçar os migrantes com cordas.
Também segundo testemunhas, citadas pela Reuters, o militar filmado a atarcar os migrantes terá desenrolado uma corda e lançou-a junto do rosto de um dos homens que tentava passar a fronteira.
"Não acredito que alguém que veja estas imagens ache aceitável ou apropriado", disse a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, à comunicação social, na segunda-feira. "Não sei em que contexto aconteceu. Não consigo imaginar que contexto podia tornar esta atitude apropriada".
Psaki afirmou ainda, adiantou a plataforma digital Politico, que a Administração Biden considerava que se trata de uma situação "horrível de assistir" e que estava "compreensivelmente" indignada com a possibilidade de as autoridades norte-americanas terem usado chicotes ou objetos semelhantes contra os migrantes que se juntaram perto de Del Rio, no Texas.
A porta-voz da Casa Branca disse ainda que, caso se prove que os oficiais usaram chicotes para controlar os migrantes, "nunca mais" deviam poder trabalhar numa operação semelhante.
"É obviamente horrível, o vídeo", condenou Psaki.
"É obviamente horrível, o vídeo", condenou Psaki.
Imagens são eco das injustiças contra afro-americanos?
Os conteúdos suscitaram até comentários, nas plataformas digitais, de que a imagem de "homens brancos" a cavalo a perseguir "homens negros" era o reflexo das injustiças históricas enfrentadas pelos afro-americanos nos EUA.
"A forma como nos tratam é por racismo, por causa da cor da nossa pele", disse à Reuters Maxon Prudhomme, um migrante haitiano abrigado nas margens do Rio Grande, no México.
A Patrulha de Fronteira já alegou, contudo, que não foram usados chicotes, mas sim as rédeas dos cavalos, e que nenhum migrante foi agredido.
Raul Ortiz, chefe da Patrulha de Fronteira, garantiu, entretanto, que o incidente está a ser investigado para garantir que não houve uma atitude "inaceitável" por parte dos oficiais. Segundo o responsável, os militares estavam a trabalhar num "ambiente difícil" e a tentar garantir a segurança dos migrantes, enquanto procuravam potenciais contrabandistas.
"Controlar um cavalo num rio é difícil", explicou Ortiz. "Pedi-lhes que verificassem se as pessoas estavam em perigo".
Raul Ortiz, chefe da Patrulha de Fronteira, garantiu, entretanto, que o incidente está a ser investigado para garantir que não houve uma atitude "inaceitável" por parte dos oficiais. Segundo o responsável, os militares estavam a trabalhar num "ambiente difícil" e a tentar garantir a segurança dos migrantes, enquanto procuravam potenciais contrabandistas.
"Controlar um cavalo num rio é difícil", explicou Ortiz. "Pedi-lhes que verificassem se as pessoas estavam em perigo".
Já o secretário do Departamento de Segurança Interna dos EUA, Alejandro Mayorkas, sublinhou que as rédeas são utilizadas pelos oficiais exatamente para "assegurar o controlo do cavalo".
"Mas vamos investigar o incidente", assegurou durante uma conferência de imprensa em Del Rio.
"Mas vamos investigar o incidente", assegurou durante uma conferência de imprensa em Del Rio.
A cidade texana Del Rio tornou-se abrigo para milhares de migrantes, instalados num acampamento improvisado sob a ponte que une os EUA e a cidade mexicana Ciudad Acuña. Estima-se que se tenham juntado neste local mais de 12 mil pessoas, embora o governador republicano do Texas, Greg Abbott, tenha afirmado que no sábado já ultrapassavam os 16 mil migrantes.
ONU "muito preocupada" com expulsão de haitianos pelos EUA
As Nações Unidas manifestaram hoje "profunda preocupação" com as expulsões de migrantes haitianos pelos Estados Unidos, alertando para o risco que representa para as pessoas que podem reivindicar o direito de asilo. Num comunicado conjunto, a Comissão da ONU para os Direitos Humanos (UNHRC) e o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) lembraram que todos os requerentes de asilo têm o direito de verem examinados os seus pedidos.
"Estamos profundamente preocupados com o facto de não ter havido um exame individual no caso [dos cidadãos haitianos]. Talvez algumas dessas pessoas não tenham recebido a proteção de que precisavam", disse a porta-voz do UNHRC, Marta Hurtado, durante uma reunião da ONU em Genebra.
Por sua vez, Shabia Mantoo, porta-voz do ACNUR, sublinhou no mesmo comunicado que o pedido de asilo "é um direito humano fundamental".
"Pedimos que esses direitos sejam respeitados", apelou Mantoo.
Joe Biden anunciou no sábado que iria acelerar o ritmo de deportações por avião de quase 15 mil migrantes, na maioria haitianos, que se encontravam concentrados sob uma ponte no Estado do Texas.
As expulsões de haitianos, recorde-se, foram temporariamente suspensas após um terramoto que devastou o seu país no mês passado, mas a "grande maioria dos migrantes vai continuar a ser deportada" imediatamente com base numa lei sobre saúde aprovada no início da pandemia para limitar a propagação do vírus, indicou, então, o Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos.
Aos problemas políticos e à insegurança que já afetavam o Haiti, juntou-se, em agosto, um forte sismo que devastou o sudoeste do país, matando mais de 2.200 pessoas. Cerca de 650.000 pessoas, entre as quais 260.000 crianças e adolescentes, continuam a necessitar de "ajuda humanitária de emergência", segundo a UNICEF.
Mais de 1,3 milhões de migrantes foram detidos na fronteira com o México desde a chegada de Joe Biden à Casa Branca, em janeiro deste ano, um nível inédito nos últimos 20 anos.
As Nações Unidas manifestaram hoje "profunda preocupação" com as expulsões de migrantes haitianos pelos Estados Unidos, alertando para o risco que representa para as pessoas que podem reivindicar o direito de asilo. Num comunicado conjunto, a Comissão da ONU para os Direitos Humanos (UNHRC) e o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) lembraram que todos os requerentes de asilo têm o direito de verem examinados os seus pedidos.
"Estamos profundamente preocupados com o facto de não ter havido um exame individual no caso [dos cidadãos haitianos]. Talvez algumas dessas pessoas não tenham recebido a proteção de que precisavam", disse a porta-voz do UNHRC, Marta Hurtado, durante uma reunião da ONU em Genebra.
Por sua vez, Shabia Mantoo, porta-voz do ACNUR, sublinhou no mesmo comunicado que o pedido de asilo "é um direito humano fundamental".
"Pedimos que esses direitos sejam respeitados", apelou Mantoo.
Joe Biden anunciou no sábado que iria acelerar o ritmo de deportações por avião de quase 15 mil migrantes, na maioria haitianos, que se encontravam concentrados sob uma ponte no Estado do Texas.
As expulsões de haitianos, recorde-se, foram temporariamente suspensas após um terramoto que devastou o seu país no mês passado, mas a "grande maioria dos migrantes vai continuar a ser deportada" imediatamente com base numa lei sobre saúde aprovada no início da pandemia para limitar a propagação do vírus, indicou, então, o Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos.
Aos problemas políticos e à insegurança que já afetavam o Haiti, juntou-se, em agosto, um forte sismo que devastou o sudoeste do país, matando mais de 2.200 pessoas. Cerca de 650.000 pessoas, entre as quais 260.000 crianças e adolescentes, continuam a necessitar de "ajuda humanitária de emergência", segundo a UNICEF.
Mais de 1,3 milhões de migrantes foram detidos na fronteira com o México desde a chegada de Joe Biden à Casa Branca, em janeiro deste ano, um nível inédito nos últimos 20 anos.