Fontes oficiais deste departamento dizem que há atualmente mais de 27 mil objetos em órbita A probabilidade de colisões em órbita está a aumentar.
“Há uma necessidade urgente de uma gestão adequada do tráfego espacial, com protocolos de comunicação claros e mais automatização,” diz Holger Krag, Diretor de Segurança Espacial da ESA.
Operadores e proprietários já foram avisados do risco e os militares estão a querer fugir à responsabilidade de desastres em órbita.
Um problema que pode comprometer não só toda uma estrutura de rede importante de vigia e investigação, mas acima de tudo, toda a rede de comunicações mundial.

Militares "vão deixar" de vigiar satélites comerciais
Está previsto para "breve" que as funções de gestão do trânsito espacial sejam entregues ao Departamento de Comércio. Mas essa passagem está dependente do Congresso autorizar e financiar este esforço.
Mas enquanto essa passagem não se realiza, os observadores militares e gestores do tráfego espacial enfrentam uma carga de trabalho imensa devido ao crescente congestionamento no espaço.
Roger Thompson, engenheiro sénior da Aerospace Corp., uma corporação sem fins lucrativos que fornece consultoria técnica ao Governo norte-americano, afirma que em breve "vamos ficar sobrecarregados com o número de satélites".
O lixo espacial é uma grande preocupação, mas ainda mais preocupante é a expansão projetada de megaconstelações em órbita baixa da Terra, disse Thompson à revista
SpaceNews. Uma clara alusão à constelação
Starlink da SpaceX mas não só.
"Em toda a história do programa espacial, desde 1957, lançamos cerca de nove mil satélites", refere Roger Thompson. A previsão para os próximos 10 a 15 anos é que mais de 50 mil satélites possam ser lançados, a maioria em órbita baixa da Terra a menos de mil quilómetros de altitude.
"O espaço é grande, mas ainda é limitado e todos esses satélites vão estar em órbitas quase circulares, próximos uns dos outros. Isso significa mais probabilidade de colisões entre objetos", acrescenta.
"Balas" espaciais
Quem está cá por baixo não imagina os milhões de objectos a circular na órbita terrestre.
Satélites operacionais, outros em fim de vida e muitos já desligados. Mas esses até nem são o problema maior, visto poderem ser rastreados e controlados.
A questão é que além desses existem milhões de pequenos objectos, provenientes de lançamentos espaciais que circulam em órbita a velocidades que ultrapassam os 20 mil quilómetros hora.
Se atingem outro objeto para além de os danificar pode criar ainda mais detritos no espaço.
Um relatório de pesquisa corporativa do Bank of America indica que dos 27 mil grandes objetos, maiores do que uma bola de beisebol, conhecidos pelo Comando Espacial norte-americano, a “voar” em órbita, cerca de 8 mil são projéteis não controlados que representam uma ameaça às missões espaciais e podem causar danos devastadores aos satélites ou mesmo à Estação Espacial Internacional.
Representação da ocupação de material artificial em órbita baixa da terra. (Fonte NASA/GOV)
Representação da ocupação de material artificial em órbita alta da terra. (Fonte NASA/GOV)
Por isso, é importante que existam "olhos e ouvidos" para esta zona sensível no espaço.
Neste momento os militares são os únicos de detêm uma rede de Vigilância Espacial, dispersa por vários locais em todo o mundo. O Comando de Defesa Aeroespacial da América do Norte implantou esses sensores como um sistema de alerta precoce para detetar mísseis balísticos.
A rede possui uma mistura de radares convencionais,
radares phased array e telescópios conhecidos como sistema de vigilância eletro-óptica do espaço terrestre, ou
GEODSS.
Também fazem parte da Rede de Vigilância Espacial dois satélites sensores eletro-ópticos do Programa de Percepção Situacional Espacial Geossíncrona operando em órbita quase geossíncrona.
Apesar de existirem planos para implantar um novo satélite de vigilância espacial em 2022, denominado
Silent Barker - um programa secreto financiado conjuntamente pela Força Aérea e pelo
National Reconnaissance Office – este sistema pode não ser suficiente para impedir um desastre global, criando caos no Espaço com forte implicação em tudo o que está cá por baixo.
Automatização da prevenção de colisões
A ESA - Agencia Espaciela Europeia - está a preparar-se para usar a "aprendizagem automática" para proteger os satélites do perigo muito real e crescente de detritos espaciais.
A Agência está a desenvolver um sistema de prevenção de colisões que avaliará automaticamente o risco e a probabilidade de colisões no espaço, melhorará o processo de tomada de decisão sobre a necessidade ou não de uma manobra e poderá até enviar ordens aos satélites em risco para se desviarem.
Tais decisões automatizadas poderiam até ocorrer a bordo de satélites, o que informaria diretamente outros operadores no solo e satélites em órbita das suas intenções. Isto será essencial para garantir que as decisões automatizadas não interfiram nos planos de manobra de outras pessoas.
À medida que estes sistemas inteligentes (IA) recolhem mais dados e experiência, vão tornar-se cada vez melhores na previsão de como as situações de risco evoluem, o que significa que os erros na tomada de decisões diminuiriam, assim como o custo das operações.
“Há uma necessidade urgente de uma gestão adequada do tráfego espacial, com protocolos de comunicação claros e mais automatização,” diz Holger Krag, Diretor de Segurança Espacial da ESA.
“É assim que o controlo de tráfego aéreo funciona há muitas décadas e agora os operadores espaciais precisam reunir-se para definir a coordenação automatizada de manobras.”
Ambiente atual de detritos
Voar numa missão espacial já não é o que era. Agora vemo-nos confrontados com os remanescentes de diligências orbitais passadas que ainda hoje assombram o ambiente da Terra.
Após aproximadamente 5450 lançamentos desde o início da era espacial em 1957, o número de objetos de detritos estimados em órbita, em janeiro de 2019, foi em resumo:
. 34,000 objetos com tamanho superior a 10cm
. 900 000 objetos entre 1cm a 10cm
. 128 milhões de objetos de 1mm a 10cm