Após as eleições primárias deste domingo do Partido Republicano do Povo (CHP, na sigla em turco), a principal força da oposição na Turquia, que oficializaram o nome de Ekrem İmamoğlu como candidato às próximas eleições presidenciais, o presidente da Câmara de Istambul foi destituído do cargo e colocado em prisão preventiva juntamente com outros funcionários municipais. É acusado de liderar uma organização criminosa, suborno, má conduta e corrupção.
Em causa estão um conjunto de acusações que o acusam de "ajudar um grupo terrorista armado" por cooperar com uma coligação política de esquerda na véspera das eleições autárquicas do ano passado.
O autarca e líder político Ekrem İmamoğlu, detido durante uma rusga no início da semana, passou a primeira noite na prisão em Silivri, a oeste de Istambul,
e negou todas as acusações, numa mensagem partilhada pelos seus advogados de defesa.
"Estou aqui. Tenho uma camisa branca vestida e não a vão poder sujar. O meu pulso é forte e não o vão conseguir torcer. Não vou recuar nem um milímetro. Vou ganhar esta guerra", clamou Ekrem İmamoğlu.
Protestos pela democracia
Na sequência das acusações contra İmamoğlu e, mais recentemente, da sua detenção, milhares de turcos saíram às ruas no domingo, reunindo-se pela quinta noite consecutiva junto à Câmara Municipal de Istambul, onde agentes da polícia lançaram gás pimenta e disparam gás lacrimogéneo para dispersar a multidão.
Estão convocadas para esta segunda-feira novas manifestações em todo o país.
Num discurso para a multidão, no domingo, a mulher do autarca, Dilek Kaya İmamoğlu, prometeu uma luta do povo turco e do marido contra a injustiça de que está a ser alvo, depois de ter sido detido e colocado em prisão preventiva apenas por acusações de corrupção.
"A injustiça que Ekrem enfrentou tocou em todas as consciências. Todos encontraram algo de si próprios e das injustiças que enfrentaram no que foi feito a Ekrem", disse a mulher do autarca. "Ele (Ekrem İmamoğlu) vai derrotar-vos! (...) Vocês vão perder!", avisou Dilek Kaya.
O mesmo aviso foi deixado à nação pelo próprio İmamoğlu. "Quinze milhões dos nossos cidadãos votaram", declarou.
"A mensagem que enviaram a Erdoğan foi clara: "Basta!", continuou, para deixar o aviso de que "aquela urna vai chegar e a nação vai dar uma bofetada que este Governo nunca esquecerá".
"Terrorismo de rua"
Milhares de pessoas encheram praças
públicas, campus universitários e a Câmara Municipal de Istambul para
protestar contra a prisão do rival do presidente turco, Recep Tayyip Erdoğan, e a repressão das autoridades contra a probição de protestos.
Segundo as autoridades, pelo menos 300 pessoas foram detidas na última semana.
Numa publicação na rede social X, Recep Tayyip Erdoğan considerou a atual onda de protestos que começou na capital turca e alastrou ao resto do país como sendo "terrorismo de rua".
“Os dias de sair para a rua juntamente
com organizações de esquerda e vândalos para apontar o dedo à vontade
nacional acabaram", escreveu.
"Não permitiremos definitivamente que o CHP e os
seus apoiantes perturbem a ordem pública e perturbem a paz da nossa
nação através de provocações", acrescentou.
Comunidade internacional preocupada
Com a detenção do autarca da oposição, a comunidade internacional está de olhos postos na Turquia e alerta para um ataque à democracia. Após as reações de séria condenação de Paris e Berlim no domingo, a União Europeia exortou esta segunda-feira a Turquia a "respeitar os valores democráticos".
“Queremos que a Turquia continue ancorada na Europa, mas para isso é necessário um compromisso claro com as normas e práticas democráticas”, afirmou o porta-voz da Comissão Europeia, Guillaume Mercier.
No domingo, o ministério francês dos Negócios Estrangeiros denunciou "um grave ataque à democracia", enquanto que o Bundestag considerou a detenção "um sério revés para a democracia na Turquia". Esta segunda-feira de manhã, a vizinha Grécia considerou a situação política "instável e preocupante".
"As concessões ao Estado de direito e às liberdades civis não podem ser toleradas", afirmou o porta-voz do Governo, Pavlos Marinakis. Ancara deverá dar "respostas convincentes para qualquer alegada violação destes princípios", acrescenta.