Dezenas de palestinianos ficaram feridos em confrontos em Gaza e em várias localidades da Cisjordânia, durante protestos contra a decisão de Donald Trump de reconhecer Jerusalém como a capital de Israel. Durante a tarde desta quinta-feira, as sirenes tocaram na cidade de Ashkelon, no sul do Estado hebraico, depois do lançamento de dois rockets a partir da Faixa de Gaza.
Na Cisjordânia, os manifestantes também incendiaram pneus e lançaram pedras contra as forças antimotim.
Na Faixa de Gaza, vários populares queimaram fotografias de Donald Trump e de Benjamin Netanyahu e bandeiras dos EUA e de Israel.
Nos territórios palestinianos, escolas e lojas não abriram esta quinta-feira, o primeiro de “três dias de ira” em protesto pela decisão de Trump.
Filipe Silveira, Carlos Valente - RTP
Os palestinianos esperam fazer da porção oriental de Jerusalém a capital de um futuro Estado.
Em vésperas de orações muçulmanas de sexta-feira, mais de uma centena de pessoas concentraram-se num protesto pacífico junto à Porta da Damasco, uma das principais portas da Cidade Velha de Jerusalém, onde se situa a mesquita de Al-Aqsa.
Protestos na Tunísia e na Jordânia
A decisão do Presidente dos Estados Unidos está também a ser contestada em diversas cidades da Tunísia e na capital da Jordânia, Amã.
Em Tunes, capital tunisina, várias centenas de pessoas responderam à convocação dos partidos de esquerda e de grupos islâmicos e protestaram contra a decisão de Trump.
“Somos todos muçulmanos” e “Trump amaldiçoado” foram algumas das frases de ordem entoadas pelos manifestantes.
Um jornalista da France Presse relatou que entre 100 a 200 pessoas tentaram dirigir-se até às instalações da embaixada dos Estados Unidos, mas foram impedidos pela polícia.Também no Parlamento tunisino, os deputados adotaram um texto a pedir “aos poderes árabes e muçulmanos” para que assumam a respetiva responsabilidade histórica.
Em diversas artérias de Tunes foram colocadas carrinhas da polícia e algumas estradas foram cortadas.
Na segunda cidade da Tunísia, Sfax (centro-leste), cerca de mil manifestantes saíram à rua em defesa da causa palestiniana.
Em Amã, as agências internacionais relatam que manifestantes queimaram, junto da representação diplomática norte-americana na Jordânia, fotografias de Donald Trump e bandeiras dos EUA.
“Nenhuma embaixada norte-americana em solo jordano” ou “Morte a Israel” foram as palavras de ordem ouvidas na capital da Jordânia.
São esperados novos protestos esta sexta-feira em Amã, após a oração do dia sagrado dos muçulmanos.
Outros protestos contra a decisão de Donald Trump ocorreram em vários países de maioria muçulmana, nomeadamente no Paquistão e na Turquia. O Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, acusou mesmo Donald Trump de lançar o “Médio Oriente para um círculo de fogo”.
“Trump, o que é que tu queres fazer? Os líderes políticos não estão lá para agitar as coisas, mas antes para as pacificar. Agora, com estas declarações, Trump cumpre as funções de uma batedeira”, frisou Erdogan. Dezenas de feridos
O Crescente Vermelho afirma que 49 pessoas ficaram feridas nos protestos em Jerusalém, Belém, Ramallah e outras localidades. Na Faixa de Gaza e em toda a Cisjordânia ocupada, os confrontos provocaram ferimentos em 31 palestinianos. Um dos quais em estado grave. Israel e a milícias de Gaza maninham até agora uma trégua assinada em agosto de 2014, apesar de ocasionais violações.
O exército israelita acusa os ativistas palestinianos de lançarem dois rockets contra um posto militar próximo da parte norte da Faixa de Gaza. Ao início da noite não havia notícia de feridos.
"Depois das sirenes que se fizeram ouvir nos concelhos regionais de Hof Ashkelon e em Sha’ar HaNegev, foram identificados dois lançamentos de rocket da Faixa de Gaza rumo a Israel. Não foram confirmados alvos em território israelita. Os rockets mantiveram-se dentro da Faixa de Gaza", indicou o Exército israelita em comunicado.
Segundo o documento das Forças Armadas de Israel, como forma de represália, “tanques do Exército e aviões da Força Aérea atacaram quatro postos militares do Hamas no norte da Faixa de Gaza”.
Israel responsabiliza o Hamas por “qualquer atividade hostil perpetrada contra a Faixa de Gaza”. Hezbollah apela a manifestação
O movimento xiita libanês Hezbollah, inimigo declarado de Israel, apelou a uma “manifestação de massas” na segunda-feira, em Beirute, contra a decisão dos EUA. Em 2006, Israel e o Hezbollah travaram um conflito armado, que provocou mais de 1.200 mortos libaneses, principalmente civis, e 160 soldados israelitas.
O dirigente do Hezbollah Hassan Nasrallah apelou "a toda a gente para uma grande manifestação popular para protestar e denunciar esta agressão norte-americana e esta decisão injusta", além de "exprimir a solidariedade para com o povo palestino".
O protesto foi marcado para o meio-dia nos subúrbios sul (bastião do Hezbollah) de Beirute, capital do Líbano.
"Apelo para que homens, mulheres, jovens e velhos, vão aos subúrbios sul de Beirute e a todos que desejem se manifestar”, sublinhou Nasrallah, num discurso retransmitido na televisão.
O dirigente do Hezbollah dirigiu-se também aos habitantes "dos campos de refugiados à participação", em referência aos 12 campos de refugiados palestinianos no Líbano, instalados perto do Estado de Israel.
Hamas apela a nova intifada
O movimento islamista Hamas apelou, por sua vez, a uma nova revolta popular palestiniana. “Que o dia 8 de dezembro seja o primeiro dia de intifada contra o ocupante”, afirmou o dirigente Ismail Haniyeh, num discurso na Faixa de Gaza.
"Só podemos enfrentar a política sionista - apoiada pelos Estados Unidos - lançando uma nova Intifada", acrescentou.
Haniyeh, eleito líder do Hamas em maio, apelou à revolta popular contra Trump sob a forma de um “dia de raiva”.
“Demos instruções para que os membros do Hamas para estarem prontos para qualquer nova ordem que possam ser dadas para confrontar este perigo estratégico que ameaça Jerusalém e ameaça a Palestina”, rematou.
O Hamas é considerado pelos Estados Unidos e por Israel como uma organização terrorista. O grupo não reconhece o direito de Israel existir e os seus ataques suicidas marcaram os anos de 2000 a 2005.
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