Seis meses depois do início da guerra civil no Sudão, recomeçaram na Arábia Saudita as negociações de paz entre representantes do exército sudanês e as forças paramilitares de apoio rápido (RSF, na sigla em inglês) para tentar pôr termo a um conflito que mergulhou o país numa crise humanitária colossal. Morreram já mais de nove mil pessoas e há mais de cinco milhões de deslocados internos e refugiados, segundo dados da ONU.
Na semana passada, a 26 de outubro, as duas partes em conflito no Sudão retomaram as negociações de paz na cidade de Jeddah, no oeste da Arábia Saudita, para tentarem pôr termo a mais de seis meses de intensas hostilidades, sob a égide saudita e dos Estados Unidos. Isto após tentativas fracassadas de mediação, no mês de maio, que resultaram em tréguas que rapidamente se desfizeram.
"As conversações de Jeddah não podiam ter começado suficientemente cedo. Mais de seis meses após o início da crise no Sudão, a tragédia humanitária no país continua a desenrolar-se sem tréguas", declarou Martin Griffiths, coordenador da ajuda de emergência da ONU, num comunicado divulgado no domingo. “São uma oportunidade decisiva para que o povo do Sudão saiba que não está a ser esquecido”, afirmou Griffiths.
Apesar de ter saudado os esforços de mediação em curso para facilitar uma resolução pacífica da guerra civil no Sudão, entre as Forças Armadas sudanesas e as Forças de Apoio Rápido (RSF), o também subsecretário-Geral para os Assuntos Humanitários da ONU, Martin Griffiths sublinhou a terrível situação da população sudanesa, desde meados de abril quando o conflito eclodiu no país.
"Milhares de pessoas foram mortas ou feridas. Uma em cada nove
pessoas fugiu das suas casas. Cerca de um terço da população poderá em
breve ficar em situação de insegurança alimentar", relatou.
Ajuda humanitária "extremamente difícil"
Martin Griffiths sublinhou que a comunidade humanitária, incluindo o gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês) que dirige, está a tentar fazer tudo apesar da falta de financiamento para responder às necessidade cada vez maiores da população no Sudão. "Desde meados de abril, prestámos assistência a 3,6 milhões de pessoas, mas isto representa apenas 20 por cento das pessoas que esperamos ajudar", afirmou. Estamos "paralisados pelos combates, pela insegurança e pela burocracia, o que torna o ambiente operacional no Sudão extremamente difícil", explicou o representante do OCHA.
O coordenador da ajuda humanitária da ONU também expôs a vulnerabilidade do sistema de saúde no Sudão, com o aumento do risco de doenças no país africano, mas também o risco de uma geração inteira de crianças sudanesas estar privada de acesso à educação. "O sistema de saúde está em frangalhos, com o espetro de surtos de doenças, incluindo a cólera, a pairar no ar", alertou Griffiths.
À medida que a tragédia humanitária aumenta no país, também diminuiu o financiamento da ajuda humanitária "faltam-nos milhares de milhões de dólares para o financiamento de que necessitamos", explica Martin Griffiths. O que, no seu entender, torna as conversações de Jeddah, na Arábia Saudita, "cruciais".
Griffiths disse que é preciso que "as Forças Armadas sudanesas e as Forças de Apoio Rápido quebrem o impasse burocrático. Precisamos que adiram plenamente ao direito humanitário internacional. Precisamos que garantam um acesso seguro, sustentado e sem entraves às pessoas necessitadas, seja em Darfur, Cartum ou Cordofão".
Também a Missão Integrada de Assistência à Transição da ONU no Sudão (UNITAMS) felicitou, num comunicado de imprensa, o reinício das conversações e disse esperar que a "nova ronda de negociações resulte na implementação da Declaração de Compromisso para Proteger os Civis do Sudão, assinada a 11 de maio de 2023, e num cessar-fogo abrangente, dois fatores cruciais para aliviar o sofrimento do povo sudanês".
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