Entrou em vigor, na madrugada desta quarta-feira, o cessar-fogo no Líbano entre o grupo xiita Hezbollah e Israel. Na estrada de Beirute para o sul do Líbano, formaram-se filas de carros com pessoas que regressam a casa após meses deslocadas.
Isto apesar do alerta das Forças de Defesa de Israel (IDF), que pediram aos moradores do sul do Líbano para não regressarem de imediato a casa, afirmando que avisariam “quando for seguro regressarem”.
“O Comando do Exército pede aos cidadãos que adiem o regresso às vilas e cidades da linha da frente onde as forças israelitas avançaram até que a sua retirada seja concluída de acordo com o cessar-fogo”, disse o exército israelita na rede social X.
Embora o cessar-fogo estipule que as IDF se devem retirar completamente do sul do Líbano dentro do prazo estipulado de 60 dias, o regresso das tropas a Israel não deve ocorrer de imediato.
“À medida que o cessar-fogo entra em vigor, o exército está a tomar as medidas necessárias para concluir sua retirada do sul, conforme determinado pelo governo libanês”, afirmaram as IDF.
No Líbano, a notícia do cessar-fogo foi recebida com alguma desconfiança por parte dos adultos. Já as crianças que vivem em centros de deslocados falam da alegria de voltar a casa.O que diz o acordo?O acordo de cessar-fogo foi mediado pelos Estados Unidos e pela França e implica a retirada, a partir desta quarta-feira, das forças israelitas do Líbano num prazo de 60 dias.
Por outro lado, o movimento xiita libanês Hezbollah compromete-se a ir para norte do Rio Litani, uma fronteira estabelecida no final da última guerra entre Israel e o Hezbollah, em 2006. Assim, os dois países libertam uma faixa que será patrulhada pelo exército libanês e pelos capacetes azuis da UNIFIL.
Segundo o acordo, o exército libanês deve também enviar 5.000 soldados para o sul do país.
"Este anúncio criará as condições para restaurar a calma duradoura e permitir que os moradores de ambos os países regressem em segurança para as suas casas", disse a presidência norte-americana e francesa numa declaração conjunta, emitida na terça-feira.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, disse que este é o momento certo para o cessar-fogo com o Líbano, enfatizando que "a duração vai depender do que acontecer" no país dos cedros. “Mantemos total liberdade de ação militar”, disse Netanyahu, avisando que Israel não hesitará em voltar a atacar se o Hezbollah violar qualquer parte do acordo.
"Se o Hezbollah violar o acordo e tentar armar-se, nós atacaremos. Se ele tentar reconstruir a infraestrutura terrorista perto da fronteira, nós atacaremos", alertou Netanyahu.
Benjamin Netanyahu considera que a trégua permitirá a Israel “intensificar” a sua pressão sobre o Hamas, contra o qual lidera uma ofensiva na Faixa de Gaza.
"Quando o Hezbollah estiver fora do jogo, o Hamas será deixado sozinho [em Gaza]. A nossa pressão irá intensificar-se e isso contribuirá para a missão sagrada de libertar os nossos reféns", disse Netanyahu durante um discurso transmitido na televisão, na terça-feira.
O cessar-fogo permitirá também a Israel “concentrar-se na ameaça iraniana”, acrescentou Netanyahu.
O Hamas, por sua vez, saudou o cessar-fogo no Líbano e afirmou que o movimento islamita palestiniano também "está pronto" para uma trégua com o exército israelita na Faixa de Gaza.
"O anúncio do cessar-fogo no Líbano é uma vitória e um grande sucesso para a resistência", declarou um alto responsável do Hamas à agência de notícias France Presse. "O Hamas está pronto para um acordo de cessar-fogo e para um acordo sério de troca de prisioneiros", acrescentou.
"Uma nova página" na história do Líbano
O primeiro-ministro libanês, Najib Mikati, também saudou o acordo de cessar-fogo, apelidando-o de "um passo fundamental para restaurar a calma e a estabilidade" no país e permitir que os cidadãos regressem a casa.
Mikati espera que esta trégua abra “uma nova página” na história do Líbano e apela a Israel para que “cumpra integralmente” o cessar-fogo acordado e "se retire de todas as regiões e posições que ocupou".
A proposta de cessar-fogo estipula também que apenas “as forças militares e de segurança oficiais” no Líbano estão autorizadas a transportar armas no país, de acordo com uma cópia do acordo datada de terça-feira à qual a Reuters teve acesso.O documento nomeia estas forças como Forças Armadas Libanesas, Forças de Segurança Interna, Segurança Geral, Segurança do Estado, alfândega libanesa e polícia municipal.
A proposta de tréguas refere-se ao compromisso de ambos os lados de implementar plenamente a Resolução 1701 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, incluindo cláusulas que se referem ao "desarmamento de todos os grupos armados no Líbano".
O Irão, um dos principais apoiantes do Hezbollah, também já reagiu, saudando o fim daquilo a que chama “a agressão por parte do Estado israelita”.
Esta quarta-feira, as forças israelitas dispararam tiros de aviso contra vários veículos para os impedir de chegar a uma zona proibida em território libanês. Segundo os militares israelitas, os suspeitos acabaram por se afastar do local.
Os combates entre Israel e o Líbano duravam já quase há um ano e intensificaram-se em setembro, quando Telavive intensificou os bombardeamentos e lançou uma invasão terrestre contra o Hezbollah.
O conflito foi o mais mortal no Líbano em décadas, matando mais de 3.823 pessoas, de acordo com autoridades locais. Para o presidente do Parlamento do Líbano, a guerra com Israel foi a “fase mais perigosa” da história do país.
c/ agências