Milhares de estruturas destruídas. Cresce o número de vítimas dos incêndios de Los Angeles

por Cristina Sambado - RTP
Allison Dinner - EPA

Os incêndios florestais que ameaçam Los Angeles já mataram pelo menos dez pessoas e devoraram cerca de dez mil estruturas, com cinco fogos ativos pela terceira noite consecutiva. Os ventos secos do deserto continuam a alimentar as chamas.

Em comunicado, o Departamento de Medicina Legal do condado de Los Angeles disse ter sido "notificado de dez mortes relacionadas com incêndios".

"Todos os casos aguardam atualmente identificação e notificação aos familiares mais próximos", acrescenta o texto, divulgado na quinta-feira à noite.

"A identificação pode demorar várias semanas, uma vez que o Departamento de Medicina Legal não pode visitar todos os locais (...) devido às condições de incêndio e a questões de segurança", alertou.

O departamento sublinhou ainda que os "meios tradicionais de identificação", como as impressões digitais e a identificação visual, "podem não estar disponíveis" porque alguns corpos estão carbonizados.

"Isto significa que será necessário mais tempo para identificar os falecidos", reconheceu.

Antes desta confirmação, o xerife do condado de Los Angeles, Robert Luna, revelou que era expectável que o número de vítimas mortais aumentasse.

“Parece que uma bomba atómica foi lançada nestas áreas. Não estou à espera de boas notícias e não estamos ansiosos pelos números”, afirmou Luna.O incêndio de Palisades, entre Santa Mónica e Malibu, no flanco ocidental da cidade, e o incêndio de Eaton, no leste, perto de Pasadena, são já os mais destrutivos da história de Los Angeles, consumindo mais de 13.750 hectares, transformando bairros inteiros em cinzas.

A empresa privada de previsões AccuWeather estimou os danos e as perdas económicas entre 135 e 150 mil milhões de dólares, o que pressagia uma recuperação difícil e um aumento dos custos dos seguros dos proprietários de casas.

“Já estamos a olhar para a frente para reconstruir agressivamente a cidade de Los Angeles”, avançou a presidente da câmara Karen Bass, uma democrata, que enfrentou críticas do presidente eleito Donald Trump e de outros republicanos sobre a forma como lidou com o desastre.

A autarca pediu aos habitantes para cumprirem as ordens de retirada das habitações e para respeitarem as instruções das autoridades de segurança pública.

"A prioridade para todos em Los Angeles continua a ser mantenham-se seguros e, por favor, sigam as instruções das autoridades de segurança pública. Quando vos disserem para sair, por favor, saiam. Quando não se retiram, comprometem a capacidade dos elementos de socorro para gerirem esta crise, colocam-se em perigo e põem os outros em perigo", apelou Karen Bass.
 
Ao todo, cinco incêndios florestais deflagraram no condado de Los Angeles. Vários meios aéreos lançaram retardante e água sobre as colinas para tentar conter as chamas.

Um avião Super Scooper emprestado pelo Canadá ficou danificado e imobilizado depois de ter atingido um drone civil não autorizado perto do incêndio de Palisades, revelaram os bombeiros do condado de Los Angeles. Não houve feridos.

A noroeste da segunda maior cidade dos Estados Unidos, o incêndio que está a consumir o bairro de luxo de Pacific Palisades, com as moradias de multimilionários e celebridades, situado entre Malibu e Santa Mónica, ainda não estava controlado na quinta-feira à noite. Isto apesar do reforço dos helicópteros que lançam água, graças a uma trégua temporária nos ventos violentos que alimentam as chamas.Cerca de 180 mil pessoas continuam sob ordens de evacuação. Milhares de edifícios foram destruídos ou danificados.

O incêndio de Altadena também não foi dominado, apesar de a sua propagação ter sido “consideravelmente travada” durante a noite anterior, segundo os bombeiros.

Na quinta-feira, um incêndio de crescimento rápido deflagrou perto de Calabasas, uma das cidades mais ricas dos EUA e lar de inúmeras celebridades e condomínios fechados. O chamado Fogo de Kenneth expandiu-se para 388 hectares numa questão de horas.

O condado de Los Angeles enviou, por engano, um aviso de evacuação para toda a população de 9,6 milhões de habitantes, apesar de se destinar apenas à área do incêndio de Kenneth, segundo as autoridades. Foi rapidamente enviada uma correção.


Na tarde de quinta-feira, um outro incêndio deflagrou perto de Calabasas e do rico bairro de Hidden Hills, onde vive a estrela Kim Kardashian. O incêndio de Eaton atingiu os terrenos do Observatório do Monte Wilson, o local onde há um século Edwin Hubble descobriu a existência de galáxias para além da Via Láctea e que o universo está a expandir-se. O Observatório revelou mais tarde que as chamas pareciam estar controladas.

As equipas de bombeiros conseguiram controlar totalmente o incêndio de Sunset Fire em Hollywood Hills, depois de as chamas se terem alastrado no topo do cume com vista para o Passeio da Fama de Hollywood Boulevard na noite de quarta-feira.

Na noite de quinta-feira, em Pacific Palisades, casas outrora palacianas encontravam-se em ruínas, enquanto linhas elétricas caídas e carros abandonados cobriam as estradas.

Os habitantes, que recusaram abandonar as habitações, acusam as autoridades de não terem enviado meios para os ajudar a combater as chamas que ameaçavam as áreas.


Um vídeo aéreo mostrava quarteirões e mais quarteirões de casas destruídas, enquanto imagens de satélite mostravam os dois maiores incêndios a formar um círculo à volta da cidade e grossas nuvens de fumo dos incêndios a serem lançadas sobre o Oceano Pacífico. As autoridades estão a pedir aos habitantes que poupem água, uma vez que alguns reservatórios que abastecem as boca-de-incêndio foram despejados na luta contra as chamas.

No entanto, enquanto os incêndios que devastaram bairros de celebridades perto de Malibu chamaram a atenção do mundo, um incêndio de dimensão semelhante em Eaton Canyon, a norte de Los Angeles, devastou Altadena, uma comunidade racial e economicamente diversificada.

Entre as ruínas de Altadena, algumas pessoas assumiram o papel de vigilantes, patrulhando para proteger o que resta dos seus bairros. Foi decretado o recolher obrigatório nas zonas evacuadas da cidade costeira de Santa Mónica.

As famílias negras e latinas vivem em Altadena há gerações e o subúrbio é também popular entre os jovens artistas e engenheiros que trabalham no laboratório de foguetões da NASA, nas proximidades, atraídos pelo ambiente de cidade pequena e pelo acesso à natureza.

Muitos residentes afirmaram à agência Reuters que estavam preocupados com o facto de os recursos governamentais serem canalizados para áreas de grande visibilidade, enquanto as companhias de seguros podem ficar aquém das famílias menos abastadas que não têm meios financeiros para contestar os sinistros de incêndio.

Os residentes de Altadena manifestaram o receio de que a área se possa tornar mais gentrificada se as famílias que lá vivem há gerações não conseguirem obter pagamentos de seguros para cobrir os custos de reconstrução de uma casa que compraram barata há décadas.


Os habitantes afirmaram ainda que não viram nenhum carro de bombeiros em Altadena, quando fugiram das chamas que envolviam a sua comunidade, alimentando o ressentimento de que o seu bairro não era uma prioridade.
Reforços militares
Várias centenas de reforços militares deverão chegar à zona dos incêndios, anunciou na quinta-feira à noite o governador da Califórnia, Gavin Newsom.

O democrata ordenou o envio da Guarda Nacional, com uma dupla missão: ajudar os milhares de bombeiros que lutam contra o incêndio e restabelecer a ordem, uma vez que a região está a ser vítima de roubos. Pelo menos 20 pessoas foram detidas por furto nos últimos dias.


“Sejamos claros: os roubos não serão tolerados”, insistiu.
Colinas secas e ventos fortes
As rajadas de vento que, nos últimos dias, chegaram a atingir 160 quilómetros por hora, arrastando brasas por quilómetros, acalmaram. Mas o vento não desapareceu e as colinas continuam muito secas: as condições continuam “críticas”, segundo as autoridades.

“Os ventos continuam a ser históricos. Isto é absolutamente sem precedentes”, advertiu a presidente da câmara de Los Angeles, Karen Bass.

O alerta meteorológico prolongar-se-á até sexta-feira e “continua a ser provável uma evolução significativa dos incêndios”, segundo o serviço meteorológico.

c/ agências
PUB