Milhares de argentinos marcham em repúdio ao discurso de ódio contra Cristina Kirchner

por Lusa
Juan Ignacio Roncoroni - EPA

Milhares de manifestantes de organizações políticas, sociais e sindicais, todas aliadas do Governo, marcharam por todo o país em solidariedade com Cristina Kirchner e contra o discurso de ódio, que responsabilizam pelo atentado à vice-Presidente.

"A culpa de tudo isso é dos meios de comunicação que propagam o ódio da oposição contra Cristina. E agora a Justiça que responde a esses interesses económicos quer prendê-la sem nenhuma prova. É preciso pôr um fim nessa perseguição", afirma à Lusa Norma Anselmi, de 52 anos, funcionária pública e militante do denominado "kirchnerismo", a ala mais radical do Peronismo de Cristina Kirchner e do Presidente, Alberto Fernández.

As manifestações, com epicentro na Praça de Maio, em frente à Casa Rosada, sede do Governo, apontam diretamente contra a imprensa, contra a oposição e contra a Justiça que investiga Cristina Kirchner por corrupção. Para o Governo, esses três grupos perseguem a atual vice-Presidente e ex-Presidente (2007-2015), destilando um discurso de ódio que deriva em tentativas de agressões como a frustrada tentativa de magnicídio.

"Como não podem ganhar nas urnas, querem acabar com Cristina Kirchner, levando-a à prisão sem provas. Precisamos defender a democracia", reforça Norberto Amaya, de 47 anos, enquanto marcha em direção à Praça de Maio, envolvido por uma bandeira argentina.

O Presidente decretou feriado nacional para incentivar a mobilização social "e, defesa da democracia, contra o discurso de ódio e em solidariedade com Cristina Kirchner", após o frustrado atentado alegadamente cometido por um brasileiro de 35 anos, radicado em Buenos Aires desde a infância.

"O Presidente analisou o estado de comoção social derivado da tentativa de assassínio (...) e convoca os setores sindicais, sociais, empresariais e religiosos a construírem um amplo consenso contra os discursos de ódio e de violência", afirmou a nota oficial da Casa Rosada.

Alberto Fernández atribuiu o atentado "ao discurso de ódio que tem sido espalhado a partir de espaços políticos, judiciais e mediáticos".

"Quando o Presidente diz isso, está a culpar a oposição pelo que aconteceu. Junto com o discurso de vitimização de Cristina Kirchner, aparecem as condenações e os culpados: a imprensa que dá voz aos opositores e à Justiça que investiga Cristina Kirchner. O Presidente entende que as investigações da Justiça afetam a paz social e pretende a impunidade", avalia à Lusa o filósofo e analista político Santiago Kovadloff, uma referência no país.

"É o uso político de um facto repudiável. O Governo procura uma rentabilidade política ao aprofundar a polarização e a martirização da vice-Presidente", aponta Kovadloff.

Enquanto milhares de pessoas lotavam a Praça de Maio, Alberto Fernández recebia os setores sociais, políticos, sindicais e religiosos que lideravam as manifestações, mas não a oposição.

O brasileiro de 35 anos, filho de mãe argentina e de pai chileno, apontou uma pistola a poucos centímetros do rosto da vice-Presidente, Cristina Kirchner e chegou a puxar o gatilho da arma carregada, que não disparou.

Fernando misturou-se com os milhares de militantes que se concentram há 12 dias em frente ao edifício onde vive a governante, em solidariedade com a ex-Presidente, que consideram perseguida desde o dia 22 de agosto, quando o Ministério Público pediu 12 anos de prisão para Cristina Kirchner por crimes de corrupção e fraude ao Estado.

"Há vários anos, um setor minúsculo da política e os seus meios de comunicação partidários têm repetido um discurso de ódio, de negação ao outro, de estigmatização, de criminalização de qualquer dirigente popular ou afim ao Peronismo", acusou a atriz Alejandra Darín ao ler um texto no palco central do protesto na Praça de Maio.

"Fazemos este apelo à unidade nacional, mas não a qualquer preço: o ódio fica de fora", convocou Darín.

Tópicos
PUB