Nem as notícias do aumento de casos de infeção com SARS-CoV-2 na Europa demoveram milhares de pessoas de participar nos protestos marcados para este sábado nas principais cidades do velho continente. Denunciaram a pandemia como "fraude" e contestaram a imposição de restrições, incluindo o distanciamento social e o uso obrigatório de máscara.
Cerca de 20 mil pessoas pretendiam marchar em torno da Porta de Brandeburgo sob o lema "Festa da Liberdade e da Paz", gritando palavras de ordem como "Parem com as Mentiras sobre o Corona" e "Merkel tem de se demitir" - slogan do partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha e uma referência à chanceler alemã, que sexta-feira apelou os cidadãos a manter a vigilância contra o novo coronavírus.
"Este é um assunto sério, mesmo muito sério, e têm de continuar a leva-lo a sério", exortou Angela Merkel. A Alemanha tem vindo a contabilizar uma média de 1.500 casos diários nas últimas semanas, depois de ter sido um dos países menos afetados pela Covid-19.
Cerca de três mil agentes de segurança foram mobilizados para vigiar o protesto, preparados para a possibilidade de violência.
De acordo com as autoridades berlinenses, que tentaram proibir a manifestação, grupos ativistas auto-intitulados "livres pensadores", militantes antivacinas, adeptos de teorias de conspiração e outros, que se opõem às medidas de contenção do vírus, teriam apelado nas redes sociais aos seus seguidores para se dirigirem a Berlim e se possível armados.
Pela liberdade
A polícia de Berlim começou a tentar dispersar o protesto mal este tinha começado, sob pretexto de que o distanciamento social não estava a ser cumprido e ninguém estava a usar máscara.Os manifestantes, muitos deles sentados em plena via pública, recusaram obedecer, entre gritos de "resistência" e depois "nós somos o povo!", um slogan utilizado pela extrema-direita alemã, seguindo-se o hino nacional alemão.
Outros prosseguiram com o protesto, sem intervenção policial. Um grupo lançou pedras e garrafas contra a policia.
A multidão era heterogénea, de todas as classe e idades, incluindo famílias com crianças pequenas e bandeiras arco-iris e da Alemanha lado a lado.
O protesto, que se seguiu a outro semelhante realizado a 1 de agosto, é sinal do ressentimento crescente entre muitos europeus contra as restrições impostas para combater a pandemia, vistas, por exemplo na Alemanha, como um "ataque à Constituição" no que concerne a liberdade de expressão.
Em Londres, o ponto central do protesto foi Trafalgar Square. Um milhar de participantes, "Unidos pela Liberdade", juntou-se contra as restrições impostas para controlar a pandemia de Covid-19, e denunciar o que designam como "fraude". Na manifestação em Londres acabaram por soar outras palavras de ordem, contra a falta de apoios sociais e a quebra da Economia.
Muitos dos manifestantes carregavam cartazes com as palavras "Fake News" e "Máscaras são Açaimes", enquanto outros rejeitavam vacinas obrigatórias contra o novo coronavírus.
"Salvem as crianças" e "Escolham Um Lado", foram gritos repetidos em coro pelos participantes, atentamente vigiados por um contingente policial de uma centena de agentes, parados atrás de grades, sob uma chuva de insultos.
O distanciamento social não foi respeitado e nenhum manifestante usava máscara. Tal como em Berlim, viram-se pessoas de todas as idades e proveniências, incluindo crianças ao colo.
Em Paris, os manifestantes não ultrapassaram as três centenas, numa cidade que esta semana viu tornar-se obrigatório o uso de máscara.
Esta serviu de mote à contestação, com os cartazes empunhados a exigir "Deixem as Nossas Crianças Respirar" e "Não à Ditadura Sanitária".
Outros clamavam pelo "Fim da Mentira e da Corrupção" ou garantiam que "O Estado Profundo não passará", em alusão ao Deep State, designação dada a uma rede de interesses que opera dentro do Estado e a coberto deste, em defesa dos próprios interesses, equivalente a um Estado dentro do Estado.
"Alguém mente desde o início, pois ao princípio dizia-se que não era necessário usar máscara. Queremos saber a razão desta incoerência", afirmou Saïd, de 53, vindo dos arredores de Paris.
"Não há provas científicas quanto à utilidade do uso das máscaras no exterior", referiu Anaïs, de 26 anos e estudante de sociologia.
Um outro manifestante, assumido colete amarelo dos protestos de 2019 em França, criticou o custo da máscara, que, defende deveria ser "gratuita". "E só mais um pretexto para por o povo a pagar", afirmou.
A nível global, a Covid-19 matou 838.271 pessoas até este sábado e desde finais de dezembro de 2019, de acordo com um balanço da Agência France Presse. Já o número de casos de infeção aproxima-se rapidamente dos 25 milhões em todo o mundo.