Mil dias de guerra. Zelensky insiste que Putin "não vai parar sozinho"

por Cristina Sambado - RTP
Olivier Matthys - EPA

Na data em que se assinala mil dias da invasão da Ucrânia pelas tropas russas, o presidente Ucraniano participou, por videoconferência, numa sessão do Parlamento Europeu. Aos eurodeputados, Volodymyr Zelensky afirmou esta terça-feira que Vladimir Putin "está concentrado na vitória. Ele não vai parar por si próprio. Quanto mais tempo tiver, mais as condições se deterioram".

No discurso, que recebeu uma longa ovação dos eurodeputados, Zelensky acrescentou que o número de tropas norte-coreanas ao serviço dos russos pode crescer até aos 100 mil efetivos.

Putin trouxe 11 mil soldados norte-coreanos para as fronteiras da Ucrânia. Esse contingente pode vir a atingir 100 mil homens. Enquanto alguns líderes europeus pensam em eleições e outras questões, Putin está concentrado em ganhar esta guerra. E não vai parar por iniciativa própria”, realçou o Presidente ucraniano.
Aos eurodeputados, Volodymyr Zelensky afirmou ainda que, mesmo com o apoio da Coreia do Norte, “Putin ainda é mais pequeno do que os Estados Unidos da Europa. Peço-vos que não se esqueçam disso e que não se esqueçam de tudo o que a Europa é capaz de fazer”, acrescentou.

Para Volodymyr Zelensky, "quanto mais tempo passar, mais a situação piora. Este é o melhor momento, para pressionar mais a Rússia, e é claro que a Rússia não tem qualquer intenção de se empenhar em negociações que tenham algum significado sem ver os seus depósitos de armas em território russo a arder, sem ver a sua logística atingida e bases áreas destruídas, sem perder capacidades de produzir mísseis e drones e sem os seus ativos confiscados". O Parlamento Europeu promoveu esta terça-feira, em Bruxelas, uma sessão especial para demonstrar apoio comunitário à Ucrânia quando se assinala os mil dias de guerra causada pela invasão russa.

No discurso, Zelensky também pareceu fazer uma crítica ao chanceler alemão, Olaf Scholz, que recentemente desencadeou eleições antecipadas e que há muito frustra Kiev com o ritmo lento do apoio militar da Alemanha e com a sua recusa em fornecer mísseis Taurus de longo alcance, fabricados na Alemanha.

O presidente ucraniano fez ainda um apelo velado às armas de longo alcance, afirmando que, sem “certos fatores-chave, a Rússia não terá motivação real para se envolver em negociações significativas”.


"Sabem muito bem que Putin não dá valor a pessoas ou regras. Só dá valor ao dinheiro e ao poder. E são estas coisas que temos de lhe tirar para restaurar a paz", sublinhou.

Zelensky foi aplaudido de pé pelos eurodeputados durante o discurso. Mas nem todos os 720 disseram presente. Os 25 que integram o grupo de extrema-direita “Europa das Nações Soberanas” não estiveram presentes porque tinham agendada uma “reunião externa do grupo”, segundo um porta-voz. O maior continente do grupo é o partido alemão Alternative für Deutschland, que pretende acabar com a ajuda militar à Ucrânia e cujos dirigentes têm falado com aprovação do Presidente russo Vladimir Putin.

“Juntos, Ucrânia, toda a Europa e os nossos parceiros na América e em todo o mundo, conseguimos não só impedir Putin de conquistar a Ucrânia, mas também defender a liberdade de todas as nações europeias e, mesmo com Kim Jong-un da Coreia do Norte ao seu lado, Putin continua a ser mais pequeno do que a Europa. Peço-vos que não esqueçam isto e que não esqueçam o quanto a Europa é capaz de alcançar”, referiu Volodymyr Zelensky.

Se conseguimos impedir a queda do modo de vida da Europa, podemos seguramente empurrar a Rússia para uma paz justa [porque] a paz é o que mais desejamos”.

Segundo o presidente ucraniano, “o ano de 2025 decidirá se a guerra desencadeada pelo Kremlin será ganha pela Rússia ou pela Ucrânia”.

“Nos momentos decisivos, que ocorrerão no próximo ano, não devemos permitir que ninguém no mundo duvide da resiliência de todo o nosso Estado. E esta fase irá determinar quem irá prevalecer”, disse Zelensky, sublinhando que estava em causa o “destino de toda a nação”.

Para Zelensky, “todos os golpes e todas as ameaças da Rússia devem ser objeto de sanções firmes”, pelo que, apesar de nestes mil dias, a União Europeia ter avançado com medidas restritivas que permitiram “reduzir radicalmente a capacidade da Rússia de financiar a sua guerra através da venda de petróleo”, ainda persistem lacunas, com “a frota sombra de petroleiros”.

“Enquanto estes petroleiros operarem, Putin continua a matar”, vincou o Presidente ucraniano, considerando serem “essenciais sanções fortes”.

c/ agências
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