México quer ter vacina nacional até fim do ano para ser "independente"

por Lusa

O México anunciou hoje os ensaios clínicos da vacina mexicana contra a covid-19, chamada Pátria, com o objetivo de concluir o processo até ao fim do ano e marcar a independência do país face aos fármacos estrangeiros.

"Uma vacina com este nome significa que devemos pensar sempre em ser independentes, que é do nosso interesse ser independentes", declarou o Presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, numa conferência de imprensa.

O chefe de Estado mexicano foi o responsável pela escolha do nome da futura vacina, tendo assumido a inspiração na vacina Soberana de Cuba.

López Obrador, que frequentemente enaltece o seu nacionalismo, frisou que o México deve ser "autossuficiente naquilo que é fundamental", nomeadamente ao nível dos alimentos, da energia e dos medicamentos, incluindo no desenvolvimento de uma vacina contra uma doença que já provocou mais de 209 mil mortos e quase 2,3 milhões de infetados no país.

"É preciso tentar não depender tanto do estrangeiro", defendeu o Presidente mexicano a propósito da futura vacina, ao mesmo tempo que os especialistas envolvidos no processo pedem cautela.

Para iniciar os ensaios clínicos da futura vacina mexicana, desenvolvida pelo laboratório Avimex e pelo governo federal, as autoridades procuram até 100 voluntários na Cidade do México.

O fármaco, já testado em ratos e porcos, utiliza um vetor viral da doença de Newcastle, uma doença altamente contagiosa que afeta as aves (domésticas e selvagens), mas que não é perigosa para os seres humanos.

Caso o calendário das três fases dos ensaios clínicos corra como estipulado, a aprovação do pedido para o uso de emergência da vacina mexicana será possível entre novembro e dezembro de 2021.

"Se tudo correr como esperado, teremos uma vacina mexicana até ao final deste ano que será colocada à disposição da Cofepris [órgão regulador mexicano] para a aprovação para uma utilização de emergência", explicou Maria Elena Alvarez-Buylla, diretora-geral do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (Conacyt), na conferência de imprensa conjunta com o Presidente mexicano.

Em declarações à agência espanhola EFE, Malaquías López, professor de Saúde Pública da Universidade Nacional Autónoma do México, destacou a importância de ter precaução em relação ao calendário estipulado para os ensaios clínicos, mencionando a situação ocorrida hoje com a vacina da Johnson & Johnson, que parecia consolidada.

"Não há nenhuma razão para acreditar que a vacina mexicana é perfeita e que será capaz de avançar todos os capítulos de uma forma simples", disse Malaquías López.

As autoridades sanitárias federais dos Estados Unidos recomendaram hoje "uma pausa" na administração da vacina anti-covid-19 de dose única da Johnson & Johnson, de forma a permitir investigar casos de coágulos sanguíneos potencialmente associados à inoculação do fármaco.

Com uma população de 126 milhões de pessoas, o México foi um dos primeiros no mundo a iniciar a vacinação contra a doença covid-19, tendo administrado até à data 11,8 milhões de doses.

No México estão atualmente disponíveis várias vacinas: Pfizer/BioNTech, AstraZeneca/Oxford, Sputnik V e as chinesas CanSino e Sinovac.

A vacina indiana Covaxin poderá ser acrescentada em breve a esta lista.

Para assegurar estes contratos e evitar mais atrasos nos envios de vacinas, o ministro dos Negócios Estrangeiros mexicano, Marcelo Ebrard, irá deslocar-se em breve aos Estados Unidos, à Rússia, à China e à Índia, segundo referiu a EFE.

A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.947.319 mortos no mundo, resultantes de mais de 136,5 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

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