México e Espanha. Período da conquista põe países irmãos de costas voltadas

por Paulo Alexandre Amaral - RTP
Na origem desta disputa estão as missivas enviadas por López Obrador ao rei Felipe de Espanha e ao papa Francisco há cinco anos Henry Romero - Reuters

O rei Felipe de Espanha não foi convidado para a posse da nova presidente mexicana e o primeiro-ministro Pedro Sánchez anunciou que não viajará para o México nem fará representar Espanha na cerimónia. Claudia Sheinbaun abriu uma ferida ao lembrar que o seu antecessor, Andrés Manuel López Obrador, tinha exigido de Madrid um pedido de perdão pelos anos violentos da colonização espanhola do México, há 500 anos, e que a resposta falhou até agora esse compromisso.

Apesar de o primeiro-ministro de Espanha, Pedro Sánchez, ter sido convidado para a cerimónia da próxima terça-feira, 1 de outubro, Claudia Sheinbaun decidiu que o mais alto representante do país não tem lugar marcado para a sua tomada de posse. A nova presidente mexicana considera que está em falta um pedido de desculpas devido aos povos mexicanos por atos cometidos durante a colonização do território, 500 anos atrás.

Pedro Sánchez fez entretanto saber durante uma conferência de imprensa em Nova Iorque, nas sessões das Nações Unidas, que não estará presente nem Espanha se fará representar a nenhum nível oficial.Na origem desta disputa estão as missivas enviadas por López Obrador ao rei Felipe de Espanha e ao papa Francisco há cinco anos, em 2019, instando-os a um pedido de desculpas pelo que considerou os “abusos” da conquista espanhola nas Américas e do período colonialista.

López Obrador, de ascendência espanhola – os avós emigraram das Asturias e da cantábria, norte de Espanha –, foi na sua Presidência um defensor acérrimo da população indígena do México. Em 2019 escreveu ao rei de Espanha e ao papa Francisco em busca de um pedido de desculpas pelo período da conquista.

“Enviei uma carta ao rei de Espanha e outra ao papa instando-os à responsabilização pelos abusos [da colonização] e exigindo um pedido de desculpas aos povos indígenas [do México] pelas violações do que agora chamamos os seus direitos humanos”, explicava o ex-presidente num vídeo que publicou nas suas redes sociais.

Madrid recusou-se a emitir qualquer pedido de desculpas sublinhando que “rejeitava de forma profunda” a carta e o seu conteúdo.

A chegada dos espanhóis a solo mexicano há 500 anos não pode ser julgada à luz de considerações atuais. Os nossos povos intimamente ligados sempre souberam olhar para a nossa história comum sem raiva e de uma perspetiva partilhada, como povos livres com uma herança comum e um futuro extraordinário”, respondeu o Governo espanhol.

A nova presidente mexicana vem no entanto lembrar que Madrid nunca respondeu ao Governo mexicano de forma direta. “Infelizmente, a carta em questão nunca foi respondida diretamente, como as melhores práticas diplomáticas exigem”.

“Em vez disso, parte da carta foi vazada para os media e o Ministério espanhol das Relações Exteriores optou por um comunicado à imprensa. O governo mexicano não recebeu um esclarecimento direto nem resposta sobre este assunto”, refere Claudia Sheinbaun em comunicado.
"Inaceitável e inexplicável"

Em Nova Iorque para as sessões das Nações Unidas, Pedro Sánchez lamentou o que diz ser “uma decisão inaceitável e inexplicável” e fez saber que não vai estar presente na tomada de posse de Sheinbaun e que Espanha não se fará representar a nível oficial, o que inaugura um período de fechamento nas relações dos “dois países irmãos”.

“Espanha e México são países irmãos e a exclusão do nosso chefe de Estado é assim inaceitável”, declarou Sánchez, lembrando que “este chefe de Estado [rei Felipe] participou em todas as tomadas de posse – todas elas – como príncipe e depois como rei e chefe de Estado. É por isso que não podemos aceitar sua exclusão e foi por isso que dissemos ao governo mexicano que não haverá representação diplomática espanhola de forma alguma”.

Pedro Sánchez lamenta o que possa estar por na base desta decisão e deixa uma acusação: “Por detrás de tudo isto há uma enorme tristeza porque somos dois países irmãos – dois países irmãos que não podem gozar das melhores relações políticas por causa dos interesses políticos de uma determinada pessoa”.
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