O gabinete da chanceler alemã ergueu este domingo a voz para repudiar a ordem executiva de Donald Trump que fechou as fronteiras dos Estados Unidos a pessoas oriundas de sete países de maioria muçulmana, incluindo refugiados. Angela Merkel defende que nem “a decisiva batalha contra o terrorismo” pode justificar “a suspeita generalizada” sobre grupos específicos.
O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, escrevia ontem no Twitter que o seu país acolheria sempre as vítimas “de perseguição, terror e guerra, independentemente da sua fé”.
To those fleeing persecution, terror & war, Canadians will welcome you, regardless of your faith. Diversity is our strength #WelcomeToCanada
— Justin Trudeau (@JustinTrudeau) 28 de janeiro de 2017
Também a cimeira dos países do Sul da Europa, que se realizou no sábado em Lisboa, não foi alheia ao decreto de Trump, com o Presidente francês, François Hollande, a assumir as despesas das críticas.
Já este domingo o gabinete da primeira-ministra britânica, recentemente recebida em Washington pelo sucessor de Barack Obama, em contexto de pré-Brexit, quis deixar claro que Theresa May “não concorda” com a nova política de imigração da Casa Branca.
De Berlim saem agora frases em aberta oposição à linha de atuação do Presidente norte-americano, com quem a chanceler alemã conversou, no sábado, ao telefone, tal como aconteceu, de resto, com Hollande e o Presidente russo, Vladimir Putin.
Mesmo assim, foi ao porta-voz do seu gabinete que Angela Merkel delegou a tarefa de repudiar a ordem executiva da discórdia. E Steffen Seibert fê-lo: “Não há justificação”.
“Suspeita generalizada”
“Ela está convencida de que nem a necessária, decisiva batalha contra o terrorismo justifica colocar pessoas de origem ou fé específicas sob suspeita generalizada”, sintetizou o porta-voz de Merkel. O porta-voz dos verdes alemães para as questões económicas Dieter Janecek foi mais longe, ao declarar que Donald Trump “já não é um parceiro de confiança”.
Seibert acrescentou que o Governo alemão lamenta a proibição de entrada nos Estados Unidos de cidadãos - refugiados incluídos - de sete países de maioria muçulmana: Síria, Iraque, Irão, Somália, Sudão, Líbia e Iémen.
Estas preocupações, continuou o porta-voz, foram comunicadas a Donald Trump durante a conversa telefónica de sábado. A chanceler terá mesmo feito questão de alertar o Presidente norte-americano para o articulado das convenções de Genebra, que compromete a comunidade internacional com o acolhimento de refugiados de guerra por razões humanitárias.
Berlim vai também analisar as consequências das restrições da Casa Branca para cidadãos alemães com dupla nacionalidade, prometendo desde já “representar os seus interesses, se necessário, face aos parceiros dos Estados Unidos”.
A mais recente posição alemã contrasta com o tom conciliatório do primeiro resumo do telefonema entre Donald Trump e Angela Merkel, à luz do qual os dois líderes teriam concordado quanto à necessidade de fortalecer a NATO e combater a militância extremista.
Ainda no decurso da conversa de sábado Trump aceitou um convite de Merkel para o encontro do G20 marcado para julho, em Hamburgo. E o Presidente convidou a chanceler para visitar Washington a breve trecho.