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Merkel apela a mais restrições quando Alemanha regista novo recorde de mortes

por RTP

Perante o Parlamento, a chanceler Angela Merkel defendeu novas restrições em toda a Alemanha até meados de janeiro, considerando que as medidas se têm revelado insuficientes para controlar o número de casos. Perante um novo recorde diário de mortos, 590, Merkel considerou que são números “inaceitáveis”.

“O número de contactos entre as pessoas é muito elevado. A redução do número de contactos é insuficiente”, declarou Merkel, defendendo o encerramento das lojas não essenciais depois do Natal até 10 de janeiro, bem como escolas e locais de trabalho.

A Alemanha registou esta quarta-feira um novo máximo de mortes por Covid-19, com 590 óbitos nas últimas 24 horas, mais 100 do que o anterior máximo, informou o Instituto Robert Koch.

O RKI registou 20.815 novas infeções, mais três mil do que na quarta-feira da semana passada, mas abaixo do máximo de 23.648 a 20 de novembro.

O Governo alemão considera que o número de novos casos diários estabilizou, mas num nível "muito alto". Merkel fez um exercício comparativo entre os dados de 29 de setembro e os de hoje para mostrar a gravidade da situação. “Tinhamos então 1827 novos casos, 352 pessoas em unidades de cuidados intensivos e 12 mortes. Hoje temos 20815 novos casos, 3500 mais do que na semana passada, 4257 camas de cuidados intensivos ocupadas com doentes covid e 590 mortes”, afirmou, considerando o número de contactos “demasiado elevado”.
O número total de pessoas que tiveram ou têm infeções na Alemanha subiu para 1.218.524, dos quais 19.932 morreram. Recuperaram da doença 902.100.
A incidência acumulada nos últimos sete dias no país é de 149,1 novas infeções por 100 mil habitantes. O objetivo do Governo alemão é reduzir a incidência cumulativa, em sete dias, para 50 novos casos por 100 mil habitantes, entendendo que somente abaixo desse limiar os novos casos podem ser rastreados e quebrar as cadeias de contágio, colocando a pandemia sob controle.

Angela Merkel considerou, perante a câmara baixa do Bundestag que, por mais que fosse doloroso para ela, para salvar vidas, considerou haver pouca alternativa a não ser reduzir todos os contactos o mais possível durante o período do Natal. Em linha com essa ideia, opôs-se à abertura de hotéis para que as famílias possam visitar os familiares nesta época.

Propôs que as férias de Natal começassem dois dias antes (a 17 de dezembro) e que após o Natal houvesse um confinamento restrito, com o encerramento de lojas não essenciais, locais de trabalho e escolas até pelo menos 10 de janeiro.

Considerou, por isso, “justificadas” as propostas que foram feitas neste sentido por um grupo de especialistas.

“Devemos fazer tudo” para evitar “uma progressão exponencial” do número de casos”
, alertou Merkel

Apesar da introdução de um “confinamento ligeiro” em novembro e de um abrandamento do número de casos, o número de infeções é ainda muito elevado, sobretudo o número de hospitalizações e a taxa de mortalidade associada. Merkel não tem dúvida do sucesso na primeira vaga, mas alerta que esta segunda vaga é, “por experiência”, mais grave do que a vaga da primavera.
Natal, stands de vinho quente e novas medidas
Durante o Natal haverá uma certa flexibilização das medidas para permitir a celebração com a família ou amigos, elevando o número máximo de reuniões para 10 (onde os menores de 14 anos não contam), embora com possibilidade de medidas mais duras nas regiões com incidência particularmente alta.

O Governo federal e os governos das diversas regiões devem encontrar-se antes do Natal para discutir a eventual necessidade de novas medidas face à propagação da pandemia.

Regiões como a Baviera ou a Saxónia, as mais fustigadas pela covid-19, já tomaram novas medidas. Outras regiões estão mais reticentes em enveredar pelo endurecimento das medidas, que atualmente são menos restritivas do que outros países europeus como a França.

Na Saxónia, a região que regista a mais elevada incidência dos últimos sete dias, vão ser encerradas escolas e maior parte dos negócios e lojas a partir de 14 de dezembro.

“A situação nos hospitais não é apenas tensa, é extremamente perigosa”,
afiançou Michael Kretschmer, dirigente daquele estado.

O ministro da Saúde Jens Spahn já tinha admitido que as medidas como o encerramento de ginásios, restaurantes, hotéis e locais de lazer, bem como a limitação de pessoas no interior de lojas e em encontros privados, não tinham sido suficientes.

“Se não conseguirmos controlar as coisas na próxima semana ou na seguinte antes do Natal, terremos de discutir isso”, admitiu o ministro quando questionado sobre a adopção de medidas idênticas às decididas pela Saxónia.

Apesar da limitação de ajuntamentos a cinco pessoas, os stands de vinho quente, tradicionais nesta época natalícia, multiplicam-se no país e geram autênticas multidões no exterior. As autoridades não têm dúvidas de que constituem um vetor de propagação do vírus e a chanceler considerou esta quarta-feira que estes stands não são compatíveis com o controlo da doença.
Vacina não traz grandes mudanças no início de 2021
Tal como a vacina, que no primeiro trimestre de 2021 pouca diferença irá fazer, já que não haverá vacinas em quantidade suficiente para que haja uma inversão na pandemia. Merkel é mais optimista, no entanto, quanto à capacidade de fazer baixar a taxa de mortalidade e garantiu que tudo irá fazer para manter as escolas e creches abertas nessa altura.

Merkel não tem, porém, dúvidas sobre o impacto económico da pandemia. A chanceler vaticina que está a mudar o equilíbrio de poderes na economia e que o controlo das infeções equivale a ter economias mais resilientes.

Respondendo às fileiras da extrema direita Alternative für Deutschland e das suas teses da conspiração sobre a pandemia, ela respondeu: “Esse é o problema - as pessoas dizem que não é tão ruim ... mas eu acredito simplesmente que o conhecimento científico é real e é isso que devemos usar para nos guiar”.

Merkel deu como exemplo a sua decisão de enveredar pela Física na ditadura comunista da Alemanha de Leste uma carreira que provavelmente não escolheria se vivesse em democracia na parte ocidental, aludindo a um regime que mentia aos cidadãos e equiparando-o àqueles que pretendem sugerir que a pandemia é uma ficção: “Tenho a certeza de que há muitas coisas que podemos ignorar. Mas certamente não a gravidade”, assegurou, entre aplausos fortes dos deputados.
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