Massacre no Sudão. Centenas de mortos num "dos piores dias" da história do Darfur

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
Sudaneses fogem do conflito no Darfur. Zohra Bensemra - Reuters

No passado dia 15 de junho, centenas de sudaneses foram perseguidos e mortos numa investida que durou o dia inteiro, enquanto fugiam em massa de El Geneina, a capital do Darfur Ocidental, desvenda a estação norte-americana CNN. Após a mutilação e execução do governador do Estado, por parte das milícias árabes, e perante o cenário de violência e destruição, não tinham outra alternativa se não fugir em busca de segurança.

A violência no Sudão aumentou desde a rebelião das Forças de Apoio Rápido (RSF) - uma força militar independente - contra as milícias sudanesas, em abril. Desde então que se alastraram as atrocidades por todo o país, dando início a uma guerra. Primeiro Cartum, a capital do país. Depois, o Darfur, a centenas de quilómetros de distância na fronteira com o Chade.



A Organização Internacional para as Migrações (OIM) estima que, desde então, mais de um milhão de sudaneses fugiram em massa para os países vizinhos.

"Mais de mil pessoas foram mortas a 15 de junho. Eu estava a recolher corpos nesse dia. Recolhi um grande número", contou um trabalhador humanitário no terreno à CNN, que preferiu não ser identificado por razões de segurança e avançou um número partilhado internamente pelo grupo de ajuda humanitária a que pertence.

Centenas de civis sudaneses foram mortos ou alvejados no deserto quando tentavam fugir a pé para o Chade. Os dias que se seguiram foram igualmente sangrentos, mas a testemunha garantiu que “o dia 15 de junho foi o pior de todos". De acordo com esta testemunha, muitos cadáveres foram enterrados em diversas valas comuns dentro e fora da cidade. O cenário em El Geneina, no Darfur, é de destruição – uma cidade parada, sem vida, repleta de cadáveres pelas ruas e com grafitis racistas por toda a parte - conta a CNN na sua investigação.

El Geneina é a maior cidade sudanesa a cair nas mãos da RSF, que desde o início do conflito com as milícias sudanesas tem incendiado grandes extensões de terra em aldeias e bairros, perseguido pessoas não árabes, matado civis e violado mulheres.

As Nações Unidas, assim como diversas organizações internacionais, têm manifestado preocupação com a situação no país, alertando para a perseguição étnica, a violação de Direitos Humanos e a possibilidade de o conflito no Darfur originar uma guerra civil. Milhares de sudaneses têm sido obrigados a fugir das suas casas em busca de segurança.

De acordo com os dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), cerca de 2,5 milhões de pessoas fugiram. Pelo menos mil foram mortas.

Os riscos, por si já muito elevados no país, aumentaram significativamente nos últimos dias com o fracassar dos esforços diplomáticos de diversos países, que não conseguiram coordenar um entendimento entre ambas as forças.
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