Faz hoje meio ano que o Hamas entrou em Israel e massacrou 1.200 pessoas. Foi um ataque sem precedentes que lançou Israel na senda da guerra, causando a destruição da Faixa de Gaza e 33.175 mortos, de acordo com fontes do Hamas.
Mais de duzentas pessoas foram feitas reféns. O ataque incluiu o lançamento de milhares de rockets contra o território israelita.
A data ficou marcada em Israel por manifestações de milhares a exigir o regresso dos reféns e pelo testemunho de sobreviventes do massacre, que não conseguem esquecer o horror vivido há seis meses.
Israel respondeu ao ataque com uma ação militar em força. Invadiu a Faixa de Gaza e prometeu acabar com o Hamas.
As suas operações militares têm visado diversas estruturas civis, como hospitais e escolas, alegando que serviam ao Hamas como esconderijos, bases militares e arsenais. O avanço foi lento, marcado por bombardeamentos seguidos de combates de infantaria recorrentes de localidade em localidade.
No processo, grande parte do território tem sido destruído até aos escombros, levando milhares de pessoas a fugir para sul, onde cerca de um milhão se concentra atualmente na pequena área de Rafah, junto à fronteira com o Egito, que Israel ameaça arrasar para completar a missão de pôr fim definitivo ao Hamas.
As condições de vida em Rafah e no resto de Gaza são cada vez mais difíceis, porque faltam alimentos e os hospitais estão quase todos destruídos. Paira a ameaça de fome em larga escala, devido aos bloqueios impostos à chegada de ajuda ao território, tanto pelo lado israelita como pelo egípcio.
Hoje, deverão ser retomadas no Cairo, as negociações para tentar alcançar um cessar-fogo.
Balanço trágico
A guerra terá causado até agora 33.175 mortos, incluindo 12.300 crianças, e 75.000 feridos, só na Faixa de Gaza, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.
Israel sustenta que a maioria das vítimas são combatentes do grupo palestiniano, a quem acusa ainda de usar os civis como "escudos humanos".
As Forças da Defesa de Israel, IDF, dizem que abateram pelo menos 12.000 militantes do grupo islamita, entre os quais cinco com a patente equivalente a general-brigadeiro, mais de 20 comandantes de batalhão e uma centena de líderes de companhia.
A ofensiva israelita levou ainda ao reacender das operações da guerrilha libanesa do Hezbollah, da mesma matriz política do Hamas, contra Israel, com sucessivas escaramuças e trocas de mísseis entre as IDF estacionadas no norte de Israel e os guerrilheiros entrincheirados no sul do Líbano.
Também as forças Houthi do Iémen entraram no conflito, jurando destruir os navios ligados a Israel ou cargas destinadas a portos israelitas, que passassem junto às suas costas. Foi constituída uma força internacional para intercetar os drones e mísseis lançados pelos Houthi e proteger a navegação e o comércio marítimo internacional.
ONU ineficaz
O conflito está a revelar a inoperacionalidade do Conselho de Segurança das Nações Unidas, pela falta de cumprimento das resoluções que as Nações Unidas conseguiram aprovar neste período, e do Secretário-geral da ONU, António Guterres, que tem multiplicado apelos a um cessar-fogo urgente e imediato, mas também alertas de catástrofe humanitária.
Apelos que não só foram amplamente ignorados pelas partes em conflito, como valeram duras críticas a Guterres e à própria ONU por parte de Israel, que acusa o ex-primeiro-ministro português e a organização multilateral de "parcialidade".
A guerra causou a morte de um número recorde de funcionários da ONU, sobretudo ligados à Agência das Nações Unidas para os Refugiados da Palestina (UNRWA), que Israel acusou estar na verdade ao serviço do Hamas. Até 30 de março, mais de 170 trabalhadores da UNRWA haviam sido mortos, com Israel a ser acusado de visar deliberadamente funcionários da ONU nos seus ataques.
Apenas em novembro de 2023, uma curta trégua de uma semana resultou na libertação de cerca de 100 reféns em troca de 240 prisioneiros palestinianos. As sucessivas rondas de negociação de cessar-fogo, que envolvem o Catar, o Egito e os Estados Unidos, além de Israel e do Hamas, têm-se revelado infrutíferas.
"Ausência de proporcionalidade"
Uma das maiores críticas feitas internacionalmente a Israel prende-se com a catástrofe humanitária provocada pela destruição de todas as infraestruturas da Faixa de Gaza e o encerramento dos postos de auxílio humanitário.
Vive-se fome generalizada no enclave e faltam cuidados de saúde básicos, num ambiente que lembra uma "carnificina", tal como retrataram quarta-feira várias ONG que estão no terreno, como os Médicos Sem Fronteiras (MSF).
"O problema é a ausência de proporcionalidade, a forma como as forças israelitas atingem os hospitais e os trabalhadores humanitários, sob o argumento de atingir o Hamas e outros grupos armados. Não restam praticamente hospitais, a destruição do Al-Shifa, o maior de Gaza, também não foi surpresa porque estava a ser sistematicamente atacado. Uma guerra contra toda a população, também pela privação de alimentos", indicaram os MSF.
O avanço de Israel está nos dias finais no sul da Faixa de Gaza, sobretudo em torno de Rafah, localidade junto à fronteira com o Egito para onde a guerra empurrou grande parte da populaçáo palestiniana que fugiu dos combates a norte.
O Cairo ergueu uma barreira de vários metros de altura, para impedir a entrada no seu território de refugiados oriundos de Gaza e Rafah tem agora seis vezes mais população que a original.
Sem possibilidades de acolhimento, as ruas de Rafah estão cheias de lixo, os alojamentos são precários, as crianças vivem sem condições mínimas, sem ir à escola desde outubro. Cerca de 90 por cdnto das escolas foram danificadas e muitas abrigam pessoas desalojadas.
Ponto de "viragem"
Europa e Estados Unidos criticam abertamente a postura intransigente do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, em aceitar um fim do conflito, mas continuam a fornecer-lhe armamento de forma incondicional.
Do lado oposto, Irão e Rússia têm manifestado um maior cuidado no apoio declarado ao Hamas e às milícias a ele associados, com Teerão a preocupar-se sobretudo com o apoio ao movimento xiita libanês Hezbollah, de forma a tentar dispersar as tropas israelitas no conflito.
Israel parece ter chegado a uma encruzilhada: pela primeira vez, o Presidente norte-americano Joe Biden instou o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu a implementar um cessar-fogo "imediato", assim como a proteção de civis e trabalhadores humanitários, sob pena de perder o apoio dos Estados Unidos no que toca a Gaza,
O aviso veio em resposta ao triplo bombardeamento de uma equipa de voluntários estrangeiros da World Central Kitchen [WCK], em que seis estrangeiros (dos quais um norte-americano) morreram e que causou uma enorme onda de contestação internacional. Uma mensagem "nunca antes vista" que pode sugerir um ponto de viragem no conflito, diz à Lusa Randa Slim, investigadora sénior do Middle East Institute (MEI) sediado em Washington.
"[O ataque aos trabalhadores da WCK] foi o ponto de inflexão. É trágico que tenha sido necessária a morte de seis pessoas ocidentais para acordar a consciência das pessoas de que mais de 30.000 palestinianos morreram, mas esta foi a gota de água para o fim do apoio incondicional de Biden", diz a investigadora.
com Lusa
O conflito está a revelar a inoperacionalidade do Conselho de Segurança das Nações Unidas, pela falta de cumprimento das resoluções que as Nações Unidas conseguiram aprovar neste período, e do Secretário-geral da ONU, António Guterres, que tem multiplicado apelos a um cessar-fogo urgente e imediato, mas também alertas de catástrofe humanitária.
Apelos que não só foram amplamente ignorados pelas partes em conflito, como valeram duras críticas a Guterres e à própria ONU por parte de Israel, que acusa o ex-primeiro-ministro português e a organização multilateral de "parcialidade".
A guerra causou a morte de um número recorde de funcionários da ONU, sobretudo ligados à Agência das Nações Unidas para os Refugiados da Palestina (UNRWA), que Israel acusou estar na verdade ao serviço do Hamas. Até 30 de março, mais de 170 trabalhadores da UNRWA haviam sido mortos, com Israel a ser acusado de visar deliberadamente funcionários da ONU nos seus ataques.
Apenas em novembro de 2023, uma curta trégua de uma semana resultou na libertação de cerca de 100 reféns em troca de 240 prisioneiros palestinianos. As sucessivas rondas de negociação de cessar-fogo, que envolvem o Catar, o Egito e os Estados Unidos, além de Israel e do Hamas, têm-se revelado infrutíferas.
"Ausência de proporcionalidade"
Uma das maiores críticas feitas internacionalmente a Israel prende-se com a catástrofe humanitária provocada pela destruição de todas as infraestruturas da Faixa de Gaza e o encerramento dos postos de auxílio humanitário.
Vive-se fome generalizada no enclave e faltam cuidados de saúde básicos, num ambiente que lembra uma "carnificina", tal como retrataram quarta-feira várias ONG que estão no terreno, como os Médicos Sem Fronteiras (MSF).
"O problema é a ausência de proporcionalidade, a forma como as forças israelitas atingem os hospitais e os trabalhadores humanitários, sob o argumento de atingir o Hamas e outros grupos armados. Não restam praticamente hospitais, a destruição do Al-Shifa, o maior de Gaza, também não foi surpresa porque estava a ser sistematicamente atacado. Uma guerra contra toda a população, também pela privação de alimentos", indicaram os MSF.
O avanço de Israel está nos dias finais no sul da Faixa de Gaza, sobretudo em torno de Rafah, localidade junto à fronteira com o Egito para onde a guerra empurrou grande parte da populaçáo palestiniana que fugiu dos combates a norte.
O Cairo ergueu uma barreira de vários metros de altura, para impedir a entrada no seu território de refugiados oriundos de Gaza e Rafah tem agora seis vezes mais população que a original.
Sem possibilidades de acolhimento, as ruas de Rafah estão cheias de lixo, os alojamentos são precários, as crianças vivem sem condições mínimas, sem ir à escola desde outubro. Cerca de 90 por cdnto das escolas foram danificadas e muitas abrigam pessoas desalojadas.
Ponto de "viragem"
Europa e Estados Unidos criticam abertamente a postura intransigente do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, em aceitar um fim do conflito, mas continuam a fornecer-lhe armamento de forma incondicional.
Do lado oposto, Irão e Rússia têm manifestado um maior cuidado no apoio declarado ao Hamas e às milícias a ele associados, com Teerão a preocupar-se sobretudo com o apoio ao movimento xiita libanês Hezbollah, de forma a tentar dispersar as tropas israelitas no conflito.
Israel parece ter chegado a uma encruzilhada: pela primeira vez, o Presidente norte-americano Joe Biden instou o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu a implementar um cessar-fogo "imediato", assim como a proteção de civis e trabalhadores humanitários, sob pena de perder o apoio dos Estados Unidos no que toca a Gaza,
O aviso veio em resposta ao triplo bombardeamento de uma equipa de voluntários estrangeiros da World Central Kitchen [WCK], em que seis estrangeiros (dos quais um norte-americano) morreram e que causou uma enorme onda de contestação internacional. Uma mensagem "nunca antes vista" que pode sugerir um ponto de viragem no conflito, diz à Lusa Randa Slim, investigadora sénior do Middle East Institute (MEI) sediado em Washington.
"[O ataque aos trabalhadores da WCK] foi o ponto de inflexão. É trágico que tenha sido necessária a morte de seis pessoas ocidentais para acordar a consciência das pessoas de que mais de 30.000 palestinianos morreram, mas esta foi a gota de água para o fim do apoio incondicional de Biden", diz a investigadora.
com Lusa