Massacre da Noruega podia ter sido contido, diz relatório

por RTP
A presidente da comissão independente de inquérito ao massacre da Noruega, Alexandra Bech Gjoerv, apresenta as conclusões do relatório que indicam graves falhas a nível da atuação da polícia Stian Lysberg Solum, EPA

O atentado bombista em Oslo e o posterior massacre na ilha de Utoya podiam ter sido evitados ou pelo menos limitados se a atuação da polícia tivesse sido mais eficaz. Uma comissão independente de inquérito aos ataques do ano passado na Noruega aponta uma série de falhas aos serviços de segurança, que impediram que Andreas Breivik fosse detido mais cedo. Por causa disso morreram 77 pessoas e mais de 300 ficaram feridas nos dois ataques terroristas, considerados os piores no país desde a Segunda Guerra Mundial.

“A polícia e os serviços de segurança podiam e deviam ter feito mais para impedir a crise” disse a advogada Alexandra Bech Gjoerv, que presidiu à comissão de inquérito.

“Uma intervenção da polícia era verdadeiramente possível”, o autor dos ataques "podia ter sido detido mais cedo”, afirma-se no relatório publicado esta segunda-feira pela comissão.

No documento entretanto remetido ao gabinete do primeiro-ministro Jens Stoltenberg, lê-se também que, “o ataque de 22 de julho de 2011 no quarteirão dos ministérios poderia ter sido evitado graças a uma aplicação eficaz das medidas de segurança já existentes”.
"Demoras burocráticas" permitiram atentado bombista 
No relatório de 500 páginas, a comissão de dez membros salienta que, devido a demoras burocráticas, a rua onde se situa a sede do governo norueguês não tinha sido fechada ao tráfego, apesar de essa medida já estar preconizada desde 2004.

Tal facto permitiu a Breivik estacionar ao pé do edifício de 17 andares uma camioneta com uma bomba de 950 quilos. O primeiro-ministro Stoltenberg escapou ao atentado por se encontrar a trabalhar na sua residência oficial mas a mesma sorte não tiveram outras oito pessoas que morreram na explosão.

A comissão de inquérito também lamenta a falta de eficácia da polícia antes e durante o massacre de Utoya e conclui que as falhas de liderança e de comunicação foram mais significativas do que a falta de recursos.

Uma identificação demasiado tardia do veículo utilizado por Breivik, problemas de comunicação, procedimentos não respeitados e meios inadaptados levaram a que o atacante dispusesse de mais de uma hora para abater a sangue frio 66 pessoas e ferir centenas de outras.
Lentidão policial "inaceitável" diz comissão
Passaram-se mais de 35 minutos entre o momento em que a primeira patrulha da policia, chegou às margens do lago e o momento em que a força de intervenção desembarcou na ilha de Utoya .

“A gestão do tempo na primeira fase da intervenção da polícia é inaceitável”, sublinhou a presidente da comissão de inquérito.

As instruções em vigor ditavam que, em caso de tiroteio, a polícia deveria ter feito tudo para se deslocar o mais depressa possível local do incidente. Em vez disso, os dois polícias do comissariado local que primeiro chegaram ao lago não chegaram a sair das margens, alegadamente por não terem encontrado uma embarcação para se deslocarem à ilha.

Teve de ser a força de elite Delta, a deslocar-se de Oslo, a quarenta quilómetros do local, mas teve de fazê-lo por via terrestre, porque o único helicóptero da polícia norueguesa não pode ser utilizado, pelo facto de a tripulação se encontrar de férias.

Uma vez nas margens do lago os problemas da força de elite ainda não tinham acabado. O barco pneumático que tentaram utilizar afundou-se por estar sobrecarregado, o que obrigou os agentes a utilizarem barcos de recreio para chegar ao local do tiroteio.
"Formidáveis debilidades" na troca de informações entre as forças policiais
A comissão independente de inquérito critica ainda a troca de informações entre as forças policiais “ sujeita a formidáveis debilidades” e aponta o facto de os Serviços de Segurança da Polícia norueguesa não terem treino suficiente para enfrentarem um ataque terrorista.

O relatório diz que os serviços da informação da policia norueguesa deveriam ter identificado a ameaça de Breivik antes de os ataques terem lugar, mas reconhece que não há motivos para acreditar que  podiam ter impedido completamente a tragédia.

O relatório diz ainda que o controlo das armas “é inadequado”, apesar de “a Noruega ser um país com um grande número de armas” e sugere que não houve uma compreensão correta de que “uma pessoa a agir sozinha pudesse causar tanta devastação”.
Elogios ao governo e serviços de emergência médica
Apesar de tudo, a comissão tem elogios para o governo norueguês, na forma como geriu a comunicação com o público, apesar de ter sido alvo de um ataque direto, e para os serviços médicos de emergência, pela forma como ajudaram os feridos e a população.

Os membros da comissão de inquérito fazem também 31 recomendações que devem ser adotadas para evitar tragédias semelhantes a esta.

Espera-se que a polícia responda oficialmente às conclusões do relatório.

As conclusões do relatório vêm a lume num momento em que se aguarda ainda o desfecho do julgamento do caso.

Andreas Breivik admitiu ter sido responsável pela morte de 77 pessoas em Oslo e no acampamento de juventude do partido trabalhista em Utoya mas considera-se não culpado.

O painel de cinco juízes tem de deliberar se o arguido estava mentalmente são no momento de cometer os crimes e só depois emitirá o veredito.

Da conclusão dos magistrados dependerá a sentença de uma longa pena de prisão ou de um internamento numa instituição psiquiátrica de alta-segurança.
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