Yves Herman - Reuters
Mark Rutte foi escolhido para a liderança da NATO. Os países aliados optaram pelo primeiro-ministro dos Países Baixos, para suceder a Jens Stoltenberg, que tem sido o rosto da NATO há uma década.
A decisão foi anunciada depois de uma reunião do Conselho do Atlântico Norte.
"Hoje, o Conselho do Atlântico Norte decidiu nomear o primeiro-ministro neerlandês Mark Rutte como próximo secretário-geral da NATO, sucedendo a Jens Stoltenberg", dá conta uma breve nota divulgada pela Aliança Atlântica.
"Hoje, o Conselho do Atlântico Norte decidiu nomear o primeiro-ministro neerlandês Mark Rutte como próximo secretário-geral da NATO, sucedendo a Jens Stoltenberg", dá conta uma breve nota divulgada pela Aliança Atlântica.
A posse de Rutte está prevista para 1 de outubro.
A transição é feita num momento de guerra na Ucrânia e de forte tensão com a Rússia.
Ao mesmo tempo, as eleições de Novembro nos Estados Unidos podem influenciar o futuro da Aliança Atlântica, sobretudo se Donald Trump regressar à Casa Branca.
Jens Stoltenberg reagiu com elogios ao sucessor, considerando que Mark Rutte é um verdadeiro defensor da NATO, um líder forte e também um construtor de consensos. Já tinha anteriormente dado o seu acordo à nomeação.
Quem é Rutte
Mark Rutte notabilizou-se como primeiro-ministro dos Países Baixos pela capacidade de criar consensos. Natural de Haia, nos Países Baixos, Rutte, hoje com 57 anos, é filho de Izaäk Rutte, um empresário que trabalhou nas índias Orientais Holandesas, que abrangia todo o território da Indonésia, durante o período colonial neerlandês. Na sua adolescência queria ser pianista e para isso ponderou frequentar um conservatório, mas acabou por estudar História na Universidade de Leiden, no sul dos Países Baixos, concluindo a sua formação em 1992.
Durante o período académico, iniciou o contacto com a vida política e fez parte da direção da Organização da Juventude para a Liberdade e Democracia, a juventude partidária do Partido Popular para a Liberdade e Democracia (VDD).
Concluída a formação superior, Mark Rutte começou a trabalhar na multinacional Unilever, especificamente na subsidiária Calvé. No grupo empresarial ocupou funções de gestão do departamento de recursos humanos.
O percurso político começou realmente em 1993 quando entrou para a direção nacional do VDD. Dez anos mais tarde, em 2003, foi eleito deputado, mas exerceu aquelas funções apenas entre janeiro e maio desse ano.
Entre julho de 2002 e junho de 2004 foi secretário de Estado no Ministério dos Assuntos Sociais e Emprego e nos dois anos seguintes foi secretário de Estado para o Ensino Superior e Ciência, regressando depois à vida parlamentar.
Foi eleito presidente do VDD em 31 de maio de 2006, mas perdeu as eleições legislativas desse ano, não conseguindo ir além dos 14,67% e dos 22 deputados.
Primeiro-ministro
Quatro anos mais tarde, em 2010, o VDD venceu as eleições legislativas e conquistou 31 lugares no hemiciclo, tornando-se pela primeira vez o partido mais votado.
Mark Rutte cumpriu quatro mandatos consecutivos enquanto primeiro-ministro.
Mas durante o quarto, a credibilidade política de Rutte foi abalada pelo apelidado "Nokiagate", quando foi descoberto que tinha apagado mensagens de um antigo telemóvel Nokia, violando a legislação sobre o arquivo de material que pode ser de interesse público.
Na altura, Mark Rutte alegou que apenas tinha apagado as mensagens por falta de memória do telemóvel, mas a sua posição ficou fragilizada na opinião pública, sendo acusado pela oposição de falhar uma das promessas eleitorais, que dizia respeito ao aumento da credibilidade dos decisores políticos e transparência.
A força de Rutte
A previsão da Aliança Atlântica é de que este ano os Países Baixos atinjam o mínimo de dois por cento do Produto Interno Bruto (PIB) em despesas com Defesa.
Mas a força de Rutte está na sua capacidade negocial e em gerar consensos.
Quatro mandatos consecutivos enquanto primeiro-ministro só foram possíveis com coligações, com partidos em algumas matérias diametralmente opostos.
O último acordo de coligação só ruiu em 2023, por divergências sobre a política de migrações no país.
Ao nível da União Europeia, Mark Rutte também demonstrou ter capacidade para gerar consensos, sendo um dos negociadores ao nível do Conselho Europeu para defender as posições liberais -- esteve até na conceção da proposta que inclui António Costa para presidente do próximo Conselho Europeu.
Durante o período académico, iniciou o contacto com a vida política e fez parte da direção da Organização da Juventude para a Liberdade e Democracia, a juventude partidária do Partido Popular para a Liberdade e Democracia (VDD).
Concluída a formação superior, Mark Rutte começou a trabalhar na multinacional Unilever, especificamente na subsidiária Calvé. No grupo empresarial ocupou funções de gestão do departamento de recursos humanos.
O percurso político começou realmente em 1993 quando entrou para a direção nacional do VDD. Dez anos mais tarde, em 2003, foi eleito deputado, mas exerceu aquelas funções apenas entre janeiro e maio desse ano.
Entre julho de 2002 e junho de 2004 foi secretário de Estado no Ministério dos Assuntos Sociais e Emprego e nos dois anos seguintes foi secretário de Estado para o Ensino Superior e Ciência, regressando depois à vida parlamentar.
Foi eleito presidente do VDD em 31 de maio de 2006, mas perdeu as eleições legislativas desse ano, não conseguindo ir além dos 14,67% e dos 22 deputados.
Primeiro-ministro
Quatro anos mais tarde, em 2010, o VDD venceu as eleições legislativas e conquistou 31 lugares no hemiciclo, tornando-se pela primeira vez o partido mais votado.
Mark Rutte cumpriu quatro mandatos consecutivos enquanto primeiro-ministro.
Mas durante o quarto, a credibilidade política de Rutte foi abalada pelo apelidado "Nokiagate", quando foi descoberto que tinha apagado mensagens de um antigo telemóvel Nokia, violando a legislação sobre o arquivo de material que pode ser de interesse público.
Na altura, Mark Rutte alegou que apenas tinha apagado as mensagens por falta de memória do telemóvel, mas a sua posição ficou fragilizada na opinião pública, sendo acusado pela oposição de falhar uma das promessas eleitorais, que dizia respeito ao aumento da credibilidade dos decisores políticos e transparência.
A força de Rutte
A previsão da Aliança Atlântica é de que este ano os Países Baixos atinjam o mínimo de dois por cento do Produto Interno Bruto (PIB) em despesas com Defesa.
Mas a força de Rutte está na sua capacidade negocial e em gerar consensos.
Quatro mandatos consecutivos enquanto primeiro-ministro só foram possíveis com coligações, com partidos em algumas matérias diametralmente opostos.
O último acordo de coligação só ruiu em 2023, por divergências sobre a política de migrações no país.
Ao nível da União Europeia, Mark Rutte também demonstrou ter capacidade para gerar consensos, sendo um dos negociadores ao nível do Conselho Europeu para defender as posições liberais -- esteve até na conceção da proposta que inclui António Costa para presidente do próximo Conselho Europeu.
Desde o início da invasão russa da Ucrânia que Rutte tem sido uma das vozes mais contundentes na condenação da intervenção militar do Kremlin e na necessidade de dar um apoio contínuo à Ucrânia.
No entanto, no seu currículo não há passagens pelo Ministério da Defesa ou ligações à área da segurança. Só se pode imputar a Mark Rutte o esforço coletivo do seu Governo para aumentar o investimento na área da Defesa, em linha com os objetivos traçados pelos Estados-membros da NATO.
No entanto, no seu currículo não há passagens pelo Ministério da Defesa ou ligações à área da segurança. Só se pode imputar a Mark Rutte o esforço coletivo do seu Governo para aumentar o investimento na área da Defesa, em linha com os objetivos traçados pelos Estados-membros da NATO.
Felicitações de Zelensky
Um
dos maiores apoiantes da decisão dos aliados foi por isso o presidente
ucraniano.
Volodymyr Zelensky reagiu
na sua conta da rede social X, felicitando o sucessor de Stoltenberg e prometendo que a Ucrânia continuará a trabalhar afincadamente
"pela liberdade" na "comunidade euro-atlântica".
"Esperamos
que o nosso trabalho conjunto para garantir a proteção das pessoas e da
liberdade em toda a nossa comunidade euro-atlântica continue a bom
ritmo", declarou Zelensky, acrescentando ver no neerlandês um homem
"firme e de princípios, que demonstrou a sua firmeza e visão para o
futuro em numerosas ocasiões ao longo dos últimos anos".
Na sua mensagem, o chefe de Estado ucraniano agradeceu ainda a Stoltenberg pelo seu trabalho à frente da NATO, organização cujos Estados-membros têm sido decisivos na ajuda fornecida à Ucrânia para combater a invasão russa, em curso desde fevereiro de 2022.
Destacou, assim o "notável contributo para o fortalecimento da NATO" do ex-primeiro-ministro norueguês nos últimos dez anos e, em especial, "o inquebrantável apoio à luta da Ucrânia pela liberdade".
E Trump?
Na sua mensagem, o chefe de Estado ucraniano agradeceu ainda a Stoltenberg pelo seu trabalho à frente da NATO, organização cujos Estados-membros têm sido decisivos na ajuda fornecida à Ucrânia para combater a invasão russa, em curso desde fevereiro de 2022.
Destacou, assim o "notável contributo para o fortalecimento da NATO" do ex-primeiro-ministro norueguês nos últimos dez anos e, em especial, "o inquebrantável apoio à luta da Ucrânia pela liberdade".
Na leitura do investigador de Ciência Política, Manuel Poejo Torres, consultor da NATO, Mark é o homem certo.
Manuel Poejo Torres diz que Mark Rutte pode ser ainda mais fundamental se Donald Trump voltar a ser presidente dos Estados Unidos.
Trump gosta do novo secretário-geral da NATO e isso pode fazer a diferença no relacionamento.
Já se Joe Biden for reeleito como presidente dos Estados Unidos, as boas relações estão garantidas. Biden afirmou considerar que Mark Rute, dará um "excelente" secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte.
John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional norte-americano, afirmou enretanto a gratidão dos Estados Unidos com o chefe cessante da NATO, Jens Stoltenberg, sob cuja liderança a Aliança "cresceu e se fortaleceu" com uma "unidade sem precedentes" entre os seus 32 países membros.
com Lusa