Mariana Mortágua: De braço direito de Catarina Martins a líder do Bloco de Esquerda

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
António Cotrim - Lusa

Mariana Mortágua é oficialmente o novo rosto do Bloco de Esquerda, tendo sido eleita líder do partido na XIII Convenção, que decorreu este fim-de-semana. A bloquista entrou para a política com 27 anos e sucede assim a Catarina Martins, que já tinha anunciado que não iria renovar a sua candidatura, colocando um ponto final à liderança de uma década.

Nesta convenção, Mariana Mortágua e a lista de continuidade que apresentava à Mesa Nacional conseguiu 67 dos 80 lugares. Uma vitória esmagadora perante lista de Pedro Soares, que ficou com 13 lugares na Mesa Nacional do Bloco de Esquerda.

A moção A, de Mariana Mortágua, foi a mais votada na Convenção Nacional do Bloco de Esquerda, tendo alcançado 439 votos. A moção E, de Pedro Soares, reuniu 78 votos.
A nova coordenadora do Bloco
A 14 de fevereiro, Catarina Martins anunciou que iria deixar a liderança do Bloco de Esquerda, ao fim de dez anos à frente do partido.

Catarina Martins garantiu que não foi o mau resultado nas últimas eleições que determinou a saída da liderança e justificou a mudança no partido com um novo ciclo político no país.

Após a notícia da saída de Catarina Martins, não foi difícil imaginar quem lhe sucederia. Mariana Mortágua, que tem sido o braço direito de Catarina Martins, foi desde logo apontada como a provável sucessora, com a própria coordenadora cessante do partido a admitir, em entrevista à RTP, que seria “seguramente um bom nome”.

Pedro Filipe Soares, atual líder parlamentar do BE que em 2014 concorreu contra Catarina Martins, rejeitou desde logo ser candidato à liderança do partido. Marisa Matias, que liderou vários combates eleitorais pelo Bloco, também disse estar indisponível para avançar com uma candidatura.

Nascida no Alvito a 24 de junho de 1986, Mariana Mortágua entrou para a esfera política desde nova, tendo dado início ao seu papel como deputada do BE na Assembleia da República em 2013, aos 27 anos, em substituição de Ana Drago no círculo eleitoral de Lisboa. Mortágua tornou-se, assim, na mais nova parlamentar daquela legislatura. É filha de Camilo Tavares Mortágua, um antifascista que lutou contra a ditadura do Estado Novo, tendo fundado a Liga de Unidade e Ação Revolucionária (LUAR). Em junho de 2005 foi condecorado com o grau de Grande Oficial da Ordem da Liberdade da República Portuguesa. Mariana é irmã gémea de Joana Mortágua, também deputada do Bloco de Esquerda.

É licenciada e mestre em Economia pelo ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa. Depois de terminar a licenciatura e o mestrado em Lisboa, Mariana Mortágua rumou ao Reino Unido onde concluiu o doutoramento em Economia na School of Oriental and African Studies, da Universidade de Londres.

No seu currículo, Mariana Mortágua conta ainda com algumas obras publicadas na área da economia, duas delas em coautoria com o fundador e ex-líder do BE, Francisco Louçã.

Mariana começou por afirmar-se como o rosto do Bloco de Esquerda para as questões económicas e financeiras. Mais tarde, ganhou protagonismo na política com o seu papel nos vários inquéritos parlamentares, especialmente sobre a gestão do GES e do BES, quando confrontou Zeinal Bava e Ricardo Salgado.
Fazer do BE "a mais forte oposição ao Governo"
Duas semanas depois do anúncio de Catarina Martins, Mariana Mortágua desfazia as dúvidas e formalizou a sua candidatura à coordenação do Bloco, contando desde logo com o apoio de Fernando Rosas, um dos fundadores do partido.


Em conferência de imprensa na sede nacional do BE, a 27 de fevereiro, Mariana Mortágua apresentou a moção que levou à convenção do partido este sábado, que foi subscrita por 1300 militantes do BE, nomeadamente por Catarina Martins.

Mortágua teceu várias críticas ao atual Governo e colocou como fasquia ser uma “alternativa à esquerda”. "É preciso levar o país a sério", afirmou a agora líder do BE, deixando críticas tanto ao PS como ao PSD.


“O Bloco de Esquerda será a mais forte oposição ao governo, por representar a democracia contra a desigualdade e o ecossocialismo contra a destruição”, lê-se na moção.

Aos socialistas, aponta-lhes uma maioria absoluta que não cumpre o que prometeu e acusa o PS de ter desistido e só “atirar promessas para cima dos problemas”.

"Não há no país nem mais diálogo, nem mais estabilidade", afirmou, criticando a “arrogância, intransigência, instabilidade”, a "roda-viva de ministros" e a instabilidade a que os socialistas não conseguem dar resposta.


“A maioria absoluta do PS é um governo de desgaste rápido que mantém privilégios e opacidade enquanto agrava a desigualdade e o empobrecimento do povo”, lê-se na moção A de Mortágua, intitulada “Uma força, muitas lutas”.

Na moção, a bloquista afirma ainda que o PS “encontrou no crescimento do Chega a fórmula eleitoral para tentar salvar a sua maioria absoluta”.

“A tranquilidade do PS é de achar que perante um PSD perdido e sem programa, pode usar o medo da extrema-direita para lhe garantir uma maioria absoluta perpétua”, afirmou a nova líder do BE.

A economista sublinhou que o partido pretende dar um horizonte de esperança às pessoas e deixa uma "ameaça" a quem “tem ganhado com a crise”: “Não estamos aqui para vos agradar ou dar sossego".
“Não estamos condenados ao vexame que a maioria absoluta impõe”
No seu discurso no arranque da XIII Convenção Nacional do Bloco de Esquerda, no sábado, Mariana Mortágua intensificou as críticas ao executivo de António Costa.

A agora líder do BE defendeu que os portugueses não estão condenados ao "vexame" da maioria absoluta e garantiu que o país poderá contar com uma "esquerda intransigente e que sabe fazer as contas que contam".

“Há um ano sabíamos bem quais eram os riscos de uma maioria absoluta. Prepotência, conluio com os poderes mais opacos deste país, mas não imaginávamos a que ponto chegaria a maldição que é o poder absoluto”, salientou.
Mariana condenou o que apelida de “espetáculo horroroso” do Governo nas últimas semanas e considerou que o “pântano supera-se com democracia e não com uma chantagem ridícula que acusa de populista qualquer voz crítica do PS ou do Governo”.

"Levar o país a sério é dizer ao povo que não estamos condenados à degradação e ao vexame que a maioria absoluta impõe a Portugal", afirmou.

Mariana Mortágua garantiu que o Governo terá pela frente “uma esquerda intransigente e que sabe fazer as contas que contam”. Na opinião da candidata, "o dever da esquerda é recuperar forças, unir as vontades sociais que não desistem de lutar por uma vida boa".

No seu discurso no dia em que formalizou a sua candidatura à liderança do partido, Mariana deixou também elogios à líder cessante. “Ela foi a melhor porta-voz em tempos tumultuosos”, disse Mortágua, afirmando que apesar de ter decidido não renovar o seu mandato como coordenador do Bloco, “vai continuar” a marcar o Bloco “com a sua consistência e a sua força”.

Catarina Martins agradeceu a Mortágua nas redes sociais e retribuiu o elogio. “Não há quem duvide da preparação, capacidade de trabalho e competência da Mariana. Sei que agora provará ao país o que eu já conheço tão bem: a generosidade e entrega em cada um dos combates por um país mais justo”, escreveu a coordenadora cessante do BE no Twitter.


Em entrevista à Lusa nas vésperas da XIII Convenção, Catarina Martins considerou que Mariana Mortágua “está mais preparada” e tem mais experiência” do que aquela que a coordenadora cessante tinha quando assumiu a liderança do BE.

Catarina Martins antecipa "um Bloco muito combativo" com a liderança de Mariana Mortágua. “Mariana Mortágua está muito mais preparada do que eu estava”, diz Catarina Martins

“Acho que a Mariana tem tanto a preparação como a combatividade que é necessária neste período que estamos a atravessar. Tenho a certeza de que o fará muito melhor do que eu faria agora", sublinhou.


"A Mariana é uma pessoa muito bem preparada, com uma enorme capacidade e a coordenação dela será necessariamente diferente da minha, mas corresponderá a este momento político e eu tenho a certeza que vai ser muito bem-sucedida”, acrescentou.

Pedro Soares, antigo deputado e dirigente do Bloco de Esquerda, foi a figura principal da moção dos críticos da atual direção, tendo sido o rosto de alternativa a Mariana Mortágua nesta convenção.
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