Marcha militar curta, sem discursos nem mísseis. Coreia do Norte celebra fundação do país
Foi durante a madrugada de quarta para quinta-feira que a Coreia do Norte celebrou o 73.º aniversário da sua fundação com um desfile militar mais discreto na capital, segundo informaram os meios de comunicação estatais, que divulgaram imagens de pessoas a desfilar com um fato laranja de proteção biológica e química. O líder norte-coreano, Kim Jong-un, esteve presente nas celebrações, mas não terá proferido nenhum discurso como nos anos anteriores.
Alguns analistas políticos consideraram improvável que o regime apresentasse armamento pesado nesta ocasião, dada a curta duração do desfile (apenas uma hora) e depois de imagens de satélite não mostrarem a presença de grandes veículos militares nos ensaios da celebração. Horas antes de os meios de comunicação social norte-coreanos terem noticiado o desfile, os serviços secretos militares da Coreia do Sul detetaram atividade, indicando que o desfile militar tinha começado em Pyongyang após a meia-noite .
"Os detalhes específicos [do desfile] estão a ser analisados em estreita cooperação entre os serviços secretos sul-coreanos e norte-americanos", disse a agências um porta-voz dos Chefes do Estado-Maior Conjunto da Coreia do Sul.
O líder norte-coreano presidiu o desfile, ladeado pelos outros quatro membros fortes do partido único norte-coreano - incluindo o militar Pak Jong-chon, nomeado nesta semana membro do núcleo duro do partido -, embora durante o evento não tenha feito nenhum discurso, contrariamente a anos anteriores, segundo noticiaram a agência noticiosa estatal KCNA e o jornal Rodong. Quem discursou foi Ri Il-hwan, membro do comité central do Partido dos Trabalhadores, que insistiu que o país investirá no aumento de seu exército até "transformar todo o país numa fortaleza".
Desfile ao vivo e sem máscaras
De facto, a Coreia do Norte não confirmou nenhum caso de Covid-19, mas fechou fronteiras e impôs medidas de prevenção rígidas logo após o surgimento dos primeiros casos na vizinha China no início de 2020, assumindo a pandemia como uma questão de sobrevivência nacional.
Embora não tenham sido transmitidas imagens, os media norte-coreanos relataram que nas celebrações participaram também a banda militar e a unidade de emergência para a prevenção de doenças. Além das figuras laranjas, não se vislumbraram mais imagens de pessoas com máscaras, sendo que a Coreia do Norte não divulgou a existência de grandes surtos de covid-19 até ao momento.
Yang Moo-jin, professor da Universidade de Estudos da Coreia do Norte em Seul, disse ao Guardian que a perceção da ausência de armas estratégicas e o foco nas forças de segurança pública mostraram que Kim Jong-un está focado nas questões internas como a Covid-19 e a situação económica do país.
"O desfile parece ser estritamente planeado como um festival nacional com o objetivo de promover a unidade nacional e a solidariedade do regime", disse Yang. "Não havia armas nucleares e Kim não deixou uma mensagem durante as celebrações, o que poderia ser feito para manter o evento discreto e deixar espaço de manobra para futuras negociações com os Estados Unidos e a Coreia do Sul".