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Mão russa no Facebook chegou a mais de 120 milhões de americanos

por Carlos Santos Neves - RTP
Segundo os dados da rede social de Mark Zuckerberg, foram produzidos 80 mil <i>posts</i> com origem na Rússia antes e depois da eleição que levou Trump à Casa Branca Dado Ruvic - Reuters

Oitenta mil posts produzidos antes e depois da eleição que transportou Donald Trump para a Casa Branca, em 2016. Um público-alvo de pelo menos 126 milhões de norte-americanos. São estes os mais recentes números do que se afigura cada vez mais como uma operação de grande escala disseminada nas redes sociais a partir da Rússia. Dados agora libertados pelo Facebook.

Os números foram divulgados pela organização de Mark Zuckerberg na antecâmara de uma audição no Senado sobre o braço russo que alegadamente se estendeu pelas redes sociais durante o processo de sucessão de Barack Obama na Presidência.

Responsáveis pelo Facebook, pelo Twitter e pela Google são chamados esta semana a três comités no Capitólio.As autoridades russas negam desde a primeira hora qualquer tentativa de influenciar a eleição presidencial norte-americana em prol de Donald Trump.


Reportados pela agência Reuters e pelo diário norte-americano The Washington Post, os últimos dados do Facebook vêm consubstanciar a tese de uma verdadeira ofensiva online, tendo como ponto de partida uma estrutura russa conotada com o Kremlin – a obscura Agência de Pesquisa na Internet.

Trata-se de 80 mil posts publicados entre junho de 2015 e agosto de 2017, a maioria a comportar mensagens fraturantes de teor social ou político, com particular ênfase em questões raciais. Uma prática da qual a cúpula da rede social tenta agora demarcar-se, começando por argumentar que esta é uma pequena fração do oceano de conteúdos que todos os dias inunda smartphones, tablets e computadores.

“Estas ações vão em sentido contrário à missão do Facebook de construir comunidade e a tudo o que representamos. E estamos determinados a fazer tudo o que pudermos para lidar com esta nova ameaça”, escreveu Colin Stretch, vice-presidente da rede, num testemunho ao Congresso citado pela Reuters.

Por sua vez, os responsáveis pelo Twitter terão apurado a existência de 2.752 contas associadas a elementos russos, ainda segundo a agência noticiosa. A primeira artimética, em setembro, não ia além das 201 contas.

“A manipulação de eleições sancionada pelo Estado por parte de sofisticados atores estrangeiros é para nós um novo desafio que estamos determinados a enfrentar”, comprometem-se os responsáveis pela rede dos 140 caracteres, num testemunho por escrito igualmente citado pela Reuters.

Já a Google, detida pela Alphabet, revelou na segunda-feira ter detetado, durante o ciclo eleitoral nos Estados Unidos, despesas russas de 4700 dólares em anúncios online relacionados com o processo. O motor de busca tenciona mesmo desenvolver uma base de dados com estes conteúdos.
“Fantasias”

Os números das redes sociais surgem num contexto de desenvolvimentos significativos na investigação, em Washington, à alegada interferência russa na eleição presidencial tendo em vista a derrota de Hillary Clinton - a cargo do procurador Robert S. Mueller III.

Nas últimas horas a malha das diligências do procurador especial apanhou Paul Manafort, ex-diretor de campanha de Trump, o seu associado Rick Gates e George Papadopoulos, ex-conselheiro de política externa do Presidente.

Em causa estão acusações de conspiração contra os Estados Unidos.

Márcia Rodrigues, correspondente da RTP em Washington

Os dois primeiros declararam-se inocentes. O terceiro deu-se como culpado de prestar falsas declarações ao FBI sobre os seus contactos com um cidadão estrangeiro supostamente ligado a altos responsáveis de Moscovo.

Já esta terça-feira, em declarações repercutidas pela agência Interfax, o ministro russo dos Negócios Estrangeiros desvalorizou, uma vez mais, as alegações de interferência em eleições, quer nos Estados Unidos, quer na Europa. “Fantasias”, contrapõe Serguei Lavrov.

“Sem uma única prova, estamos, como sabem, a ser acusados de interferir não só na eleição dos Estados Unidos, mas também nas de Estados europeus. Recentemente, houve uma alegação de que Moscovo decidira qual o ministro a nomear na África do Sul. Geralmente, não há limites para a fantasia”, afirmou.
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