Manobras militares da China em torno de Taiwan entram no segundo dia

por RTP
Os exercícios militares nas águas ao redor da ilha levaram alguns navios a afastarem-se do Estreito de Taiwan para evitarem confrontos com as forças chinesas. Ritchie B. Tongo - EPA

As manobras militares da China com fogo real em redor de Taiwan, na sequência da visita à ilha da congressista norte-americana Nancy Pelosi, entraram esta sexta-feira no segundo dia. Cerca de uma dezena de navios da Marinha chinesa e 20 aeronaves militares atravessaram brevemente a linha mediana do Estreito de Taiwan, ou seja, a divisão entre as duas regiões.

Segundo fonte da agência Reuters, os dez navios permanecem na área que, tecnicamente, pertence a Taiwan.

De acordo com a agência de notícias Efe, as atenções estão também viradas para dois porta-aviões da marinha chinesa, o Liaoning e o Shandong, que, apesar de ainda não terem sido avistados a participar nos exercícios, já não se encontram nos portos de origem.

Os exercícios militares nas águas em redor da ilha levaram alguns navios a afastarem-se do Estreito de Taiwan para evitarem confrontos com as forças chinesas, acrescentando assim um dia aos seus percursos e perturbando algumas das principais rotas comerciais.

Especialistas alertam que este é um exemplo do impacto grave que o conflito em torno de Taiwan pode ter no comércio global, tendo em conta que a extensão de 180 quilómetros do Estreito de Taiwan faz parte de algumas das maiores rotas de navios que transportam bens desde a Ásia para a Europa e Estados Unidos.

“Alguns navios já tomaram precauções e estão a seguir para o leste da ilha, em vez de navegarem pelo Estreito de Taiwan”, explicou a agências internacionais o analista Niels Rasmussen, da organização de operadores do transporte marítimo internacional BIMCO.

Entretanto, especialistas citados pelo jornal de Hong Kong South China Morning Post sugeriram que o Exército de Libertação Popular (exército chinês) poderá fazer ainda esta sexta-feira uso de bombardeiros com mísseis de cruzeiro de longo alcance, como os CJ-20.
“O vizinho maléfico”
Em resposta às ações chinesas, o Ministério da Defesa de Taiwan disse esta sexta-feira ter enviado aeronaves e navios para a zona da linha mediana e destacado sistemas terrestres de mísseis para monitorizar a situação. O Governo da ilha insistiu que não está à procura de uma guerra, mas que vai continuar a preparar-se para o caso de ela acontecer.

O primeiro-ministro taiwanês, Su Tseng-chang, não comentou diretamente o lançamento de mísseis pela China, mas referiu-se a essa nação asiática como “o vizinho maléfico que está a demonstrar o seu poder à nossa porta”.

Alguns habitantes da capital Taipé, incluindo o presidente da Câmara, Ko Wen-je, criticaram o executivo da ilha por não emitir um alerta de mísseis. Um especialista da área da segurança explicou à Reuters que tal pode não ter acontecido para evitar lançar o pânico entre a população e para não entrar no “jogo” de Pequim.

“Isto neutralizou o efeito da guerra psicológica do Partido Comunista Chinês”, considerou Mei Fu-shin, analista dos Estados Unidos. “Assim, o choque e o medo não foram tão grandes como poderiam ter sido”.

Efetivamente, a reação da população ao lançamento de mísseis pela China foi comedida. “Foi como um acontecimento normal. Não senti nada de diferente”, contou o habitante Ping Chung, dono de um hotel na ilha de Liuqiu, perto de uma das áreas onde a China está a conduzir exercícios militares.
Taiwan encerrou espaço aéreo e marítimo em seis áreas
A China lançou na quinta-feira os maiores exercícios militares da História ao redor de Taiwan, um dia depois de a presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, ter visitado a ilha e enfurecido, assim, Pequim, que reclama a soberania do território.

Os exercícios de quinta-feira, que levaram ao encerramento do espaço aéreo e marítimo em seis áreas à volta da ilha, incluíram a prática de tiro ao alvo com artilharia de longo alcance, com "múltiplos tipos de mísseis convencionais", bem como a mobilização aérea de dezenas de aviões militares, incluindo caças e bombardeiros.

Trata-se da primeira vez que são levados a cabo lançamentos do género nas proximidades de Taiwan, desde a Terceira Crise do Estreito de Taiwan, entre 1995 e 1997, uma das três graves crises militares nesta área geográfica, após os nacionalistas do Kuomintang se terem retirado para a ilha em 1949, depois de perderem a guerra civil contra os comunistas de Mao Zedong.

Apelando à contenção da China, a presidente taiwanesa, Tsai Ing-wen, pediu o apoio da comunidade internacional e disse que Taiwan não vai contribuir para a escalada da tensão, mas que defenderá a sua soberania.

c/ agências
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