Mali. Junta militar nomeia general Abdoulaye Maïga como primeiro-ministro

por Lusa

A junta militar do Mali nomeou hoje como primeiro-ministro o general Abdoulaye Maïga, em substituição do civil Choguel Kokalla Maïga, demitido na quarta-feira após ter criticado o regime, anunciou a televisão estatal.

"O major-general Abdoulaye Maïga é nomeado primeiro-ministro", lê-se num decreto emitido pelo chefe da junta militar, general Assimi Goïta, e lido pelo secretário-geral da Presidência, Alfousseyni Diawara.

Abdoulaye Maïga era anteriormente o porta-voz do Governo. É um dos rostos mais públicos da junta, responsável pela leitura e, algumas vezes, pela explicação da maior parte dos anúncios do Governo.

Inicialmente, não fazia parte do primeiro círculo de coronéis que derrubaram o Presidente civil em agosto de 2020 e que, desde então, foram promovidos ao posto de general. Mas rapidamente se juntou a estes.

A substituição de Choguel Kokalla Maïga, cuja nomeação em 2021 foi vista como uma espécie de garantia civil, parece confirmar o domínio dos militares sobre o poder e, desta forma, não honra o compromisso, inicialmente assumido sob pressão internacional, de entregar o poder a civis eleitos em março de 2024.

Não há nenhum prazo fixado a este respeito.

No mesmo dia em que a junta militar do Mali demitiu o primeiro-ministro civil, Choguel Kokalla Maïga, e o Governo, um coletivo de 18 grupos da oposição do país apelou à "libertação imediata" de todos os presos políticos no Mali e denunciou as restrições às liberdades impostas pela junta militar.

Num comunicado divulgado ao início da noite de quarta-feira, o grupo lamenta que 11 dos seus dirigentes estejam detidos "ilegalmente" desde 11 de julho, apesar de uma decisão judicial que ordenou a sua libertação.

Os políticos foram detidos durante uma reunião numa casa privada, a 24 de junho, e acusados de tentativa de pôr em perigo a segurança interna do Estado e de perturbação da ordem pública, entre outras acusações.

O agrupamento inclui partidos como o Renascimento Nacional (Parena), a Nova Esperança para o Mali (Nema) e o Partido Socialista, entre outros movimentos que se opõem à junta militar na sequência do golpe de Estado de 2020 e exigem o restabelecimento da ordem constitucional.

O grupo denuncia igualmente a "instrumentalização política" da Alta Autoridade da Comunicação (HAC, o órgão estatal de regulação dos meios de comunicação social), que impediu a publicação de declarações de dirigentes políticos e suspendeu a difusão de alguns meios de comunicação social internacionais no país.

A 11 de abril, a HAC emitiu um decreto proibindo a rádio, o audiovisual e os meios de comunicação escritos do Mali de difundir declarações dos partidos políticos, depois de a junta militar ter decidido suspender a atividade destas organizações políticas.

O Mali, país que está confrontado com o fundamentalismo islâmico e uma profunda crise social, política e económica, está a sofrer cada vez mais ataques terroristas por parte de grupos leais à Al-Qaida e ao Estado Islâmico, e há meses que vive um novo conflito aberto com os independentistas do norte do país (Azawad), que declararam guerra à junta após dez anos de paz.

Tópicos
PUB