O governo do Mali criou um órgão de diálogo puramente nacional para tentar estabelecer a paz, depois de formalizar o fim de um grande acordo alcançado em 2015 com grupos armados no norte sob mediação internacional e argelina.
De acordo com um decreto publicado na sexta-feira à noite e assinado pelo chefe da junta militar, Assimi Goïta, o Comité do diálogo inter-maliano para a paz "é responsável pela preparação e organização" das conversações.
A criação deste comité concretiza a denúncia do chamado acordo de paz de Argel, assinado em 2015 pelo governo civil de então com os grupos independentistas do norte, predominantemente tuaregues.
O acordo foi durante muito tempo considerado um fator-chave para a estabilização do país, mergulhado em turbulências de segurança desde 2012.
Na quinta-feira, a junta formalizou o fim deste acordo, que está moribundo há meses, num clima de tensão diplomática com a vizinha Argélia.
Após meses de deterioração das relações com Bamako, os grupos independentistas que assinaram o acordo de Argel retomaram as hostilidades em 2023.
O Mali continua também a ser assolado pelas atividades dos `jihadistas` da Al-Qaeda e do grupo terrorista Estado Islâmico.
A morte oficial do acordo de Argel é mais um ato de rutura dos coronéis que tomaram o poder pela força em 2020: romperam a sua aliança com a França e os seus parceiros europeus, viraram-se militar e politicamente para a Rússia e empurraram a missão da ONU (Minusma) pela porta fora.
"De agora em diante, não haverá mais negociações fora de Bamako. Não vamos mais (...) a um país estrangeiro para falar dos nossos problemas", declarou Choguel Kokalla Maïga, chefe do governo instalado pelos militares, num vídeo publicado nas redes sociais na sexta-feira.
O Quadro Estratégico Permanente, uma aliança de grupos armados que assinaram o acordo de 2015 antes de voltarem a pegar em armas, "regista a decisão da junta".
"Esta decisão põe totalmente em causa todos os princípios" da unidade do Mali consagrados no acordo de Argel, refere o comunicado. E a estrutura pede aos seus membros que "revejam e atualizem os seus objetivos respetivos para fazer face a esta nova situação".