Malcolm X. Dois condenados pelo assassinato vão ser inocentados

por RTP
Malcolm X foi assassinado a 21 de fevereiro de 1965 DR

A condenação de dois homens, em 1966, pela morte do líder da luta pelos direitos civis vai ser anulada, avançou a procuradoria de Manhattan. "Estes homens não tiveram direito à justiça que mereciam", justificou o procurador Cyrus Vance, acrescentado que agora é preciso "reconhecer este erro".

A procuradoria de Manhattan confirmou a realização, esta quinta-feira, de uma conferência de imprensa sobre a “anulação das condenações injustificadas de duas pessoas pela morte de Malcolm X”. Uma terceira pessoa foi também condenada pelo assassinato.

O líder da luta pelos direitos civis foi assassinato há mais de 50 anos, a 21 de fevereiro de 1965, quando ia começar a discursar no salão de Audubon, no Harlem.

De acordo com o jornal The New York Times, em causa está inocentar Muhammad A. Aziz, agora com 83 anos, e Khalil Islam, que morreu em 2009. No julgamento de 1966, Islam, que foi motorista de Malcolm X, foi acusado de ter sido o autor dos disparos fatais.

Aziz saiu da prisão em 1985 e Khalil Islam foi libertado em 1987, após ter cumprido a pena. Os dois faziam parte do movimento Nação do Islão, do qual Malcolm X chegou a ser um dos líderes, mas que abandonou num contexto de tensão.

O Innocence Project, uma organização que luta contra os erros judiciais, é a autora do pedido de anulação das condenações de 1966 junto do Supremo Tribunal de Nova Iorque, juntamente com a procuradoria e os advogados dos dois homens.

A procuradoria reabriu o processo em fevereiro de 2020 na sequência do documentário exibido na Netflix Quem matou Malcolm X?. Após 22 meses de investigação, a procuradoria e os advogados dos dois condenados concluíram que o FBI e a Polícia de Nova Iorque “ocultaram provas cruciais que, se tivessem sido conhecidas, teriam provavelmente conduzido à absolvição dos dois homens”.

O que podemos fazer é reconhecer este erro, a gravidade deste erro”, comentou o procurador Cyrus Vance relativamente à discriminação e injustiça que a condenação dos dois homens negros muçulmanos, com base em provas frágeis, representa.

De acordo com o NYT, um grande número de documentos do FBI implicava outros suspeitos e as notas dos procuradores provam que omitiram a divulgação da presença de agentes infiltrados na sala no momento do tiroteio. 

Nos arquivos da Polícia foram encontradas referências ao telefonema que um repórter do The New York Daily News recebeu na manhã do tiroteio a dizer que Malcolm X seria assassinado. Também foi ignorada uma testemunha, ainda viva, a confirmar o alibi de Aziz, garantindo que ele estava em casa à hora do assassinato.

Em fevereiro passado, o teor de uma carta póstuma de um polícia levou as filhas de Malcolm X a pedirem a reabertura da investigação. Na carta, o antigo polícia dizia que, a pedido da sua hierarquia, prendeu dois dos guarda-costas de Malcolm X poucos dias antes do assassinato para deste modo enfraquecer a segurança do líder da luta pelos Direitos Civis.
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