A prémio Nobel da Paz Malala Yousafzai defendeu na terça-feira que o mundo tem de reconhecer e enfrentar o "apartheid de género" que os talibãs impuseram às mulheres e raparigas do Afeganistão desde 2021.
"Foi preciso uma bala na minha cabeça para que o mundo ficasse do meu lado. O que será preciso para que o mundo fique do lado das raparigas no Afeganistão?", afirmou, citada pela agência norte-americana AP.
Malala, como é conhecida, foi galardoada em 2014, aos 17 anos, pela luta pela educação das raparigas no país natal, o Paquistão, sendo a mais jovem laureada com o prémio Nobel.
Dois anos antes, sobreviveu a uma tentativa de assassinato pelos talibãs paquistaneses -- um grupo militante distinto, mas aliado dos talibãs afegãos -- quando foi baleada na cabeça num autocarro depois da escola.
A ativista de 26 anos proferiu a conferência anual de Nelson Mandela em Joanesburgo, no 10.º aniversário da morte do líder sul-africano anti-apartheid e laureado com o Prémio Nobel.
Tornou-se a pessoa mais jovem a proferir a conferência, seguindo os passos de anteriores oradores, incluindo o antigo Presidente Barack Obama, o secretário-geral da ONU, António Guterres, e o filantropo e fundador da Microsoft, Bill Gates.
Malala exortou a comunidade internacional a tomar medidas coletivas e urgentes para pôr fim aos "dias negros" no Afeganistão.
Desde a tomada de poder, em 2021, os talibãs proibiram a educação das raparigas para além do sexto ano e impuseram severas restrições às mulheres, impedindo-as de trabalhar e de frequentar a maioria dos espaços públicos.
Tal como na primeira vez em que governaram o Afeganistão (1996-2001), os talibãs procuram impor uma interpretação estrita da lei islâmica, ou `sharia`.
Malala dedicou o discurso às mulheres e raparigas afegãs, na esperança de voltar a centrar a atenção do mundo na sua opressão, no meio das guerras em Gaza e na Ucrânia.
"O Afeganistão só tem visto dias negros depois de ter caído nas mãos dos talibãs. Passaram dois anos e meio e a maioria das raparigas não voltou a ver a escola", disse à AP.
Malala apelou às Nações Unidas para que "reconheçam que o atual estado do Afeganistão é um apartheid de género" e citou relatos recentes de "mulheres detidas, colocadas em prisões, espancadas e até submetidas a casamentos forçados".
Elogiou a atribuição do Prémio Nobel da Paz deste ano à ativista iraniana dos direitos das mulheres Narges Mohammadi, que continua detida na prisão de Evin, em Teerão.
Os filhos de Mohammadi deverão receber a medalha e o diploma do Prémio Nobel em seu nome no domingo.
"Quando vemos mais mulheres a serem apreciadas pelos esforços incansáveis para fazer justiça, para lutar contra a opressão e para lutar contra a discriminação de género, isso dá-nos esperança porque percebemos que não estamos sozinhas", afirmou Malala.
A ativista apelou também a um cessar-fogo imediato na guerra entre Israel e o Hamas, e lamentou que "se tenham perdido tantas vidas de crianças e mulheres" na Faixa de Gaza sitiada pelo exército israelita.