Mais militares e académicos israelitas pedem regresso de reféns mesmo que custe fim da guerra
Mais de 1.600 ex-paraquedistas e soldados de infantaria do Exército israelita e 3.500 académicos israelitas assinaram cartas instando à libertação dos reféns ainda que tal implique o fim da guerra em Gaza, noticiou hoje a imprensa local.
"Nós, os combatentes e comandantes das unidades de paraquedistas e de infantaria, cuja bandeira diz: `Não deixamos feridos no campo de batalha`, exigimos a libertação dos reféns, ainda que tal implique acabar com os combates. Trata-se de um apelo para salvar vidas", lê-se na carta dos militares, citada pelo diário israelita Yediot Ahronot.
Pouco depois, o jornal progressista Haaretz publicou uma carta de 3.500 académicos israelitas que se juntaram "ao apelo feito pelos membros da Força Aérea" para exigir o regresso dos reféns "sem demora, mesmo que o preço seja pôr fim à guerra imediatamente".
As cartas de hoje somam-se às já assinadas por um grupo de 3.000 professores e 1.000 pais, além de cerca de 1.500 militares de unidades blindadas, segundo o Haaretz.
Também assinaram cartas grupos de médicos reservistas, antigos membros dos serviços secretos militares e da Mossad (serviços secretos externos israelitas), ex-membros da Marinha e aqueles que desencadearam este movimento nos últimos dias: um grupo de cerca de um milhar de reservistas e ex-reservistas da Força Aérea de Israel.
Estes foram os primeiros, cuja missiva foi publicada pelo Yediot Ahronot, na iniciativa para recuperar os 59 reféns ainda na Faixa de Gaza (dos quais, 24 ainda estão vivos, segundo as autoridades israelitas), depois de Israel ter quebrado a 18 de março o cessar-fogo alcançado com o movimento islamita palestiniano Hamas, desde 2007 no poder naquele enclave.
"Neste momento, a guerra serve sobretudo interesses políticos e pessoais, e não interesses de segurança. Continuar a guerra não contribuirá para nenhum dos seus objetivos declarados e levará à morte de reféns, soldados e civis inocentes, bem como ao esgotamento dos reservistas", sustentaram então.
O gabinete do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, acusou os signatários da primeira carta de serem "um grupo extremista marginal" que está a tentar destruir a sociedade israelita.
Este movimento de contestação surgiu num contexto de crescente descontentamento entre os reservistas do Exército israelita que, mais uma vez, enfrentam a possibilidade de serem convocados a integrar as fileiras, depois da quebra do cessar-fogo por Israel, após ano e meio de conflito em que veem o principal objetivo da guerra, a recuperação dos reféns, cada vez mais distante.
Israel declarou a 07 de outubro de 2023 uma guerra na Faixa de Gaza para "erradicar" o Hamas, horas depois de este ter realizado em território israelita um ataque de proporções sem precedentes, matando cerca de 1.200 pessoas, na maioria civis, e sequestrando 251.
A guerra naquele território palestiniano fez, até agora, mais de 50.980 mortos, na maioria civis, incluindo mais de 18.000 crianças, e mais de 111.000 feridos, além de cerca de 11.000 desaparecidos, presumivelmente soterrados nos escombros, e mais alguns milhares que morreram de doenças, infeções e fome, de acordo com números atualizados das autoridades locais, que a ONU considera fidedignos.
A situação da população daquele enclave devastado pelos bombardeamentos e ofensivas terrestres israelitas está ainda a agravar-se pelo facto de desde 02 de março Israel impedir a entrada em Gaza de alimentos, água, ajuda humanitária e medicamentos.
Há muito que a ONU declarou a Faixa de Gaza mergulhada numa grave crise humanitária, com mais de 1,1 milhões de pessoas numa "situação de fome catastrófica", a fazer "o mais elevado número de vítimas alguma vez registado" pela organização em estudos sobre segurança alimentar no mundo.
E, no final de 2024, uma comissão especial da ONU acusou Israel de genocídio naquele território palestiniano e de estar a utilizar a fome como arma de guerra - acusação logo refutada pelo Governo israelita, mas sem apresentar quaisquer argumentos.