Mais icebergues, menos focas. Aberta a época turística na Terra Nova

por Carla Quirino - RTP
Icebergue à deriva vindo da Groenlândia para o sul no Mar do Labrador, em Saint Lunaire-Griquet, Canadá Greg Locke - Reuters

O início da primavera na Ilha da Terra Nova e no mar da província do Labrador, no Canadá, vai trazer muitos turistas que querem ver de perto os icebergues. Porém, as temperaturas mais altas do que é normal reduziram a quantidade de gelo nas águas costeiras este ano, interferindo com a vida selvagem, nomeadamente ameaçando a população de focas.

Tudo a postos para os clicks das máquinas fotográficas dos turistas que procuram captar imagens únicas dos icebergues que descem pela costa de Newfoundland, ou Terra Nova.

De acordo com George Karaganis, analista de áreas geladas do Serviço Canadiano de Gelo (SCG), existem atualmente 30 a 40 icebergues perto de St. Anthony e 20 icebergues ao sul de Belle Isle. Outros dez a 15 icebergues estão a mover-se em direção às regiões de Baie Verte, Twilingate e Fogo.

Este degelo precoce abre caminho para os icebergues, que agora podem descer mais cedo pela costa da Terra Nova.
Alterações climáticas: mais icebergues, menos focas

O especialista do SCG da divisão do Serviço Meteorológico do Canadá, que é uma filial do Departamento de Meio Ambiente e Mudanças Climáticas do Canadá, explica que a quantidade de gelo nas águas costeiras este ano é significativamente menor do que o ano passado, isto porque “a temperatura média é quatro a cinco graus mais quente ao longo da costa do Labrador, e o gelo é 40 a 50 centímetros mais fino que o normal”.

Com a água ainda mais quente no Golfo de São Lourenço, a formação de gelo aconteceu um mês depois do normal nesta temporada. E quando se formou essa camada de gelo registou-se que era mais fina do que era suposto.

Icebergue em Saint Lunaire-Griquet, Terra Nova, Canada | Greg Locke - Reuters

Karaganis deixa claro que menos gelo impacta a vida selvagem e a própria terra, isto porque oferece menos proteção ao solo ao longo dos portos contra as águas violentas, o que pode causar alguma erosão.

“Esse gelo desapareceu rapidamente”, afirmou Karaganis, citado na CBC News. O derreter do gelo também “ameaça a população de focas, já que os recém-nascidos não são fortes o suficiente para sobreviver na água e são vulneráveis aos predadores”, acrescenta.

O aumento das temperaturas implica que a neve está a derreter mais rápido e as focas estão emergindo mais jovens. Normalmente, quando as focas se movem no gelo, os animais mais velhos são caçados pelos locais para comer deixando os mais novos crescer. Mas agora a geração de focas mais jovem está ameaçada, podendo uma maior parte chegar a adultos velhos.

De acordo com uma moradora da cidade de North West River, os caçadores normalmente procuram as focas mais velhas, “observando-se pelas pelagens escuras”. “Este ano surgiram peles mais brancas, indicando que foram caçadas focas mais jovens”, argumentou Mina Campbell. Acrescenta que “a caça às focas terminou mais cedo do que o normal devido à falta de gelo”.
A costa nordeste da Terra Nova
Para os operadores turísticos, a temporada que arrancou agora prevê-se muito movimentada, tanto de pessoas como de circulação dos gigantes de gelo.

Alguns dos primeiros icebergues do ano foram avistados em abril perto da cidade de Twillingate, na província canadiana de Terra Nova, na costa nordeste da ilha.


Saint Lunaire-Griquet, Terra Nova | Greg Locke - Reuters

Para Chris Scott, proprietário e operador da Twillingate Adventure Tours, “é encorajador nesta temporada ver icebergues no início da primavera”. "Tivemos um ano recorde no ano passado para observação de icebergues, mas este ano acho que ainda será melhor”.

O operador explica que as cartas de gelo mostram muitos icebergues indo para Twillingate e os ventos terrestres ajudam empurram-nos em direção à ilha – onde os turistas os aguardam.

Sempre que há muito vento de norte durante a primavera, aumenta a possibilidade de ter uma boa temporada de icebergues”, sublinha Scott.
Atração turística
Diane Davis, administradora da página do Facebook Newfoundland Iceberg Reports, relembra que os “icebergues podem trazer dinheiro para comunidades próximas, atraindo pessoas para cidades que de outra forma não teriam visitado”.


Turistas seguram um fragmento de icebergue, no mar do Labrador | Greg Locke - Reuters

A gestora de redes sociais acentua que “muitas pessoas não percebem o impacto económico dos icebergues”. Para promover essa experiência, “uma comunidade que tiver vista para um icebergue e for inteligente o suficiente, se não houver restaurante ou loja no local, coloque um ponto de venda de limonada com gelo de icebergue”, diz Davis.

“Vejo os rostos das pessoas a iluminarem-se quando veem icebergues. Eles vendem-se sozinhos, é uma experiência incrível”, remata Scott.
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