"Mais fardo do que trunfo". Norte-coreanos somam baixas na guerra entre Rússia e Ucrânia

por Cristina Sambado - RTP
O deputado Lee Seong-kweun refere "queixas entre o exército russo" de que as tropas da Coreia do Norte "são mais um fardo do que um trunfo". Anthony Wallace - Reuters

Os serviços secretos sul-coreanos revelaram esta quinta-feira que pelo menos 100 soldados enviados para combater com a Rússia contra a Ucrânia perderam a vida em combate e perto de mil ficaram feridos.

Em dezembro, eles participaram em combates reais, durante os quais ocorreram pelo menos 100 mortes”, revelou Lee Seong-kweun, deputado do PPP (Partido do Poder Popular), no poder na Coreia do Sul, durante uma conferência de imprensa destinada a partilhar dados recolhidos pelo Serviço Nacional de Infirmações (NIS).

“O NIS disse ainda que o número de baixas entre as tropas norte-coreanas deverá atingir cerca de mil”, acrescentou. 
Esta confirmação sul-coreana faz eco de relatos semelhantes lançados por Kiev e Washington.

Segundo Lee Seong-kweun, há informações de que “várias baixas norte-coreanas, incluindo oficiais de alta patente, ocorreram em ataques de mísseis e drones ucranianos, bem como em acidentes durante o treino”.

De acordo com o NIS, citado por Lee, o elevado número de baixas pode ser explicado pelo “ambiente desconhecido do campo de batalha, onde as forças norte-coreanas são utilizadas como unidades de assalto da linha da frente que podem ser sacrificadas, e pela sua falta de capacidade para contrariar os ataques de drones”.

O deputado referiu também “queixas entre o exército russo de que as tropas norte-coreanas, devido à sua falta de conhecimentos sobre drones, são mais um fardo do que um trunfo”.

De acordo com as chancelarias do Ocidente e as autoridades ucranianas, vários milhares de soldados norte-coreanos foram enviados para a Rússia nas últimas semanas, em apoio ao exército de Moscovo desde logo em Kursk. Por seu lado, o Kremlin sempre se esquivou às perguntas sobre o assunto.

Na terça-feira, o comandante chefe do exército ucraniano, Oleksander Syrsky, afirmou que o exército russo estava a levar a cabo “operações ofensivas intensas na região de Kursk, utilizando ativamente unidades do exército norte-coreano”, acrescentando que este último já tinha “sofrido pesadas perdas”.

No mesmo dia, um alto funcionário norte-americano, falando à AFP sob condição de anonimato, estimou as perdas norte-coreanas em “várias centenas”, “desde os feridos ligeiros até aos mortos em combate”. Também na terça-feira, os Estados Unidos e os seus aliados emitiram uma declaração conjunta denunciando “um perigoso alargamento” da guerra na Ucrânia e instando a Coreia do Norte a repatriar as suas tropas.

No início de agosto, a Ucrânia lançou uma ofensiva surpresa na região russa de Kursk, a maior ofensiva em território russo desde a II Guerra Mundial. A Ucrânia ainda controla uma pequena parte deste território.

A Coreia do Norte nunca confirmou ou negou a presença das suas tropas ao lado da Rússia. No entanto, na quinta-feira, o porta-voz do seu Ministério dos Negócios Estrangeiros descreveu as críticas de Washington ao apoio a Moscovo como uma “provocação irresponsável”.A Coreia do Norte e a Rússia reforçaram os laços militares desde que a Moscovo invadiu a Ucrânia, em fevereiro de 2022.

Um tratado histórico de defesa mútua entre Pyongyang e Moscovo, assinado em junho, entrou em vigor no início deste mês. Prevê “assistência militar imediata” em caso de agressão armada por parte de um país terceiro.

De acordo com o deputado sul-coreano, o Serviço Nacional de Infirmações está “a acompanhar de perto a possibilidade de novas deslocações de tropas norte-coreanas, antecipando que a Rússia poderá oferecer benefícios em troca, como a modernização do armamento convencional da Coreia do Norte”.
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